Robert, 68 anos, é o primeiro afro-americano a receber um transplante facial completo

Depois de um acidente de carro, o afro-americano ficou em coma durante seis meses e acordou com o rosto desfigurado. Passou por 30 cirurgias, mas só esta reconstrução completa foi capaz de lhe devolver um rosto.
Publicado a
Atualizado a

"Estou ansioso para o dia em que puder beijar a minha filha com os meus próprios lábios novamente", ansiava Robert Chelsea, protagonista do mais recente marco no mundo da transplantação facial. Aos 68 anos, tornou-se o primeiro afro-americano a fazer uma cirurgia completa ao rosto, mas também a pessoa mais velha a submeter-se à mesma. Antes, já um francês de pele negra tinha recorrido ao transplante facial parcial, em 2007.De acordo com a CNN, a intervenção ocorreu no Brigham and Women's Hospital, em Boston, Massachusetts, e foi um sucesso.

"É uma grande maravilha", disse Robert, em declarações à CNN. "Todo este processo deu uma nova dimensão", que tinha perdido de vista em agosto de 2013, quando teve um acidente de carro que deixou queimaduras graves no seu rosto. Era mais uma noite de verão e dia de ir até à igreja. Enquanto Robert conduzia até lá, quando a viatura colidiu com a de um motorista alcoolizado. "O meu carro subiu no ar e, quando caiu, explodiu", recorda.

Robert foi transportado para o hospital, onde fechou os olhos para descansar e só acordou seis meses depois, com o rosto severamente queimado. Passou por mais de 30 cirurgias reconstrutivas, mas o nariz, a orelha esquerda e os lábios nunca voltaram ao normal. Por isso, comer e beber tornou-se uma tarefa árdua.

As consequências do acidente não foram só físicas: Robert assistiu ao afastamento de vários amigos e até os seus negócios saíram prejudicados. Lembra que, sempre que passeava na rua, as pessoas recuavam quando o viam e as crianças "costumavam ficar chocadas". "Parecia uma máscara de Halloween", disse. "Mas não há vergonha nisso."

Durante anos, a sua família procurou conhecer as melhores alternativas médicas que lhe pudessem reconstruir o rosto. Ainda foram considerados determinados tratamentos caros, mas o facto de não ter um emprego tornava qualquer opção "exacerbada", contou o afilhado de Robert, Everick Brown. Foi quando decidiram criar uma campanha de crowdfunding para ajudar a cobrir os custos, a qual permitiu que Robert se tornasse o 15.º paciente de transplante facial nos EUA e o primeiro afro-americano a conseguir a cirurgia completa.

Em julho deste ano, cerca de seis anos após o acidente, receberia a chamada a anunciar um dador disponível. Seguiu-se uma operação de mais de 16 horas, com 45 médicos, enfermeiros, anestesiologistas e investigadores. "Tiveram que tirar todo o meu rosto e o rosto do dador. Havia muitas camadas de pele, por isso, colocaram uma camada de cada vez no meu crânio", contou Robert.

Segundo o hospital, a espera por um doador foi mais longa do que o normal pela dificuldade em encontrar um dador com o exato tom de pele de Robert. As estatísticas relativas a 2016 do Departamento de Saúde das Minorias (Departamento de Saúde e Serviços Humanos), há uma significativa desproporcionalidade entre os afro-americanos que participam na doação novos órgãos nos EUA - cerca de 30% dos que estão à espera de transplantes são negros e 13,5% são afro-americanos. Em grande parte, devido ao maior risco de doenças como diabetes e pressão alta e, por isso, à maioria probabilidade de sofrerem com a falência de órgãos.

Apesar da idade, e dos riscos que daqui poderiam advir daqui, "Robert está a progredir e a recuperar rapidamente", disse o cirurgião Bohdan Pomahac.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt