Do Casa Pia (Lisboa) para para o Gladbacher Hockey and Tennis Club de (Mönchengladbach). Rodrigo Castro, o jovem talento do hóquei em campo português vai jogar no clube alemão, onde já joga outro português (David Franco). Assinou um contrato que é uma espécie de bolsa de estudo. Nos intervalos dos treinos e jogos vai tirar o curso de Ciências de Desporto em Colónia. "É um desafio e um desejo ser profissional. Vou para uma equipa da segunda divisão, mas que tem um projeto de subida muito sólido", confessou o hoquista de 18 anos ao DN, admitindo que David Franco é "uma referência" e será "muito importante na adaptação"..Tinha sete anos quando teve o primeiro contacto com o hóquei em campo. A modalidade era uma disciplina curricular na escola onde estudava e foi amor à primeira vista. "Comecei a gostar bastante de jogar e vi que tinha jeito", começou por contar ao DN. Teve de levar com a curiosidade alheia e com as piadas sobre "o hóquei a sério", o hóquei em patins. E quando lhe perguntam as diferenças dá "aquela resposta básica: um é com patins e no pavilhão, o outro é sem patins e joga-se num campo." Mas é mais do que isso. O número de jogadores (11 e não 6), a bola, o tamanho das balizas e a antiguidade da modalidade são algumas das diferenças. O jogo foi "criado" pelos ingleses em finais do século XIX, mas tem origens na Pérsia há mais de 4 mil anos. Em Portugal há campeonato desde a época 1950-51. Organizado pela Federação Portuguesa de Hóquei, o Ramaldense Futebol Clube é o clube com mais campeonatos (33)..Habituado aos elogios desde cedo, só percebeu a importância quando foi chamado à seleção sub-18. Saltou logo para a seleção principal e ainda hoje não sabe explicar com palavras o "orgulho" que sentiu quando isso aconteceu. Por ele, pelo clube e pela modalidade. Tudo passou a valer a pena. Mesmo aqueles momentos (e "foram muitos") em que pensou desistir. "Depois daqueles treinos que correm mal, a frustração toma um pouco conta de nós e questionamos se é mesmo isto que queremos e eu cheguei à conclusão que sim", contou Rodrigo. À medida que ia crescendo foi percebendo que a modalidade era pouco conhecida e pouco praticada em Portugal (há apenas 1875 atletas federados) e tentou "outro caminho". Jogou hóquei em patins durante dois meses, mas os patins atrapalhavam e foi aí que percebeu que se "safava" melhor no hóquei em campo. A partir daí a paixão só cresceu. A falta de competitividade foi uma pedra no caminho, que contornou recorrendo a ferramentas de automotivação, alicerçada na ambição de fazer carreira num país onde a modalidade tem alta competição, como Austrália, Alemanha ou Holanda. "Acho que me dei bem... agora vou jogar para a Alemanha, viver, estudar e jogar numa das ligas mais competitivas do mundo", disse o jovem de 18 anos. Para ele só A Portuguesa supera "a sensação de marcar um golo". A primeira vez que foi chamado à seleção e ouviu o hino nacional emocionou-se. "Ainda hoje fico arrepiado cada vez que ouço o hino em campo", confessou, admitindo que esse "sentimento de portugalidade" vai ser exacerbado com a ida para a Alemanha. Não sabe se está preparado para as saudades que vai sentir, mas prefere pensar que terá apoio cá e lá para dar asas ao sonho de ser hoquista profissional. Se um dia alguém lhe pedir para recordar o jovem que é hoje dirá: "Um jovem introvertido, algo envergonhado, muito lutador e com algum sentido de humor, que adora o cozido à portuguesa da avó, alguém que procura sempre conhecimento e que gosta de ver séries e documentários, além de dar aulas de padel, a outra paixão.".Como atleta, idolatra LeBron James. Tem dias que "precisa dos elogios para fazer um grande jogo" e tem outros em que reage quando "é picado". Há um ano passou por uma fase complicada: "Cada vez que me picavam eu não conseguia jogar nada, mas agora motiva-me mais a conseguir o que quero e com ajuda dos comentários bons.".Teve de aprender a lidar com a pressão desde cedo. "No meu primeiro ano de sénior senti essa pressão de ser um jovem talento e de haver expectativas altas sobre mim. E quando não tinha a performance desejada caíam em cima de mim, o que é normal", contou Rodrigo, revelando que essa fase coincidiu com a morte de um amigo e colega (Luís Tavares, que era capitão do Casa Pia) e que teve ajuda profissional dos psicólogos do clube nessa fase difícil.Agora está pronto para o desafio chamado Gladbacher Hockey and Tennis Club de Mönchengladbach.