Rio acusa Montenegro de falta de "coragem" e rejeita "tsunami" no partido

Rui Rio foi contundente logo no arranque do Conselho Nacional extraordinário do PSD. Acusou Luís Montenegro de ter falta de "coragem" para há um ano para ter ido a votos contra ele. Leia o discurso na íntegra
Publicado a
Atualizado a

"Nunca andei em manobras de corredores parlamentares ou jornalísticos, conspirando contra quem é legitimamente eleito. Muito menos, seria capaz de boicotar a atividade de quem foi democraticamente escolhido para trabalhar, para, no momento seguinte, poder reclamar que tudo está mal.", afirmou aos conselheiros o líder do PSD, no discurso de defesa da sua moção de confiança. E acusou o opositor, que não está presente na reunião. "Hipocrisia", é a palavra que usou para classificar as manobras de bastidores e acusou Montenegro de falta de coragem.

E explicou as razões porque apresentou a moção de confiança: "A razão pela qual hoje aqui estamos deve-se ao facto de me ter sido lançado um repto para abandonar as funções para que fui democraticamente eleito, e convocar novamente eleições diretas para a liderança do PSD. Um repto para eu desertar".

Aos que têm dúvidas sobre a sua estratégia política, Rio disse que sempre foi muito melhor em eleições do que em sondagens. Mas não faltam os que, ao contrário de mim, sejam melhores em sondagens do que em eleições".

"Eu próprio, se me candidatasse a sondagens, teria apenas ganho uma das diversas eleições que já disputei. Nem as últimas diretas teria conseguido ganhar, muito menos, as primeiras a que concorri. Nessas verificou-se, desde logo, a minha fraca aptidão para ganhar sondagens, já que, nesse campeonato, apenas consegui um máximo de 19%, contra os 44% que obtive nas eleições em causa. Sempre fui muito melhor em eleições do que em sondagens", disse num discurso a que o DN teve acesso.

O líder social-democrata escalpelizou os resultados eleitorais do partido, entre os quais os de 2015, na aliança entre Passos Coelho e Paulo Portas. "Tivemos 36% em coligação, se expurgarmos a parte do CDS, que em 2011 tinha tido 11%, ficamos com valores da ordem dos 25 a 26%. Este é que é um dos pontos de partidas, não são as sondagens, que sabemos feitas, tantas vezes, a gosto do freguês".

Aos que agora o querem abater com a ideia de que o partido poderá ter um péssimo resultado eleitoral, entre os quais o antigo líder parlamentar do PSD, e que o acusam de estar agarrado ao lugar por não marcar diretas, Rio disparou:

"Não foi seguramente a mim que me faltou a coragem. Faltou, sim, a quem há um ano atrás, na altura própria, não teve o arrojo de se assumir, poupando o PSD a este espetáculo pouco dignificante que estamos a dar aos portugueses.

"Como é público e notório há muitos anos, coragem foi coisa que nunca me faltou. Estou, aliás, à espera de, pela primeira vez, perder umas eleições, enquanto que os que me desafiam estão na posição inversa: estão à espera de conseguir ganhar uma eleição, pela primeira vez na vida. Não foi seguramente a mim que me faltou a coragem. Faltou, sim, a quem há um ano atrás, na altura própria, não teve o arrojo de se assumir, poupando o PSD a este espetáculo pouco dignificante que estamos a dar aos portugueses".

Afirmou que rejeitou o repto para marcar eleições apenas por querer "servir o país". "O mais fácil e mais cómodo seria sair e voltar as costas às dificuldades. Mas tal atitude revelaria uma irresponsabilidade e uma falha grave aos compromissos que assumi perante todos os militantes em geral, e perante os que em mim votaram e em mim acreditam, em particular. Foi, como aqui comecei por dizer, atitude que nunca constou das minhas opções ao longo da vida".

O líder social-democrata sublinhou que tomar a decisão de enredar, outra vez, o partido numa longa campanha interna, seria colaborar numa irresponsabilidade de consequências imprevisíveis. "O mais fácil e mais cómodo seria sair e voltar as costas às dificuldades. Mas tal atitude revelaria uma irresponsabilidade e uma falha grave aos compromissos que assumi perante todos os militantes em geral, e perante os que em mim votaram e em mim acreditam, em particular. Foi, como aqui comecei por dizer, atitude que nunca constou das minhas opções ao longo da vida".

Numa farpa direta a Pedro Duarte, afirmou manifestou-se "estupefacto" por ter criticado em entrevista não ter ainda presentado nomes e ideias para as eleições europeias e, logo de seguida dizer que "partido deve mergulhar numa disputa interna" a tão pouco tempo das eleições.

"Pior ainda: alguns dos que defendem este tsunâmi partidário são os mesmos que antes das últimas diretas defenderam e aprovaram um período de 4 meses para a realização do Congresso Nacional - dizendo que o assunto era sério e que a democracia exigia um debate com o devido tempo - que, agora, dizem que, com menos de metade desse mesmo tempo se conseguiria realizar tarefa idêntica".

Assegurou que o desafio feito por Montenegro "é um frete ao PS, abrindo-lhe a porta a uma vitória eleitoral fácil" e é, também, "um aliciante convite ao nosso eleitorado para se encaminhar para a abstenção e para as alternativas partidárias à nossa direita. "Esta sessão do Conselho Nacional, que temos de realizar por força da confusão e da instabilidade gerada, é ela própria um espetáculo de prime time para António Costa, que, se for um homem educado, terá de, necessariamente, agradecer a alguns companheiros nossos, pelo serviço de excelência que lhe estão a prestar".

E questionou: "Porque razão se aceitariam agora novas eleições internas, quando, ainda em julho passado, um militante houve, que também se anunciou disponível e desejoso de concorrer a idêntico ato eleitoral?" Defendeu que a "estabilidade é um fator de confiança dos portugueses. "Demitir esta Comissão Política Nacional, eleita democraticamente há uns escassos 11 meses, a menos do meio do seu mandato, seria, também, não lhe dar a oportunidade de poder trabalhar com um mínimo de condições para tal", assegurou.

Garantiu também que a "permanente guerrilha" e o "constante boicote à atividade dos órgãos eleitos é o expoente máximo do desrespeito pelos militantes do partido e, mesmo, pelos portugueses em geral; que esperam legitimamente do PSD a construção de uma alternativa estável e credível ao Governo do PS".

Diretamente sobre a moção, Rui Rio defendeu que não seria justo chumbá-la, porque "já aqui disse, mais do que uma vez, que, primeiro, as eleições perdem-se. Só depois, se podem ganhar". Garantiu que o PS colocou-se numa posição de "perder eleições", com a degradação dos serviços públicos, o abrandamento da economia, os desentendimentos no seio da maioria parlamentar, a generalização do descontentamento das pessoas, entre outras coisas.

"Com a guerrilha que temos tido. Com terramotos políticos, como este, que hoje aqui estamos a resolver, não será possível atingir aquilo que está perfeitamente ao nosso alcance e é nosso dever". Terminou a pedir "maturidade e sentido de responsabilidade" ao partido.

"Se for o outro, o da instabilidade e o do afundamento nas questões internas, é mais do que claro que a derrota será certa e o definhamento do partido poderá ser ainda superior ao que experimentamos nas últimas eleições autárquicas".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt