Paralelamente à atividade política, Jorge Sampaio foi construindo ao longo dos anos 60 uma carreira profissional que fez dele um dos mais conhecidos advogados portugueses. A especialização em propriedade industrial, uma área altamente diferenciada na advocacia de negócios, deu-lhe fama e proveito..Começou a tratar de processos de marcas e patentes no novo escritório do seu patrono, José Olympio, que se mudara da Rua da Conceição, na Baixa, para a Rua Duque de Palmela, ao Marquês de Pombal, no final de 1964. Representou em tribunal grandes laboratórios internacionais da indústria farmacêutica, como a americana Wyeth ou a alemã Schering, que o levou a reuniões negociais na Suíça..Dedicou-se também ao direito do trabalho, tendo tido uma importante avença na seguradora Ourique..Em 1967, Sampaio envolveu-se num caso que poderia ter sido o mais badalado da sua carreira. Foi advogado do futebolista Simões, extremo-esquerdo do Benfica e da seleção nacional (um dos magriços que conquistaram o 3.º lugar no Mundial de 1966), num contrato com o Sporting cujo verdadeiro objetivo era permitir a sua transferência milionária para o Boca Juniors, da Argentina..O contrato chegou a ser assinado pelas duas partes, mas nunca foi acionado. Ao fim de um processo negocial com contornos rocambolescos - incluindo conversas sob disfarce (protagonizadas por Sampaio), pressões e ameaças -, Simões acabou por ficar no Benfica, mas com um aumento substancial de ordenado..Com a morte de José Olympio, em 1970, Sampaio tornou-se um dos principais nomes do escritório, a par de José Vasconcelos Abreu, Vítor Wengorovius e Nuno Brederode Santos. Quando a Avis, uma das maiores empresas de rent-a-car a nível mundial, veio para Portugal, através da C. Santos, deu apoio jurídico ao negócio..O advogado de topo que faturava centenas de contos (hoje seriam muitos milhares de euros) nos processos entre grandes empresas era o mesmo que, com igual profissionalismo, se empenhava, sem cobrar um tostão, no patrocínio de causas políticas e sociais..No início dos anos 70, aproveitando o temporário clima de abertura da Primavera Marcelista, Sampaio prestou apoio jurídico a vários sindicatos, cujas direções foram conquistadas por forças oposicionistas, como o dos Caixeiros e os da TAP. Fez também parte da comissão promotora que levou à legalização, em 1972, do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol..A costela associativa levou-o também a candidatar-se a delegado à assembleia-geral da Ordem dos Advogados. Ainda em 1972, foi um dos principais dinamizadores do I Congresso Nacional dos Advogados..Ao mesmo tempo, continuou a participar em processos políticos. Entre 1966 e 1970 defendeu o editor Fernando Ribeiro de Mello, acusado pela publicação da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, organizada por Natália Correia. Em 1971 e 1972 representou trabalhadores da Carris acusados de fazerem greve. Por duas vezes defendeu o comunista Joaquim Duarte, que só seria libertado de Peniche após o 25 de Abril. Outro dos seus constituintes foi o sindicalista José Ernesto Cartaxo, futuro dirigente da CGTP..Já em 1973, defendeu a médica Isabel do Carmo (que conhecera durante a crise académica de 1962 e que entretanto trocara o PCP pelas Brigadas Revolucionárias), acusada de ser coautora de um comunicado da Ordem dos Médicos sobre a morte do estudante José António Ribeiro Santos, abatido a tiro por um agente da PIDE em outubro de 1972..Outra militante das Brigadas Revolucionárias defendida por Sampaio foi Conceição Moita, irmã do então padre e futuro vice-reitor da Universidade Autónoma de Lisboa Luís Moita, que só saiu da prisão depois do 25 de Abril..O "caso da Capela do Rato", como ficou conhecida a ocupação daquela capela por um grupo de católicos progressistas em protesto contra a guerra colonial, no último dia de 1972, suscitou também a intervenção de Jorge Sampaio, que defendeu no Supremo Tribunal Administrativo três dos funcionários públicos punidos pela sua participação nos incidentes, incluindo o catedrático de Economia (e dirigente da CDE) Pereira de Moura..Também o atual presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, teria sido defendido por Jorge Sampaio se o seu caso tivesse chegado à barra do tribunal: acusado por manifestação não autorizada no 1.