Resolução da ONU terá luz verde de Israel e Líbano
O Conselho de Segurança das Nações Unidas preparava-se ontem à noite para votar, por unanimidade, um novo projecto de resolução franco-americano para pôr fim ao conflito no Líbano. O primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, vai aconselhar o Governo a aceitar esta proposta, apesar de ficar aquém do pretendido por Israel. O Estado hebreu deverá contudo manter a nova fase da ofensiva terrestre. O Líbano também vai dar luz verde ao projecto.
O novo texto apela ao fim imediato das hostilidade e prevê o envio de uma força da ONU com um mandato alargado para o Sul do Líbano, de forma a garantir a retirada "o mais rapidamente possível" das tropas israelitas. A primeira resolução, apresentada dia 5, tinha sido rejeitada por Beirute por não prever essa retirada.
O problema é que a força internacional seria destacada sob o artigo VI da Carta da ONU, que apenas prevê o uso da força em situações extremas. Israel, ao contrário do Líbano, queria que fosse aplicado o artigo VII, que permite uma maior margem de manobra. Segundo Telavive, só uma força "com verdadeiros poderes" pode impedir o Hezbollah de representar uma ameaça para o Estado hebreu.
"Este projecto de resolução foi deformado após a intervenção do Líbano sob pressão do Hezbollah. As discussões passaram a ser regateadas como numa loja de tapetes. Não caíremos nessa armadilha", afirmou um porta-voz do Governo israelita, antes de Olmert o aceitar. Avi Pazner disse que o texto era "inaceitável".
Contudo, segundo o embaixador britânico na ONU, Emyr Jones-Parry, o mandato desta força é "bastante robusto": "Apesar de o Líbano ganhar um pouco nas mudanças introduzidas, Israel também tem preocupações e ninguém o quer retirar da equação."
A nova resolução prevê o reforço da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Finul) até o máximo de 15 mil homens. Os capacetes azuis serão enviados para o Sul do Líbano, de forma a monitorizar a retirada israelita e auxiliar os 15 mil militares libaneses a garantir o controlo da região, até agora dominada pelo Hezbollah. Desde a sua implementação, em 1978, que a Finul conta com dois mil elementos - entre militares e observadores.
Negociações
"Acho que já tivemos discussões suficientes. É tempo de tomar uma decisão, e espero que seja ainda hoje [ontem]", dizia de manhã o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. De modo a desbloquear a situação, a secretária de Estado norte-americana, Condoleeza Rice, e a ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Margaret Beckett, viajaram para Nova Iorque. O chefe da diplomacia francesa, Philippe Douste-Blazy, chegou já ao final da tarde. Durante todo o dia, dizia-se que estava para breve um acordo.
Isto apesar de declarações de ambos os lados em que parecia não haver possibilidade de cedência. O líder da maioria parlamentar libanesa, Saad Hariri, garantia que o Líbano não iria ceder no que dizia respeito às quintas de Shebaa, ocupadas por Israel. O plano libanês pedia que este sector ficasse sob "jurisdição da ONU", até regressar à soberania libanesa. A nova resolução não faz contudo referência a Shebaa, nem a outro ponto crucial para Israel - a referência aos soldados israelitas raptados pelo Hezbollah, cujo sequestro deu início ao conflito.
Rússia
Contudo, perante a indecisão das negociações, a Rússia preparava-se para apresentar uma resolução que previa o "fim imediato e completo das hostilidades por um período de 72 horas, por razões humanitárias". O embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, explicou que a proposta surgia devido à "falta de entendimento" entre franceses e americanos, em nome de todos aqueles que desejavam que as negociações chegassem rapidamente a uma conclusão, incluindo Annan.
O objectivo russo não é uma solução de longo prazo, explicou o embaixador, acrescentando que a resolução de Moscovo não punha em causa uma eventual proposta franco-americana. O projecto da Rússia não foi contudo bem recebido em Nova Iorque. O embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, criticou-o, dizendo que americanos e franceses procuravam uma solução "permanente e duradoura".