República do Sudão do Sul: o 54.º Estado de África nasce a 9 de Julho

<p>99% dos sul-sudaneses optaram pela autodeterminação no referendo </p>
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O local escolhido para o anúncio não poderia ser mais simbólico. No mausoléu de John Garang, líder histórico dos rebeldes sulistas que morreu num acidente de helicóptero em Julho 2005, foram anunciados os primeiros resultados preliminares completos do referendo sobre a autodeterminação do Sul do Sudão: 99% votou a favor da separação do Norte. Está assim aberto o caminho para o nascimento de um novo país: o 54.º no continente africano e o 193.º a nível mundial.

"Garanti que vocês, sulistas, iriam votar em mais de 90% [a favor da hipótese da independência] e vocês deram-me razão", declarou ontem Salva Kiir, que foi citado pela reportagem da AFP. Antigo rebelde e sucessor de John Garang na presidência deste território, Kiir lembrou no seu discurso todos os que perderam a vida durante os 21 anos de guerra civil. "Quero que eles e as suas famílias saibam que não morreram em vão."

Envergando o seu habitual fato e chapéu de cor preta, Kiir falou naquele local de Juba perante uma multidão em festa, que cantava e dançava para celebrar o que considera a sua terra prometida. "Mostrámos ao Norte que nós queríamos ser livres", declarou, à AFP, James Mandut, um estudante que veio celebrar os resultados da consulta popular.

No Sul do Sudão, a independência teve 99,57% dos votos. No estrangeiro esta opção recolheu 99% e no Norte 58%. Num total de 3 851 994 boletins de voto depositados no Sul, apenas 16 129 foram pela manutenção da unidade daquele que é o maior país do continente africano, indicou no meio da euforia Chan Reec, o presidente da comissão eleitoral responsável pelas assembleias de voto no Sul do Sudão.

No Norte do país, o controverso Presidente Omar al-Bashir já deu a entender que respeitará a decisão dos sul-sudaneses a favor da sua independência, prometendo que irá desenvolver relações amigáveis com o novo país. Este referendo sobre a autodeterminação foi possível devido ao acordo de paz de Janeiro de 2005 - seis meses antes da morte de Garang. Na sequência desse entendimento, o líder do Movimento de Libertação Popular do Sudão (SPLM) passou a ser vice-presidente do Sudão e presidente da parte sul. As receitas do petróleo têm sido desde então divididas 50-50, entre o Norte muçulmano e o Sul cristão.

Os resultados definitivos da consulta popular realizada este mês são esperados entre os dias 7 e 14 de Fevereiro. O acordo assinado em 2005 ainda prevê várias negociações até à separação efectiva do que será a República do Sudão do Sul, prevista para 9 de Julho. E, por isso, Salva Kiir pediu paciência. "O que é que pensam que vou fazer? Declarar a independência do Sul? Não podemos fazer isso. Respeitemos o acordo e assim chegaremos em segurança ao nosso destino."

O novo país, rico em petróleo, contará certamente com o apoio de grandes potências como os Estados Unidos ou a China. Ontem, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, William Hague, foi dos primeiros a congratular-se com os resultados do referendo, que decorreu entre os dias 9 e 15. "Saúdo o anúncio dos resultados. Os sul-sudaneses exprimiram de forma esmagadora o seu desejo de secessão e de fazer do Sul do Sudão um novo país", disse o chefe da diplomacia de Londres.

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