"Ainda preciso de passar o texto mais uma vez", pedia Mia Rose. "Não te preocupes", assegurava-lhe o realizador de I Love It e diretor do projeto, Jorge Cardoso, encaminhando a atriz para o local onde iriam começar os ensaios..Era mais um dia de gravações da novela juvenil da estação de Queluz de Baixo. Nos estúdios da Plural, em Vialonga, gravava-se cenas há exatamente duas horas, desde as 09.00. Metade do elenco encontrava-se nos estúdios e o restante no cenário exterior: a zona dos bares..Palco de tantas cenas noturnas de I Love It, a famosa rua dos bares da novela recebia, desta vez, a equipa de produção e alguns membros do elenco, em pleno dia. Com folhas de papel na mão, encostada a um canto, a salvo da confusão, estava Mia Rose, a protagonista da trama, mesmo ao lado de João Bonneville, que alternava entre o sotaque português e o brasileiro da sua personagem, Arrison. "Às vezes é um bocado complicado quando estamos em cena. Às vezes, tento pôr na cabeça que sou brasileiro mas há palavras que saltam para o português", confidenciaria, mais tarde, à Notícias TV, o jovem ator, que se encontrava precisamente no Brasil quando recebeu um convite para o casting da personagem brasileira. "Estava no Brasil a fazer um curso de televisão e cinema. Estive lá seis meses a estudar e no curso já tinha de falar português do Brasil. Depois recebi aqui uma chamada da Plural a dizer que precisavam de um brasileiro, mandei um vídeo para verem o meu sotaque, gostaram e aqui estou", relatou..Ainda em cena, os atores voltam a ensaiar o texto, a pedido do realizador, desta vez marcando as posições, de onde, alguns minutos mais tarde, vão ser captados pelas três câmaras de I Love It. E é esta também uma das características que marca o formato. Filmada apenas com três steadicams, I Love It permite assim a captação de outro tipo de movimentos e ângulos de imagem, durante as gravações..Enquanto Mia Rose e João Bonneville marcam o seu trajeto, técnicos passam por cima de cabos, encolhem-se, saem e escondem-se em recantos, tudo para filmarem a cena, sem aparecerem no ecrã da régie, que comanda as operações a partir de um dos "bares"..E nem os figurantes ficam esquecidos. Sentados na esplanada de um restaurante, mantêm intactas as suas "cervejas" e o pão até que seja dada ordem de "ação". Enquanto os atores ensaiam, estes vão também recebendo as suas indicações: como devem abandonar a cena, que movimentos devem assumir e qual o timming certo para as suas ações..Finda a gravação, onde Beatriz (Mia Rose) conversa com Arrison (João Bonneville) sobre Tatiana (Anna Leppänen), Mia Rose segue para o guarda-roupa, onde vai mudar de vestuário para, mais tarde, gravar nova cena. Em cenas de exteriores, é numa carrinha improvisada que é dado "brilho" à imagem dos atores e onde estes despem e vestem a roupa das suas personagens..Com um novo look, vamos encontrar Mia Rose no "posto médico" da Plural. Ou melhor, na sala de atores, que ocupa agora o espaço do antigo posto médico da produtora. Sem formação na área de representação, a também cantora garante que a sua arma é a naturalidade. "Faço tudo de forma muito natural, que é o que eu consigo fazer porque não tenho ferramentas nenhumas, portanto tenho de ir pelo instinto e naturalidade". A gravar cenas e mais cenas, todos os dias, a atriz refere que tenta o "máximo possível decorar os textos em casa". "Tento fazer isso com as cenas mais difíceis porque a minha dicção não é perfeita. O português não é a minha língua materna.".Ao lado de "Beatriz", encontra-se sentado, nos sofás da sala de atores, o vilão da história, interpretado por Francisco Garcia. "Às vezes, quando não estou a gravar, sai-me um "Olá" do Tomás. E eu digo logo: "Sai, daqui"", ri-se o ator, explicando: "Eu tento que o Tomás fique pelo set, porque interpretar e criar uma personagem tem consequências na nossa cabeça, por vezes"..E, mesmo em pleno trabalho, o bom ambiente é visível. "Muita palhaçada, muita boa disposição, brincamos uns com os outros antes de começarmos a gravar, se bem que às 8 da manhã é complicado tanta palhaçada, mas eu gosto de brincar um bocadinho. Sou um bocado palhaço. Há um bom ambiente e, falando do meu núcleo, destas cinco personagens, acho que isso passa lá para casa", atira João Bonneville..Uma estalada a sério na ficção.É a terceira cena que a equipa grava em duas horas. É a altura de Olívia Ortiz e Carla Andrino brilharem na zona de bares. "A minha personagem, a Helena, vai agora ter uma cena muito forte com a mãe, interpretada pela Carla Andrino", confidenciava a jovem atriz à Notícias TV, sussurrando: "A Helena vai levar uma estalada." "A Carla só me perguntou: "Queres levar a sério ou a fingir. É que disseram que eu, mesmo a fingir, dou com muito realismo". Mas acho que vou pedir para ela me dar, vou arriscar", atira, dirigindo-se para o local onde a cena vai ser filmada..Ação! Sentada numa das mesas da esplanada, Helena namorisca com dois rapazes, quando é apanhada pela mãe. Começam a discutir e o tom de vozes vai subindo, enquanto a jovem dirige acusações a Lurdes. Esta levanta-se e faz o que todos já estavam à espera: dá uma estalada a Helena, que abandona a zona de bares..Assim que sai do plano das câmaras, Olívia Ortiz agarra-se ao lado da face em que levou a bofetada, com dores, mas sempre soltando gargalhadas. Não parece arrependida pela escolha da "estalada a sério"..Já Carla Andrino não conseguiu conter as lágrimas e acabou por se emocionar durante a cena. "Eu nem pensei "Vou chorar" mas, de repente, estava a chorar. "Gosto de sentir as cenas, não de as representar e estava a ouvir cada palavra que ela estava a dizer. E não era para mim, era para esta mulher que tem um passado que não posso revelar ainda. Ouvir estas palavras de uma filha, bate mesmo no fundo.".E ainda "bateu" umas quantas vezes. É que Olívia Ortiz voltou a ser esbofeteada nos vários takes da cena e Carla Andrino... voltou a emocionar-se entre este duelo travado na ficção e no realismo de I Love It.