Robôs da pandemia, os heróis do maior encontro de tecnologia
Os robôs que ajudaram as pessoas a sobreviver em 2020 estão a mostrar-se por estes dias no maior dos eventos dedicados à tecnologia, o CES - Consumer Electronics Show, um encontro de criatividade e extravagância no sector da tecnologia. Este ano, com a pandemia, a robótica ganhou um fôlego.
Totalmente online este ano devido à pandemia do novo coronavírus, a Consumer Electronics Show tem mostrado muitos dos robôs que se tornaram heróis durante os tempos em que as pessoas estiveram fechadas em casa.
Robôs que fazem companhia, que são conciérges, que fazem entregas de comida, que são assistentes e médicos ou que se ocupam de tarefas perigosas de limpeza, em locais de trabalho ou instalações médicas são algumas das funções desempenhadas por estas máquinas que se têm visto na CES, de acordo com a AFP.
A procura de robôs que fizessem companhia aumentou nos últimos meses, à medida que as restrições que foram sendo impostas pelos governos dos vários países ia criando mais e mais problemas de isolamento, especialmente entre pessoas em lares de idosos. Cutti (na imagem) tornou-se uma mascote em vários lares de idosos em França.
"A pandemia mudou completamente nosso modelo de negócios", disse à AFP Antoine Bataille, presidente executivo da Cutii. "Tínhamos imaginado Cutii nas casas das pessoas., mas hoje estamos a lidar com o isolamento a nível coletivo."
Esta startup sediada na cidade de Roubaix, no norte da França, entregou 30 robôs gratuitamente às estruturas residenciais para séniors durante os períodos de confinamento e usou a experiência para aprimorar a tecnologia e treinar suas equipas.
"Tudo funcionou bem. A cada duas semanas entregávamos atualizações de software, que eram feitas remotamente. É como o que a Tesla faz, acrescentou.
Cutii, que combina elementos de um robô de telepresença com um assistente digital inteligente, faz parte da mostra da CES este ano, após o lançamento comercial em França e um impulso de marketing nos EUA.
O chefe de operações da Cutii nos Estados Unidos, Richard Marshall, disse que a crise mostrou que as pessoas precisam de mais do que um assistente inteligente como o Google ou o Amazon Alexa.
O robô, produzido em França, foi projetado para permitir que os membros da família façam check-in e também ajudar as pessoas a encontrar atividades como ioga ou aulas de tai chi, pessoalmente e online.
"O objetivo do Cutii é ligar indivíduos a outras pessoas", disse Richard Marshall. Não é uma Alexa sobre rodas."
Wendy Moyle, professora da Griffith University da Austrália que se especializou em pesquisas com idosos, disse que estudos mostraram que as pessoas podem desenvolver "um relacionamento forte" com robôs de companhia "muito parecido com o que acontece com os idosos quando têm um animal de estimação".
Há um senão, segundo Moyle. A tecnologia atual para a maioria dos robôs "simplesmente não é sofisticada o suficiente" e muitas pessoas ficam desapontadas após algum tempo.
Na era do distanciamento social, os robôs assumiram um novo papel no local de trabalho e nas instalações médicas.
A Misty Robotics, que produz uma plataforma de robô aberta, lançou no ano passado a sua própria aplicação de triagem de temperatura para locais de trabalho e instalações médicas, enquanto também trabalhava com parceiros que podem tornar este robô um companheiro ou assistente digital.
Com a pandemia tornou-se mais fácil para as pessoas não ver os robôs como ameaças mas como amigos, disse o presidente executivo da Misty Robotics, Tim Enwall. "Os idosos não têm contacto e certamente têm muito medo dos vírus que podem vir dos contactos, o que provoca solidão e isolamento", disse Enwall à AFP.
Num ambiente de trabalho, robôs como o Misty podem tornar-se um concierge virtual, o que elimina a necessidade de contacto pessoal arriscado, acrescentou Enwall.
"O robô na porta da frente pode fazer a mesma triagem básica de uma forma já familiar para muitas pessoas", disse. "É amigável, é interativo e agradável."
Enquanto isso, vários expositores, incluindo a gigante sul-coreana LG, mostrarão uma nova linha de robôs desinfetantes que estavam em alta durante a pandemia.
O robô autónomo da LG, que usa luz ultravioleta para desinfetar áreas de alto contacto e tráfego, está a ser lançado este ano em hotéis, escolas, escritórios de empresas, supermercados restaurantes e centros de transporte como aeroportos e estações de comboio nos EUA.
As empresas apostam que a procura por avanços na saúde e segurança continuará mesmo depois da pandemia ser contida.
Outra área que tem colecionado cada vez mais interessados é a da tecnologia na cozinha, o que foi acelerado durante a pandemia, disse Alex Barseghian, CEO da startup RoboEatz, que começou na Letónia e agora está sediada no Canadá.
A RoboEatz está a lançar o seu sistema de cozinha robótica autónomo movido a inteligência artificial que prepara, cozinha e serve uma variedade de pratos quentes e frios, de sopas a saladas e sopas.
O sistema robótico, projetado para operações de serviços alimentícios em escritórios empresas, campi universitários e hospitais, bem como restaurantes de serviço rápido, assume algumas das tarefas mais repetitivas durante a preparação de alimentos ao mesmo tempo que melhora a segurança alimentar e elimina os riscos de infeção de cozinhas lotadas.
Alex Barseghian disse que a ideia da preparação robótica de alimentos, que pode reduzir o desperdício de alimentos e os custos com trabalhadores, ganhou força em tempos de pandemia.
"Para muitos restaurantes, a eficiência é importante", disse ele. "Cada milímetro na cozinha é medido. Não pensaram em distanciamento social, portanto automatizar a cozinha resolve o problema."
A RoboEatz planeia lançar seu próprio restaurante na Letónia este mês, enquanto comercializa sua cozinha "pronta a usar" na América do Norte.
Mesmo depois da pandemia, Barseghian disse que espera uma atenção contínua na saúde e segurança das cozinhas: "Acho que nunca mais será o mesmo."