Rodrigo Maia manda no Brasil até outubro de 2018

Temer ofereceu ministério a protegido de Maia para agradar ao líder da câmara
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Alexandre Baldy pertence ao Partido Progressista, recordista de investigados na Operação Lava-Jato. Subiu na hierarquia da Câmara de Deputados graças à ligação a Eduardo Cunha, ex-chefe do Parlamento condenado a 15 anos de cadeia. Uma comissão parlamentar de inquérito de 2012 concluiu que prestou “importantes serviços” a uma quadrilha de jogo ilegal. Foi chamado de “menino de ouro” pelo líder dessa quadrilha, Carlinhos Cachoeira. O sogro e principal financiador de campanha está na mira da justiça por parceria com Cachoeira. Apesar deste currículo, Baldy assumiu na quarta-feira o Ministério das Cidades, um dos mais cobiçados do Brasil, com orçamento de 800 milhões de euros. Porquê?

Porque foi indicação de Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara dos Deputados, de quem Michel Temer depende. Para passar à história como chefe de Estado reformista e não mero interino, o presidente precisa de aprovar reformas, sendo a mais estrutural e impopular a da Segurança Social. Maia tem o poder de definir o calendário de votação, de influenciar os parlamentares e, finalmente, de engavetar ou desengavetar os pedidos de impeachment do presidente - a quem sucede, segundo a Constituição, em caso de afastamento. Por isso, até às eleições de outubro de 2018, é o político mais poderoso do Brasil.

Maia ajudou Temer nas votações das denúncias contra o presidente, em agosto e outubro. Mas, como o próprio resumiu, “em política não há amiguinhos”. Os deputados, de quem Maia é o representante, cobram agora a fatura em forma de nacos de poder - como o Ministério das Cidades. O ataque seguinte de Maia, garantem aliados, será a presidência do BNDES, banco de de-senvolvimento estatal que Temer cogita entregar a outro protegido dele.

Rodrigo Maia sabe do que fala quando fala de política: filho de Cesar Maia, prefeito do Rio de Janeiro por 12 anos, é casado com a enteada de Moreira Franco, um dos braços direitos de Temer. Nasceu há 47 anos em Santiago do Chile, onde o pai esteve exilado e de onde é natural a mãe. Mas aos 26 anos já exercia cargos executivos no Rio e aos 28 era deputado federal brasileiro. Desde 1998, foi sempre reeleito.

Para as eleições de 2018, sonha discretamente com a presidência ou, pelo menos, em seduzir um candidato - o atual ministro das Finanças, Henrique Meirelles, ou o comunicador Luciano Huck - que seja capaz de levar o seu partido, o Democratas, ao Planalto. Mas correligionários apontam-no como concorrente ideal a governador do Rio de Janeiro. Em setembro, numa viagem oficial de Temer à China, aproveitou ser presidente em exercício do Brasil para assinar um perdão fiscal ao Rio. No fim da cerimónia, chorou por ser “uma emoção muito grande ajudar o estado do Rio”.
Maia, como todos os poderosos de Brasília, não escapou da Lava-Jato: mensagens telefónicas levaram a polícia federal a concluir que há indícios de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ter sido o destinatário de perto de 300 mil euros da construtora OAS. É suspeito de receber suborno da construtora Odebrecht. E é investigado noutro caso por ter recebido da empresa de Marcelo Odebrecht doações não declaradas para a sua campanha, e a do seu pai. O nome de código de Maia nas planilhas da empresa é Botafogo, por causa do clube carioca de que é adepto fervoroso.

Ao longo da sua ascensão no Senado, aliou-se a Eduardo Cunha, mas rompeu pouco antes deste acabar preso na Lava-Jato por corrupção. Acabaria por sucedê-lo com o apoio de Temer, cujo futuro tem agora nas mãos.

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