Durante os dois dias do IV Congresso Internacional do Espaço t, subordinado ao tema "Sexo, Arte e Terapia", com palestrantes que iam do psicanalista Carlos Amaral Dias ao realizador de "filmes para adultos" Sá Leão, desde o pecado à pornografia, de tudo se falou no Seminário de Vilar, no Porto. .O sexólogo José Pacheco sublinhava que "o medo do sexo [não vingou a tese do escritor Mário Cláudio, que defendia a substituição do termo sexo pela palavra amor] nunca foi tão grande como na sociedade contemporânea". O clínico exemplificava a tese com as ideias que se vão disseminando em jeito de regras obrigatórias - deve-se praticar "x" vezes por semana, os orgasmos devem ser perfeitos, o controlo da ejaculação o mais demorado - e que "provocam um tsunami na cabeça das pessoas". Ora, "se cada indivíduo tem uma impressão digital, também a vivência da sexualidade é diferente de pessoa para pessoa" - até há gente que não gosta e também pode ser feliz..A despertar gargalhadas entre um auditório esmagadoramente feminino, o ex-director do Instituto de Medicina Legal, Pinto da Costa, lembrava que "há homens que não resistem a uma vassoura com saias". E, no entanto, uma das grandes mentiras é "que os homens estão sempre dispostos a ter relações sexuais e as mulheres não", o que também pode ser formulado com o pseudo-facto do macho ter "uma relação química" e a dama "necessitar de estar apaixonada", argumentaria, numa outra mesa-redonda, Alicia Gallotti, autora de O Novo Kamasutra Ilustrado - "queria escrever um livro do género Tudo o que você sempre quis perguntar sobre o sexo mas não tinha coragem para perguntar, mas Woody Allen já o tinha usado num filme", sorri, enquanto conversa sobre o seu primeiro sucesso, com 18 edições em Espanha e 25 (!) em Portugal, a que se juntam outros livros, como os Kamasutras para homens, para mulheres ou para gays..Um desfile de temas medos e mitos, tabus e preconceitos, sexo tântrico e censura de poemas eróticos, sex-shops e afrodisíacos, sida ("usar preservativo é como lavar os pés sem tirar as meias", comentava uma voz da assistência) e ternuras -"o maior órgão sexual é o cérebro", lembrava a sexóloga espanhola Olatz Gomes Llorens..A maior parte das centenas de participantes já não ouviu, porém, a conferência de encerramento, proferida pelo presidente da Associação Espanhola de Especialistas em Sexologia, Antonio Casaubón Alcaraz, intitulada "O futuro do sexo" - e que seria a melhor síntese do congresso. ."Tradicionalmente educou-se o homem para ser macho, ter auto- -estima e segurança, nunca falar dos seus problemas e iniciar a mulher - 'porque o homem sabe'. As mulheres foram educadas para serem dóceis, submissas, passivas e obedientes - dizerem 'sim' e deitarem-se de costas quando ele quer". O sexo, referia o palestrante, "associava-se a pecado, castigo, risco e tabu", enquanto a realidade era de "egoísmo masculino, culpa, amargura, medo, dor e vergonha"..Alcaraz defende que chegou o tempo de uma "revolução sexual" baseada no que define como "alma sexual", em que se mistura "emocional e racional, natural e cultural, filosofia e instinto", sem haver "dominadores e dominados" no par amoroso, que deve praticar sexo como "uma festa". Então, "todos seremos mais humanos - logo, mais felizes". Adeus, moral vitoriana.