Rio diz que tem o melhor perfil mas não é candidato
O ex-presidente da Câmara do Porto Rui Rio anuncia hoje que não será candidato à Presidência da República, num artigo publicado no Jornal de Notícias em que critica a liberdade de voto dada pela coligação PSD-CDS/PP.
No artigo, apesar de se colocar fora da corrida a Belém, Rui Rio considera que, no "quadro parlamentar instável" que o país vive, a sua candidatura "poderia ser a que melhores condições tinha de, no quadro do espaço ideológico moderado, conseguir garantir a indispensável estabilidade e sobriedade na política nacional".
[citacao:Lançar uma candidatura presidencial vencedora e nacionalmente reconhecida a partir de uma cidade que não a capital do país é uma tarefa muito próxima do impossível]
O ex-autarca do Porto e ex-secretário-geral do PSD, no tempo da presidência de Marcelo Rebelo de Sousa, critica a decisão das lideranças do PSD e do CDS/PP de darem liberdade de voto aos seus militantes nas presidenciais de janeiro.
Face à decisão das direções dos sociais-democratas e dos democratas-cristãos, Rio sublinha que, se avançasse na corrida presidencial, a sua candidatura "facilmente seria interpretada como divisionista, senão mesmo como desestabilizadora". E acrescenta: "Lançar uma candidatura presidencial vencedora e nacionalmente reconhecida a partir de uma cidade que não a capital do país é uma tarefa muito próxima do impossível".
[citacao:Foi por essa clarificação que esperei e é ela que me permite ter hoje uma leitura política final e uma decisão de não candidatura sustentada e coerente]
No final do artigo, refere que não tem dúvidas: do ponto de vista tático, devia ter lançado uma eventual candidatura a Belém no início de setembro. "Só que, como também então o disse, os seus pressupostos [da candidatura] não acomodavam condicionantes exclusivamente táticas; acomodavam, como referi, um projeto para o país. E a exequibilidade desse projeto, pelas diversas circunstâncias da vida política nacional, apenas poderiam ficar claras após as eleições de 4 de outubro. Foi por essa clarificação que esperei e é ela que me permite ter hoje uma leitura política final e uma decisão de não candidatura sustentada e coerente", conclui Rio.
Sem apoio de Passos
A candidatura de Rio teve o seu canto do cisne quando Passos Coelho - já após as legislativas e como o DN noticiou 11 de outubro - lhe ligou a dizer que não o iria apoiar. O líder social-democrata terá lembrado a Rio que a decisão não dependia apenas dele, mas de toda comissão política do PSD, e que sem maioria absoluta a sua margem para o impor como candidato já não era a mesma.
Rui Rio rejeita a ideia de integrar um eventual futuro governo de Passos Coelho (é uma "tontice", lembrou então ao DN fonte próxima de Rio). Para já, Rui Rio pretende ficar no privado, na empresa de recursos humanos Boyden, não sendo de ignorar que, entretanto, um dos cargos mais prestigiados do Estado ficou livre.
Rui Rio é falado para substituir Guilherme d"Oliveira Martins na presidência do Tribunal de Contas e seria um nome que não só teria o aval de Passos Coelho como também do secretário-geral do PS, António Costa (de quem Rio é próximo desde os tempos em que os dois lideravam as duas maiores autarquias do país). E o controlo das contas é uma área em que são reconhecidos méritos ao economista Rui Rio.
Mesmo que a relação com o atual líder do PSD esteja melhor, Rui Rio não deixa de ser um dos principais candidatos à sucessão de Passos Coelho, seja ela quando for. Há ainda a hipótese Belém em 2021 ou até 2026: daqui a cinco anos terá 64 anos e dentro de dez, 68. Fora de hipótese só mesmo 2016.
Marcelo foi mais forte
Hoje termina um caminho que não foi fácil para Rio, acima de tudo pela força do principal rival neste jogo: Marcelo Rebelo de Sousa, que foi sempre campeão das sondagens. Rio ainda tentou. A candidatura ganhou força no final de junho, quando o fundador do PSD Francisco Pinto Balsemão assumiu o seu apoio publicamente, mesmo contra Marcelo. "De todos os hipotéticos candidatos de que se fala, a eventual candidatura de Rui Rio é a que me mais entusiasma e a que mais confiança me merece", assumiu então o militante número um do PSD.
Porém, desde aí (quase) tudo correu mal a Rui Rio. E, em sentido inverso, tudo correu de feição a Marcelo Rebelo de Sousa. A 17 de junho, a candidatura de Rio ganhava forma quando ele e Passos Coelho jantaram no Porto e o ex-autarca ficou convencido de que, caso avançasse, teria o apoio do líder do PSD.
A meio de julho, Rui Rio admitia mesmo já ter financiamento para a campanha, mas manteve o tabu se avançaria ou não. Marcelo, com a sua tática política, foi condicionando os avanços de Rio, tentando impor como data natural da decisão o período após as legislativas.
A entourage de Rio, que este tantas vezes negou existir, aconselhou-o por diversas vezes a avançar antes das legislativas, pois, caso contrário, perderia espaço para Marcelo. O antigo secretário-geral do PSD manteve-se irredutível e acabou por perder espaço.
Rio tinha imposto como condição ter o apoio do partido, sabendo que - com uma vitória da coligação nas legislativas - o caminho lhe podia ser mais favorável, pois Passos ganhava força. A coligação Portugal à Frente ganhou, mas perdeu a maioria e quem ganhou força foi Marcelo com sondagens no dia das legislativas que o davam próximo de ser presidente da República logo à primeira volta.
Antes do avanço de Marcelo ainda houve jogadas para, acredita fonte próxima de Rio ouvida pelo DN, desestabilizar a candidatura de Rio, "como sugerir que este era hipótese para o governo". Tudo isto, explica a mesma fonte, "fez Rio ainda ter mais vontade de avançar, deixou-o revoltado, mas depois rendeu-se. Não ia concorrer para ter 10% ou 12%. Não fazia sentido".
Com Lusa