Rio sob pressão. Rangel diz que vitória está "perfeitamente ao alcance"
Rangel, Luís Montenegro, Carlos Moedas. A oposição interna a Rui Rio no PSD expôs este sábado com clareza, no segundo dia do 39.º Congresso do PSD, que o presidente reeleito do partido não pode esperar perdão interno se o partido não vencer as próximas legislativas, já marcadas pelo Presidente da República para 30 de janeiro.
Todos fizeram o expectável discurso, segundo o qual agora o tempo interno é de "unidade" em torno do líder reeleito nas diretas, omitindo-lhe, portanto, qualquer crítica. Foram, porém, também muito claros a dizer que de Rio não se espera outra coisa que não uma vitória.
Paulo Rangel fez mesmo questão de insinuar que o incrível será que isso não aconteça. Fê-lo ao considerar, em declarações aos jornalistas, que a vitória do PSD está "perfeitamente ao alcance". Foi esta a frase completa: "Houve as eleições internas, foi um tempo de debate que eu acho que reforçou e legitimou muito a presença do PSD, como, aliás, se vê. Penso que foi um processo muito positivo e, portanto, a partir de agora é concentrar todos os esforços para ganharmos as eleições, o que está perfeitamente ao nosso alcance."
Já Carlos Moedas - cujo discurso provocou aplausos de pé - colocou-se a ele próprio na posição de exemplo a seguir, com a sua vitória na Câmara Municipal de Lisboa: "Acho que a vitória [em Lisboa] foi muito importante, deu uma dinâmica muito importante, e, como disse muitas vezes na campanha, acho que de Lisboa vamos ganhar o país. E, portanto, é isso que venho aqui dizer, para estarmos unidos, porque é a hipótese que temos de ganhar o país."
Moedas, que assumiu ter ido ao Europarque "dar um abraço" a Rio mas também a Paulo Rangel (que discretamente apoiou nas últimas diretas), multiplicou-se em apelos à unidade interna (e foi recebido de pé pelos congressistas, que mais do que uma vez se levantaram para o ovacionar quando discursou no palanque): "As pessoas estão desiludidas com aqueles que querem o poder pelo poder. Só votarão em nós se estivermos unidos. Porque só unidos geramos confiança."
Introduziu, porém, um argumento no seu discurso que não se ouviu a mais nenhuma figura de destaque no conclave: a exigência de um cordão sanitário em torno do Chega, ou seja, a garantia de que o PSD não alinhará em conversas pós-eleitorais com André Ventura. "Temos que ser concretos e inconformados contra um poder que anestesia o país. Ser um inconformista moderado é vencer sem alianças com os extremos."
Já Luís Montenegro - líder parlamentar nos tempos de Passos Coelho e derrotado por Rio nas diretas de janeiro de 2020 - pediu ao presidente reeleito do partido que vença agora António Costa como venceu no PSD os seus adversários internos.
"Eu queria dizer-lhe, Dr. Rui Rio, você já demonstrou cá dentro que consegue ser eficaz e aproveitar as oportunidades para ganhar eleições diretas. E eu que o diga e que o diga também o Paulo Rangel, a quem envio uma saudação amiga", afirmou. Deixando logo de seguida um apelo: "Queremos que faça o mesmo a António Costa e ao PS", e recordando-lhe que agora não tem álibis com divisões internas: "Tem um partido todo consigo, vá em frente, Portugal precisa de nós, Portugal precisa de si."
Algo inesperadamente, Montenegro afirmou-se de acordo com a tese de Rio segundo a qual o segundo maior partido nas próximas legislativas deve viabilizar o governo formado pelo maior partido. Contudo, exigiu que António Costa esclareça se também está disposto a isso (naquilo que classificou como o seu "teste do algodão"). "Esta é a questão central: se o PSD ganhar as próximas eleições e se o PSD formar governo sem maioria absoluta, está o PS disponível para viabilizar dois primeiros Orçamentos do Estado?", uma pergunta que Rio depois consideraria numa entrevista à RTP ter "toda a razão" para ser feita, dirigindo-a ele próprio ao líder do PS.
À margem dos trabalhos, foram-se preparando as listas aos órgãos dirigentes. Do núcleo mais restrito de direção executiva do partido, a Comissão Permanente, sairão dois vice-presidentes, Isabel Meirelles e Nuno Morais Sarmento, que transitam, respetivamente, para a Mesa do Congresso e para o Conselho de Jurisdição Nacional. Entram para os seus lugares Ana Paula Martins (bastonária da Ordem dos Farmacêuticos) e João Pais de Moura (antigo presidente da Câmara de Cantanhede), que se juntaram aos vice-presidentes reconduzidos André Coelho Lima, Isaura Morais, David Justino e Salvador Malheiro, e ao secretário-geral, também com mandato renovado, José Silvano.
Para o Conselho Nacional - o "parlamento" do partido, sendo a eleição por método proporcional - preparavam-se várias listas, como habitualmente. Além da de Rio, também uma de Miguel Pinto Luz, outra de Carlos Eduardo Reis e outra ainda de Pedro Calado (presidente da Câmara do Funchal, sendo Luís Montenegro o seu 1.º subscritor).