Revisão da constituição de Pinochet é desafio de Bachelet
c"Bachelet tem três grandes desafios: o problema da constituição, a educação, pois o Chile sempre teve educação gratuita - apenas 22% de alunos da universidade pagavam porque vinham de famílias que podiam pagar, mas 78% não pagava - e o problema indígena, que nunca foi resolvido", disse à agência Lusa o jornalista que chegou a Portugal pela primeira vez em 1975.
Para Mário Dujisin, o processo democrático iniciado em 1990 com a queda do regime de Pinochet ainda não se traduziu numa "democracia verdadeira", uma vez que impera ainda a constituição "Pinochetista" de 1980.
"A democracia no Chile não é uma democracia verdadeira, é uma democracia protegida pelas forças armadas", afirmou Mário Dujisin à agência Lusa.
A tão esperada revisão constitucional nunca aconteceu porque no Chile, tal como em Portugal, são necessários os votos de dois terços dos deputados e a esquerda nunca conseguiu essa vantagem sobre a direita.
O golpe militar de 11 de setembro de 1973 ainda impera na memória da sociedade chilena. Passados 40 anos, não há ainda certezas sobre as causas da morte de Salvador Allende: terá cometido suicídio, naquela que é a tese oficial, ou foi morto por militares, conforme afirmam duas jornalistas chilenas em dois livros publicados recentemente.
Para Mário Dujisin, a verdade encontra-se entre as duas teses: "Dias depois do golpe falei com o comissário da polícia judiciária que era muito meu amigo e que esteve com Allende até ao fim. Contou-me que o presidente estava muito ferido por causa do bombardeamento ao La Moneda e dos tiros na rua, e que quando os militares começaram a subir as escadas deu um tiro em si próprio para não ser apanhado vivo. Mas depois um soldado entrou e disparou vários tiros".
"Sabíamos que era um homem de muita coragem. Sabíamos que não se ia render e que não ia aceitar a proposta dos militares para apanhar um avião para fora do país. Conhecíamos bem Allende, era um homem que não tinha medo da morte", afirmou.
Mário Dujisin, correspondente da agência de notícias italiana (ANSA) em Portugal, orgulha-se de ter feito chegar o último discurso de Allende às rádios de esquerda chilenas, bem como aos órgãos de comunicação social internacionais que assistiam a um golpe de estado imposto por um general que iria ser responsável por mais de 3.000 mortes e milhares de desaparecidos.
Viviam-se os primeiros períodos de liberdade em Portugal quando este antigo chefe do departamento de informação internacional do gabinete da presidência chilena chegou a Portugal. Sobreviveu a dois golpes militares e à clandestinidade no Chile e na Argentina.
"Quando uma pessoa vem da América Latina, um continente cheio de golpes de Estado nessa altura, e chega a um país onde pela primeira vez na história da humanidade um exército faz um golpe de Estado para impor a democracia pela força das armas é uma maravilha. É poesia. Onde é que já se tinha visto isso", afirmou o jornalista à agência Lusa.
Mário Dujisin estabelece até comparações entre os modelos económicos dos dois países: o do Chile, o primeiro país a implementar o neoliberalismo, precisamente o modelo que, considera, está a ser imposto em Portugal.
"O modelo económico que se está a implementar em Portugal, Espanha e Grécia só foi experimentado antes em ditaduras militares no continente Sul Americano. Esse modelo só foi possível em ditaduras militares nos anos 70 nos países do sul da América. Esse modelo significou marginalizar 30 por cento da população, que não tinha acesso a saúde ou educação", sublinhou.