º de Maio de 1973, o julgamento foi marcado para depois de 25 de abril do ano seguinte..Quando percebeu que tinha aberto a caixa de Pandora com a sua tentativa de "evolução na continuidade", Marcelo Caetano apressou-se a tentar fechá-la. A repressão censória e policial recrudesceu - mas o vírus da Primavera Marcelista já se tinha espalhado pelo país..Descontente com o rumo da CDE, que apoiara de alma e coração em 1969 e agora constatava ser mais uma correia de transmissão controlada pelo PCP, Jorge Sampaio procurou organizar uma esquerda socialista independente, alternativa aos comunistas, à social-democracia de Mário Soares (que, apesar da sua moderação, fora obrigado a exilar-se em Paris, em 1970) e também às tentações perigosas da luta armada e dos atentados bombistas - por ordem de entrada em cena: Frente de Ação Popular (FAP), cisão maoísta do PCP, Liga de Unidade e Ação Revolucionária (LUAR), responsável pelo espetacular assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967, Ação Revolucionária Armada (ARA), inconfessado braço armado do PCP, e as já referidas Brigadas Revolucionárias..Sampaio conseguiu fazer convergir à sua volta pessoas com ideias e origens muito diferentes, unidas na vontade de criar essa alternativa: desde logo os amigos intelectuais (advogados, e não só) do "grupo do Florida", nome do hotel vizinho do seu escritório, em cujo bar habitualmente almoçavam e discutiam; católicos progressistas que tinham estado a seu lado na CDE, em 1969; sindicalistas com influência nas novas direções desafetas ao regime que tinham aproveitado a abertura para tomar por dentro os velhos sindicatos corporativos, com destaque para Agostinho Roseta e Manuel Lopes, e ativistas estudantis, oriundos quase todos de Económicas, incluindo os futuros ministros Ferro Rodrigues, Augusto Mateus e Vieira da Silva..O núcleo duro do grupo era formado por Vítor Wengorovius, Agostinho Roseta e José Dias, além do próprio Sampaio. Mais tarde juntar-se-lhes-ia o arquiteto Nuno Teotónio Pereira, líder informal dos católicos progressistas, e César Oliveira..As eleições legislativas de outubro de 1973 foram muito diferentes das de 1969. No início de abril daquele ano realizou-se o Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, que marcou a reaproximação entre comunistas e socialistas. Sampaio e os seus correligionários, autoproclamados "ala esquerda" ou "setor não-reformista" da CDE, primaram pela ausência. Ainda em abril, socialistas idos de Portugal e de vários núcleos da emigração juntaram-se a Mário Soares em Bad Munstereifel, na então Alemanha Ocidental, para fundarem o PS, sob os auspícios do SPD de Willy Brandt e com o apoio da Internacional Socialista. Antes e depois disso, Mário Soares e Álvaro Cunhal encontraram-se em Paris para acordarem num Programa Comum, à imagem e semelhança do que tinham feito o PS e o PC franceses poucos meses antes..Cada vez mais radical, o grupo de Jorge Sampaio abandonou formalmente a CDE, denunciando o "reformismo" do movimento, e ficou fora da campanha eleitoral, que, aliás, culminou na desistência da oposição, em protesto contra a falta de liberdade..Os chamados "socialistas independentes" tomaram como referência o pequeno Partido Socialista Unificado (PSU) francês, de Michel Rocard (futuro primeiro-ministro do presidente François Mitterrand), mas, nos últimos meses de 1973 e no início de 1974, resvalaram cada vez mais para a esquerda..A revolução apanhou Jorge Sampaio de surpresa - e casado de fresco. Divorciado de Karin desde 1971, voltara a casar-se, a 6 de abril de 1974, com Maria José Ritta (ver caixa). Foi César Oliveira quem lhe telefonou de madrugada, no dia 25, com a notícia de que a tropa estava na rua. Ainda foi para o escritório, mas acabou por ir buscar a mulher ao trabalho, na vizinha loja da TAP, na Praça Marquês de Pombal, e foram para casa, conforme "mandavam" os comunicados do MFA lidos aos microfones do Rádio Clube Português. Sampaio foi dos raros lisboetas que não saíram à rua para ver a Revolução dos Cravos....O advogado passou o dia seguinte em Caxias, a exigir aos novos donos do poder a libertação de todos os presos políticos. As fotos da época mostram- -no com ar decidido ao lado de oficiais do MFA, juntamente com Salgado Zenha, Pereira de Moura, o ator Rogério Paulo e Francisco Sousa Tavares, acompanhado do filho, o muito jovem Miguel Sousa Tavares..Depois de alguma hesitação - Spínola tentou inicialmente excluir da libertação os acusados de crimes de sangue -, os presos políticos acabaram por sair todos de Caxias e de Peniche..A 27 de abril, Sampaio publicou pela primeira vez um artigo sem censura, no semanário Expresso, e a 30 teve honras de entrevista na RTP, num programa especial sobre o dia seguinte: o primeiro 1.º de Maio..O jornalista João Ferreira já não faz parte da redação do DN
