Riscos iguais para aborto cirúrgico ou farmacológico

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Um estudo dinamarquês, publicado no New England Journal of Medicine, concluiu que o aborto com medicamentos comporta exactamente os mesmos riscos que um aborto cirúrgico. Estudos anteriores apontavam para que as mulheres que recorriam aos fármacos para abortar tinham, posteriormente, mais hipóteses de desenvolver gravidezes ectópicas (fora do útero), ter abortos espontâneos, partos prematuros ou bebés com baixo peso.

A investigação avaliou o impacto do misoprostrol, mifepristona e metotrexato na gestação que se segue a um aborto, não tendo identificado um maior risco de complicações associadas aos medicamentos.

O misoprostrol e a mifepristona são os fármacos aprovados em Portugal para a interrupção da gravidez, mas "a experiência nacional é ainda muito pequena para podermos avaliar os resultados dos diferentes tipos de abortos", esclarece a obstetra Maria José Alves. "Antes, os abortos eram feitos em más condições e não havia qualquer registo ou controle", diz a médica, referindo ser este o motivo para a insuficiência de dados no panorama português.

O estudo analisou o primeiro trimestre de gravidez de 12 mil mulheres dinamarquesas a seguir a um aborto, feito com recurso a medicamentos ou através de cirurgia, entre 1999 e 2004. Entre os casos analisados registaram-se 274 gravidezes ectópicas, 1426 abortos espontâneos, 552 partos prematuros e 478 recém-nascidos com baixo peso, com incidência semelhante entre as mulheres que usaram fármacos e as que seguiram o processo cirúrgico.

Os especialistas reforçam a importância de esclarecer este assunto porque os abortos com medicamentos "são cada vez mais frequentes em todo o mundo" e "existe uma informação muito limitada sobre os efeitos deste procedimento em gravidezes posteriores".

O estudo não compara a taxa de complicações que surgem em mulheres que se submetem a qualquer tipo de aborto e as que nunca abortaram e tem apenas em conta a primeira gravidez após o aborto.

Contudo, Maria José Alves afirma que, "a grande maioria dos estudos feitos diz que não há diferenças entre uma gravidez depois de um aborto comum, não clandestino, com apoio médico, e uma gravidez de uma mulher que nunca abortou".

Algumas mulheres continuam a preferir a intervenção cirúrgica para que não se dê a retenção do feto e para serem acompanhadas durante todo o processo, mas essa prática não traz necessariamente mais vantagens.

Em Portugal, são usados o misoprostol e a mifepristona que, quando combinados, têm 98% de eficácia na interrupção da gravidez até às nove semanas. |

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