Rituais satânicos ameaçam igrejas do Baixo Alentejo

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Os rituais satânicos avolumam-se nas igrejas isoladas do Baixo Alentejo. Imagens com narizes e dedos cortados, crucifixos com Cristo separado da cruz, profanação de sacrários e portas de templos incendiadas. São estes os principais sinais de violência extrema após a realização de uma missa negra.

O fenómeno tem só três anos e é considerado pelos estudiosos do património da igreja como sendo "novo demais" para que se perceba o que leva grupos, que se julga de cinco ou seis pessoas, a introduzirem-se nos templos, regra geral durante a noite, procedendo a este género de celebração.

Sacerdotes contactados pelo DN não conseguem explicar o fenómeno, havendo quem admita ser uma forma de protesto contra determinado problema social. Uma mera hipótese atribuída a cerimónias semelhantes ocorridas, em tempos, em África. Para o sociólogo Francisco Ramos, da Universidade de Évora, estes rituais pertencem a "grupos marginais", que tentam afirmar-se pondo em causa a ordem estabelecida. "Regra geral, serão jovens que pretendem pôr em causa o sagrado nas igrejas e nos cemitérios com cerimónias mágico/religiosas, de maneira a tentarem concentrar forças ocultas", explica.

A GNR confirma que tem recebido várias queixas, mas as investigações ainda não avançaram no terreno. As autoridades alegam que o problema não encerra grande gravidade, apesar do descontentamento do director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, José António Falcão, para quem o Ministério Público já deveria "ter dado conta destes acontecimentos à Polícia Judiciária, que tem competências para investigar".

O caso mais recente teve lugar na igreja de São Pedro, em Santiago do Cacém. O templo sofreu dois assaltos no espaço de um mês, havendo sinais de ritual satânico e ficando a igreja aberta, com tudo revolvido no seu interior, onde os próprios castiçais foram partidos. Dias volvidos, os populares, residentes nas imediações da igreja, não escondem o medo. "Ninguém gosta de ter uma coisa destas ao pé da porta", comenta Isabel Lopes. "As pessoas ouviram falar em missa negra e estão assustadas."

José António Falcão, assume que se desconhecem os contornos e o que está por detrás destes rituais que, nos últimos anos, têm lançado o pânico em igrejas isoladas de Moura e do Litoral Alentejano. "Sabemos apenas que são pessoas que conhecem bem as igrejas e os lugares mais vulneráveis", assegura o mesmo responsável.

Não passa despercebido o facto de ser nos concelhos do litoral que se começam a registar mais rituais santânicos. Para além das igrejas, também há quem os faça em cemitérios e em pinhais extensos, procurando as encruzilhadas - principalmente em Sines, onde começa a ser vulgar encontrarem-se vestígios. José António Falcão admite que isto se deva às características sociais da região.

O caso mais mediático teve lugar em Odemira, quando no ano passado se descobriu que um casal alemão foi assassinado há sete anos na sequência de um alegado ritual satânico num monte isolado. A revelação partiu de uma mulher, gravemente doente, que garantiu ter assistido a tudo. A investigação foi conduzida pela polícia alemã, mas as autoridades portugueses não conhecem os resultados.

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