Paralelamente à atividade política, Jorge Sampaio foi construindo ao longo dos anos 60 uma carreira profissional que fez dele um dos mais conhecidos advogados portugueses. A especialização em propriedade industrial, uma área altamente diferenciada na advocacia de negócios, deu-lhe fama e proveito..Começou a tratar de processos de marcas e patentes no novo escritório do seu patrono, José Olympio, que se mudara da Rua da Conceição, na Baixa, para a Rua Duque de Palmela, ao Marquês de Pombal, no final de 1964. Representou em tribunal grandes laboratórios internacionais da indústria farmacêutica, como a americana Wyeth ou a alemã Schering, que o levou a reuniões negociais na Suíça..Dedicou-se também ao direito do trabalho, tendo tido uma importante avença na seguradora Ourique..Em 1967, Sampaio envolveu-se num caso que poderia ter sido o mais badalado da sua carreira. Foi advogado do futebolista Simões, extremo-esquerdo do Benfica e da seleção nacional (um dos magriços que conquistaram o 3.º lugar no Mundial de 1966), num contrato com o Sporting cujo verdadeiro objetivo era permitir a sua transferência milionária para o Boca Juniors, da Argentina..O contrato chegou a ser assinado pelas duas partes, mas nunca foi acionado. Ao fim de um processo negocial com contornos rocambolescos - incluindo conversas sob disfarce (protagonizadas por Sampaio), pressões e ameaças -, Simões acabou por ficar no Benfica, mas com um aumento substancial de ordenado..Com a morte de José Olympio, em 1970, Sampaio tornou-se um dos principais nomes do escritório, a par de José Vasconcelos Abreu, Vítor Wengorovius e Nuno Brederode Santos. Quando a Avis, uma das maiores empresas de rent-a-car a nível mundial, veio para Portugal, através da C. Santos, deu apoio jurídico ao negócio..O advogado de topo que faturava centenas de contos (hoje seriam muitos milhares de euros) nos processos entre grandes empresas era o mesmo que, com igual profissionalismo, se empenhava, sem cobrar um tostão, no patrocínio de causas políticas e sociais..No início dos anos 70, aproveitando o temporário clima de abertura da Primavera Marcelista, Sampaio prestou apoio jurídico a vários sindicatos, cujas direções foram conquistadas por forças oposicionistas, como o dos Caixeiros e os da TAP. Fez também parte da comissão promotora que levou à legalização, em 1972, do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol..A costela associativa levou-o também a candidatar-se a delegado à assembleia-geral da Ordem dos Advogados. Ainda em 1972, foi um dos principais dinamizadores do I Congresso Nacional dos Advogados..Ao mesmo tempo, continuou a participar em processos políticos. Entre 1966 e 1970 defendeu o editor Fernando Ribeiro de Mello, acusado pela publicação da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, organizada por Natália Correia. Em 1971 e 1972 representou trabalhadores da Carris acusados de fazerem greve. Por duas vezes defendeu o comunista Joaquim Duarte, que só seria libertado de Peniche após o 25 de Abril. Outro dos seus constituintes foi o sindicalista José Ernesto Cartaxo, futuro dirigente da CGTP..Já em 1973, defendeu a médica Isabel do Carmo (que conhecera durante a crise académica de 1962 e que entretanto trocara o PCP pelas Brigadas Revolucionárias), acusada de ser coautora de um comunicado da Ordem dos Médicos sobre a morte do estudante José António Ribeiro Santos, abatido a tiro por um agente da PIDE em outubro de 1972..Outra militante das Brigadas Revolucionárias defendida por Sampaio foi Conceição Moita, irmã do então padre e futuro vice-reitor da Universidade Autónoma de Lisboa Luís Moita, que só saiu da prisão depois do 25 de Abril..O "caso da Capela do Rato", como ficou conhecida a ocupação daquela capela por um grupo de católicos progressistas em protesto contra a guerra colonial, no último dia de 1972, suscitou também a intervenção de Jorge Sampaio, que defendeu no Supremo Tribunal Administrativo três dos funcionários públicos punidos pela sua participação nos incidentes, incluindo o catedrático de Economia (e dirigente da CDE) Pereira de Moura..Também o atual presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, teria sido defendido por Jorge Sampaio se o seu caso tivesse chegado à barra do tribunal: acusado por manifestação não autorizada no 1.