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Ridículo! É o comentário que se solta da garganta mal se lê a pagela com esta prece mandada imprimir pelo bispo de Coimbra no longínquo dia 23 de Julho de 1937. "Oremos pelo nosso Chefe Salazar. O Senhor o conserve, e lhe conceda longa vida, e lhe dê felicidade sobre a terra, e não o abandone jamais às ciladas dos seus inimigos." Ultrapassava tudo o que a religiosidade popular mais beata, mesmo na época, poderia ter produzido.

Vítima de um atentado anarquista a 4 de Julho, dia da Rainha Santa Isabel, o ditador tinha escapado ileso à bomba colocada pelo grupo de Emídio Santana no trajecto lisboeta que o político de Santa Comba Dão percorria habitualmente de sua casa até ao local onde ia assistir à missa. E o prelado associou logo o facto à intervenção milagrosa da padroeira de Coimbra, pois - como mandou que se publicasse - o "Salvador da Nação Portuguesa" foi "miraculosamente salvo dum infamantíssimo atentado contra a sua vida". Se fosse noutra data deveria ter sido protegido por São Judas Tadeu ou pelo Menino Jesus de Praga, para se recorrer apenas às figuras santas popularizadas nos anúncios de agradecimento por graças concedidas.

Oridículo, ao contrário do que sustenta a expressão tão popularizada, nunca matou ninguém. Nem quando o bispo propunha aos seus fiéis: "Concedemos 50 dias de indulgência a quem recitar devotamente estas preces." Para se entender a desproporção basta lembrar que no Concílio de Latrão IV, que foi o mais importante concílio da Idade Média e decorreu em 1215 (reinava por cá o pouco depois excomungado D. Afonso II), tinha-se decretado que as indulgências, esse perdão total ou parcial dos pecados, não deviam ultrapassar os 40 dias.

Mas a devoção cega ao chefe não se esgotou com o passar das décadas. E embora a mais alta hierarquia da Igreja Católica dificilmente subscrevesse agora uma prece deste género, já na política, na sociedade, na economia se encontram imensas "capelinhas" com multidões de "sacerdotes" deste tipo, sempre a formularem juízos e a proferirem juras sobre os seus "divinos" caudilhos. Terão consciência de que são ridículos? Sejamos indulgentes.

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