REVOLUÇÃO CUBANA AO ESTILO DE RAÚL CASTRO

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Cuba. No poder desde Fevereiro, o irmão mais novo de Fidel Castro começou a pouco e pouco a reformar o país que herdou há dois anos, quando o histórico líder cubano desapareceu dos olhares públicos por motivos de saúde

REVOLUÇÃO CUBANA AO ESTILO DE RAÚL CASTRO

O discurso mais importante do ano para o Presidente de Cuba é aquele que é feito no aniversário do assalto ao quartel Moncada, considerado o primeiro passo da revolução cubana. Hoje, pela segunda vez em quase 50 anos, o irmão Castro que ocupará a tribuna será Raúl e não Fidel. E pela primeira vez falará como o líder oficial e não apenas como o substituto provisório do líder histórico. Em 2007, prometeu "mudanças estruturais" mas não "soluções espectaculares". Hoje, os cubanos querem ouvir mais, depois dos pequenos passos que foram dados em 12 meses.

Consumo

As filas à entrada das lojas no dia em que o Governo autorizou a venda de televisores, telemóveis ou computadores só surpreenderam aqueles que desconheciam a existência de duas realidade em Cuba: a dos que trabalham no sector do turismo ou recebem dólares enviados pelos familiares e a dos que têm que viver com apenas 17 dólares (cerca de dez euros) de salário. Estas duas realidades são agora visíveis pelos bens de consumo que cada um possui. As alterações neste sector foram as mais divulgadas, bem como a possibilidade de os cubanos usarem os hotéis da ilha ou poderem alugar carros. Mas na prática beneficiam uma minoria.

Salários e reformas

Uma das principais queixas dos cubanos (desde que foram convidados pelo Governo a expressar as suas preocupações) é precisamente sobre os salários. Pedem aumentos, mas Raúl Castro já anunciou que o estado da economia não permite que tal aconteça rapidamente. O que já mudou foi a eliminação do "igualitarismo", com o estabelecimento de um salário por produtividade, e o aumento do tecto salarial. No seu discurso no Parlamento, o Presidente falou também da introdução de impostos e anunciou o aumento em cinco anos da idade de reforma, para os 60 no caso dos homens e 55, no das mulheres.

Agricultura

Com mais de 50% de terras ociosas e o aumento dos preços dos alimentos a nível internacional, Raúl decretou como "prioritárias" as mudanças neste sector. O Governo aprovou este mês um decreto que regulamenta a entrega dessas terras aos privados que as queiram trabalhar (no máximo até 40 hectares) tendo também dado liberdade de plantação aos agricultores. O contrato de usufruto será por dez anos, renovável por outros dez.

Educação

Este sempre foi um sector-chave da revolução, mas nos últimos anos as autoridades deparavam-se com o aumento das críticas em relação à qualidade do ensino e com um problema ao nível da preparação dos professores. Muitos ficam pouco tempo no seu emprego, preferindo o "êxodo" para outras profissões. Agora, o Governo apela aos professores que já estavam reformados que regressem ao trabalho, oferecendo-lhes o salário normal para além da pensão de reforma.

Direitos humanos

É o calcanhar de Aquiles de Cuba, apesar da assinatura de dois tratados internacionais sobre o tema. As organizações queixam-se de perseguição da parte do Governo e lembram as duas centenas de presos políticos que ainda estão encarcerados. E apesar de começarem a surgir críticas nos jornais oficiais, não existe uma verdadeira liberdade de imprensa.|

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