º de Maio de 1973, o julgamento foi marcado para depois de 25 de abril do ano seguinte..Quando percebeu que tinha aberto a caixa de Pandora com a sua tentativa de "evolução na continuidade", Marcelo Caetano apressou-se a tentar fechá-la. A repressão censória e policial recrudesceu - mas o vírus da Primavera Marcelista já se tinha espalhado pelo país..Descontente com o rumo da CDE, que apoiara de alma e coração em 1969 e agora constatava ser mais uma correia de transmissão controlada pelo PCP, Jorge Sampaio procurou organizar uma esquerda socialista independente, alternativa aos comunistas, à social-democracia de Mário Soares (que, apesar da sua moderação, fora obrigado a exilar-se em Paris, em 1970) e também às tentações perigosas da luta armada e dos atentados bombistas - por ordem de entrada em cena: Frente de Ação Popular (FAP), cisão maoísta do PCP, Liga de Unidade e Ação Revolucionária (LUAR), responsável pelo espetacular assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967, Ação Revolucionária Armada (ARA), inconfessado braço armado do PCP, e as já referidas Brigadas Revolucionárias..Sampaio conseguiu fazer convergir à sua volta pessoas com ideias e origens muito diferentes, unidas na vontade de criar essa alternativa: desde logo os amigos intelectuais (advogados, e não só) do "grupo do Florida", nome do hotel vizinho do seu escritório, em cujo bar habitualmente almoçavam e discutiam; católicos progressistas que tinham estado a seu lado na CDE, em 1969; sindicalistas com influência nas novas direções desafetas ao regime que tinham aproveitado a abertura para tomar por dentro os velhos sindicatos corporativos, com destaque para Agostinho Roseta e Manuel Lopes, e ativistas estudantis, oriundos quase todos de Económicas, incluindo os futuros ministros Ferro Rodrigues, Augusto Mateus e Vieira da Silva..O núcleo duro do grupo era formado por Vítor Wengorovius, Agostinho Roseta e José Dias, além do próprio Sampaio. Mais tarde juntar-se-lhes-ia o arquiteto Nuno Teotónio Pereira, líder informal dos católicos progressistas, e César Oliveira..As eleições legislativas de outubro de 1973 foram muito diferentes das de 1969. No início de abril daquele ano realizou-se o Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, que marcou a reaproximação entre comunistas e socialistas. Sampaio e os seus correligionários, autoproclamados "ala esquerda" ou "setor não-reformista" da CDE, primaram pela ausência. Ainda em abril, socialistas idos de Portugal e de vários núcleos da emigração juntaram-se a Mário Soares em Bad Munstereifel, na então Alemanha Ocidental, para fundarem o PS, sob os auspícios do SPD de Willy Brandt e com o apoio da Internacional Socialista. Antes e depois disso, Mário Soares e Álvaro Cunhal encontraram-se em Paris para acordarem num Programa Comum, à imagem e semelhança do que tinham feito o PS e o PC franceses poucos meses antes..Cada vez mais radical, o grupo de Jorge Sampaio abandonou formalmente a CDE, denunciando o "reformismo" do movimento, e ficou fora da campanha eleitoral, que, aliás, culminou na desistência da oposição, em protesto contra a falta de liberdade..Os chamados "socialistas independentes" tomaram como referência o pequeno Partido Socialista Unificado (PSU) francês, de Michel Rocard (futuro primeiro-ministro do presidente François Mitterrand), mas, nos últimos meses de 1973 e no início de 1974, resvalaram cada vez mais para a esquerda..A revolução apanhou Jorge Sampaio de surpresa - e casado de fresco. Divorciado de Karin desde 1971, voltara a casar-se, a 6 de abril de 1974, com Maria José Ritta (ver caixa). Foi César Oliveira quem lhe telefonou de madrugada, no dia 25, com a notícia de que a tropa estava na rua. Ainda foi para o escritório, mas acabou por ir buscar a mulher ao trabalho, na vizinha loja da TAP, na Praça Marquês de Pombal, e foram para casa, conforme "mandavam" os comunicados do MFA lidos aos microfones do Rádio Clube Português. Sampaio foi dos raros lisboetas que não saíram à rua para ver a Revolução dos Cravos....O advogado passou o dia seguinte em Caxias, a exigir aos novos donos do poder a libertação de todos os presos políticos. As fotos da época mostram- -no com ar decidido ao lado de oficiais do MFA, juntamente com Salgado Zenha, Pereira de Moura, o ator Rogério Paulo e Francisco Sousa Tavares, acompanhado do filho, o muito jovem Miguel Sousa Tavares..Depois de alguma hesitação - Spínola tentou inicialmente excluir da libertação os acusados de crimes de sangue -, os presos políticos acabaram por sair todos de Caxias e de Peniche..A 27 de abril, Sampaio publicou pela primeira vez um artigo sem censura, no semanário Expresso, e a 30 teve honras de entrevista na RTP, num programa especial sobre o dia seguinte: o primeiro 1.º de Maio..O jornalista João Ferreira já não faz parte da redação do DN