Ria Formosa entra para o mapa das energias marinhas
Na barra de Faro-Olhão, a principal "boca" que a Ria Formosa abre ao mar, a corrente é forte. "Chega aos cinco metros por segundo numa embocadura de apenas 160 metros", explica André Pacheco, investigador do CIMA-Centro de Investigação Marinha e Ambiental, da Universidade do Algarve. Ele conhece bem o sítio porque o estudou e caracterizou para o doutoramento, concluído em 2010. Agora, André vai dar mais um passo e testar ali um protótipo de última geração para a utilização da energia das marés. E isso, espera ele, será apenas o princípio.
O objetivo é avaliar as possibilidades de aproveitamento da energia das marés naquele local, monitorizando durante dois meses o desempenho de uma turbina flutuante de demonstração.
O equipamento vai para a água em 2017 e, durante dois meses, será feito um estudo multidisciplinar, com a medição de todos os parâmetros, incluindo o impacto social - nesse período a energia será aproveitada para a ilha da Culatra.
"Vamos fazer isto pela primeira vez em Portugal", afirma André Pacheco. E sublinha: "Este é um projeto de demonstração e a ideia é, sobretudo, colocar a Ria Formosa, e Portugal, no mapa mundial da investigação e desenvolvimento nesta área. O objetivo é mostrar que a Ria Formosa é um dos locais do mundo onde vale a pena fazer os testes destas tecnologias".
Foi durante os trabalhos para o doutoramento que André Pacheco se apercebeu das potencialidades da Ria Formosa para a investigação na área das energias marinhas. "Fiquei sempre a pensar em como se poderia aproveitar toda aquela energia de marés", conta.
As tecnologias nesta área, evoluíram muito, entretanto, e André Pacheco, que fez em Inglaterra, na Universidade de Plymouth, parte do doutoramento e do pós-doutoramento que se seguiu - a outra parte fê-la em Portugal, na Universidade do Algarve -, acompanhou de perto a evolução das tecnologias para aproveitamento das energias marinhas, das quais o Reino Unido se tornou um dos líderes mundiais.
"Na Escócia, por exemplo, há imensos projetos e novos protótipos, nomeadamente de turbinas flutuantes. Foi aí que me lembrei de trazer uma para cá para estes testes", explica o investigador.
Mas não se limitou a isso. Ao mesmo tempo que submeteu o projeto para a Ria Formosa propôs-se também coordenar um projeto europeu para testar uma outra turbina no Mar da Irlanda, em colaboração com a OceanFlow Energy, uma das empresas europeias que desenvolve tecnologia nesta área. A proposta foi submetida ao programa-quadro e ganhou. .Nos próximos dois anos André Pacheco vai continuar a andar entre Portugal e o Reino Unido, ao sabor das suas boas marés.