Retomar o controlo das nossas vidas

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As oportunidades e os perigos da inteligência artificial merecem reforçada reflexão. A importância do assunto toca-nos a todos, mesmo que para muitos ainda pareça ser um dilema distante ou futurista. Os seus criadores têm alertado para os perigos de ficar fora de controlo, superar a mente humana e para a urgência de criar medidas de controlo e proteção, conforme detalhei ontem neste mesmo espaço editorial.

Um estudo da última semana revela que o investimento nesta área vai continuar a crescer. O IDC Future of Intelligence aponta que nos próximos cinco anos, os investimentos vão orientar-se por uma dezena de grandes tendências e de que vale a pena tomar nota. Primeira, a escassez de talento levará 35% das organizações das tecnologias de informação (TI) a investir em IA e em competências de IA até 2023, tanto para executar operações de TI automatizadas como para apoiar os utilizadores finais empresariais que adotam estas novas soluções e a automação.

Segunda tendência, até 2026 as funcionalidades orientadas para a IA serão integradas em todas as categorias de tecnologia empresarial e 60% das organizações vão utilizar, ativamente, essas funcionalidades para obter melhores resultados sem depender de talentos técnicos de IA. Terceira, à medida que os modelos de IA se tornam estratégicos, os responsáveis vão estar mais atentos ao risco e à governação dos modelos. Até 2025, 60% dos CFOs (administradores financeiros) das empresas tecnológicas pretende incorporar os riscos de IA como parte dos seus programas de risco empresarial.

Quarta tendência, até 2024, a maioria das organizações aproveitará ferramentas de desenvolvimento sem código para, pelo menos, 30% das suas iniciativas de IA e automação, ajudando a dimensionar a transformação digital (DX) e a democratizar a IA. Quinta, até 2026, os modelos de linguagem através de uma grande quantidade de parâmetros, que servem como base para a construção de outros modelos ou aplicações de IA, vão tornar-se um padrão da indústria, sendo desenvolvidos apenas pelos maiores fornecedores.

Na sexta antevisão, a IDC aponta que até 2026, 40% dos modelos de IA vão incorporar múltiplas modalidades de dados, para melhorar a aprendizagem e colmatar as atuais deficiências de conhecimento quotidiano nas soluções de IA de modalidade única. Sétima, impulsionados pela componentização das aplicações (arquitetura de software e design de aplicações) e pelos avanços na IA/aprendizagem automática (ML), 25% das empresas das maiores a nível globalmente vão desenvolver aplicações criadas com inteligência artificial, até 2027. Essa tendência tem o potencial de causar uma disrupção nos papéis tradicionais de programadores de software. Oitava dica, para acelerar o desenvolvimento da automação e maximizar os benefícios, até 2025, 50% das organizações vão adotar estratégias inteligentes de execução de negócios, acelerando todos os aspetos do ciclo de vida da automação com IA.

Há mais duas antevisões a ter em conta. A penúltima diz que até 2026, 75% das grandes empresas vão contar com processos baseados em IA para melhorar a eficiência dos ativos, simplificar as cadeias de fornecimento e melhorar a qualidade dos produtos em ambientes diversificados e distribuídos. E a décima previsão, relata que em resposta às preocupações com a sustentabilidade e à incerteza económica, até 2024, 40% das maiores organizações adotará ferramentas para quantificar, prever e otimizar o custo-benefício do seu ciclo de vida de IA.

Quando olhamos para tudo isto encontramos muitas oportunidades, mas também muitos desafios legais, morais e éticos, consoante a aplicabilidade destes princípios que podem nortear o futuro das organizações. É crítico alertar para os riscos da tecnologia não só em termos de invasão da privacidade e dados pessoais, mas também de uma futura descodificação cerebral. Se além dos ganhos, há riscos profundos para a sociedade e a humanidade então as autoridades reguladoras e a vigilância são ainda mais fundamentais. A Comissão Europeia já disse que a UE não pode perder tempo e deve regular, em prol da segurança, ética e controlo da situação pelos humanos. Na segunda metade desta década, vamos todos ter uma nova missão: distinguir entre o real e o artificial, retomando o controlo do comando das nossas vidas.

Diretora do Diário de Notícias

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