Rio admite desconfinamento por regiões e lança acusações ao governo
O presidente do PSD, Rui Rio, admitiu esta sexta-feira um desconfinamento a ritmos diferentes, por regiões, quando a evolução epidemiológica não for homogénea, como forma de não prejudicar as populações menos "massacradas" pela pandemia de covid-19.
"Eu entendo que deve haver um plano de confinamento e de desconfinamento, neste caso, nacional, mas se o território todo não for homogéneo nós poderemos ter desconfinamentos a ritmos diferentes, consoante a região", afirmou.
O líder social-democrata, que se reuniu hoje, no Porto, com representantes do Movimento a Pão e Água, que agrega empresários da restauração, comércio, hotelaria e eventos, rejeita, contudo, um confinamento ao nível concelhio por considerar que em causa está uma malha "muito apertada" e pequena.
"Regiões mais alargadas parece-me avisado, porque não me parece que tenhamos de prejudicar regiões e pessoas dessas regiões desnecessariamente. (...) Portanto, parece-me que não será de pôr de fora a possibilidade de o desconfinamento não ser rigorosamente da mesma forma pelo país todo. Poderá ser, mas parece-me que pode fazer-se de uma forma um bocadinho diferente para aquelas populações que não estão tão massacradas pela pandemia", observou.
Rui Rio considera que este é o tempo de desenhar o plano de desconfinamento, mas não de baixar "a guarda", o que só pode ser feito, defende, depois ser indicados pelos técnicos as linhas vermelhas.
Apesar de admitir que este plano devia ter sido preparado pelo Governo há mais tempo e de reconhecer que isso traria mais segurança às pessoas, o social-democrata acredita que, a existir, não diria que o país já podia ter desconfinado há mais tempo.
"Por aí o prejuízo não é muito grande, temos de ser justos nas críticas", afirmou.
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) recomendou, na quinta-feira, que o desconfinamento no âmbito da pandemia de covid-19 seja gradual e acompanhado de orientações claras e da garantia do controlo da transmissão da infeção pelo SARS-Cov-2.
"A decisão deve ser planeada, tendo por base processos de monitorização que acompanhem tanto a evolução epidemiológica quanto os indicadores económicos e sociais do país", lê-se no documento enviado à Lusa com as recomendações do órgão consultivo para o desconfinamento.
O presidente do PSD defendeu esta sexta-feira que são necessários mais apoios para os setores da restauração, comércios, hotelaria e similares, nomeadamente no pagamento das rendas, e acusou o Governo de fazer uma gestão confusa desta matéria.
"É uma confusão. Os apoios não são claros, não são lineares, não são sustentáveis, é uma confusão. Hoje é assim, passado um mês é de outra maneira, depois suspende, depois é 80%, depois é 60%, depois é 100%, portanto, uma confusão enorme. Aquilo que nós entendemos é que os apoios devem ser estáveis, devem ser claros e o mais simplificado possível", considerou Rui Rio, que falava aos jornalistas no final de uma reunião hoje no Porto com o Movimento a Pão e Água, que reúne empresários daqueles setores.
Entre os assuntos mais relevantes discutidos com os representantes do movimento que se manifesta-se esta tarde junto à Câmara do Porto, o presidente social-democrata destacou o problema das rendas que considera ser uma "bomba".
"É uma bomba que está ao retardador. Não está nada feito relativamente às rendas, está feito relativamente aos salários, e, portanto, as empresas, em particular os restaurantes, mas também os bares e discotecas tem uma dívida brutal acumulada (...) Portanto, está ali uma bomba ao retardador que tem de ter uma solução", observou, salientando que em causa estão empresas que "pura e simplesmente" tem a porta fechada por conta da pandemia.
Rio disse ainda que, segundo os empresários, 65% das empresas não recebeu nada do Programa Apoiar. "Estas empresas estão nesta situação, e o Governo tomou a decisão de ainda por cima aumentar o salário mínimo nacional", lamentou, salientando que é uma situação do ponto vista social é "absolutamente dramática".
Rio acusou ainda o Governo de António Costa de "ter um tabu" ideológico "absolutamente bacoco" sobre os sócios gerentes que recebem apenas 60% do apoio em lay-off, enquanto, um trabalhador normal recebe 100%.
"Nós entendemos que deve haver mais apoios, e os apoios devem ser estáveis, deve haver talvez menos anúncios e mais trabalho. Se formos ver pelas notícias que o Governo põem de apoios, são milhões e a sociedade pode estar a pensar que os empresários da restauração devem estar a receber muito dinheiro. Nada disso porque uma coisa é o que o Governo anuncia e outra coisa é o que o Governo faz", rematou.
Aos jornalistas, Tiago Carvalho, do Movimento Pão e Água, disse ter saído da reunião com o presidente do PSD satisfeito, com a esperança de que os sociais-democratas possam exercer a sua influência levar a bom porto as medidas que os empresários consideram necessárias para apoiar os setores da restauração, comercio, hotelaria, eventos, bares e discotecas.
Para o CNS, a reabertura da atividade dos diferentes setores da sociedade deve ser gradual e acompanhada de medidas que permitam assegurar o controlo da transmissão da infeção, da identificação em tempo útil de pontos de maior risco e de um programa efetivo de teste-rastreio-isolamento.
Relativamente à capacidade de testagem, o CNS refere que os testes de diagnóstico devem ser distribuídos de forma abrangente, podendo até ser dispensada prescrição médica, e particularmente dirigidos a pessoas em contextos de maior risco para a ocorrência de surtos.
Por outro lado, é recomendado que o levantamento das medidas restritivas não aconteça sem orientações claras, não apenas para os diferentes níveis de cuidados de saúde e diferentes setores, mas também para os cidadãos em geral.
O plano de desconfinamento é apresentado pelo Governo no dia 11 de março, mas o primeiro-ministro, António Costa, já adiantou que, além de gradual, progressivo e diferenciado por setores de atividades, "poderá também ser, porventura, em função de localizações, tal como já vigorou num certo período de tempo no país".