Imagine-se que o meu passeio pelo castelo de Praga foi graças aos Rolling Stones. Na verdade, até o fim da década de 1980, o castelo não tinha iluminação para ser contemplado à noite. Este facto chamou a atenção da banda, que esteve na cidade em 1989, por altura da separação dos dois países que formavam a Checoslováquia. Naturalmente que o donativo para a iluminação foi bem recebido, pelos responsáveis e pela população da capital da República Checa, agora Chéquia, mas que não deixa de ser república. A relação com grandes nomes do "pop-rock" não fica por aqui, porque John Lennon recebeu uma homenagem através de uma pintura de um autor desconhecido num muro da cidade, ainda durante o domínio comunista. A pintura foi apagada na época, mas já depois do fim da União Soviética alguns pintores reviveram-na através de uma nova intervenção, mas de novo eliminada e de novo pintada e de novo eliminada e de novo pintada, até hoje, num cisma infinito. Até parece uma contínua ponte entre o passado e o futuro através da pintura. A propósito, a ponte que serve de caminho entre o castelo e a cidade foi erguida a pedido do supersticioso Imperador Carlos IV, do Império Romano Germânico, que colocou a primeira pedra, às 5h31 do dia 9 de julho de 1357, porque seguiu a orientação da numerologia e da astrologia, que indicou ser um bom momento, por causa da junção dos números: 1 3 5 7 9 7 5 3 1. Esta é uma ponte de união mas, pelos vistos, também um símbolo. Ao passar em frente da Câmara Municipal, olhei o Relógio Astronómico mais antigo do mundo em funcionamento, mesmo sofrendo ataques na Segunda Guerra Mundial. Construído em 1410, move-se de hora a hora, e os 12 apóstolos deixam o interior e fazem uma pequena caminhada. Tal como foi a minha procura por uma Duff, no primeiro dia da visita. Porém, a cerveja é inexistente, apesar de ter sido dada a sua origem aos checos, em "The Simpsons", a série de animação e "sitcom" norte-americana. "Não me canso desta maravilhosa Duff!" era o "slogan" da marca de cerveja mais popular nesta série, entusiasticamente promovida por Duffman, a mascote. Claro que tudo isto é fictício, desde a cerveja à cidade de Springfield. A geografia, os arredores e o "layout" da cidade imaginada variavam muitas vezes para acomodar o enredo de qualquer episódio. Porém, a cerveja mantinha-se checa, vendida em abundância no bar desta série de bonecos animados. Só que os bares onde eu entrei, realmente, eram diferentes, mas havia bonecas de carne e osso bem animadas, para além de que a cidade não parecia ter um "layout" tão variável. A cerveja teve de ser de outra marca, e há muitas e os sabores são do melhor. Só que, em termos de bebida, o mais curioso estava para acontecer. Não é hábito eu visitar jardins zoológicos. Porém, ali, suscitou-me ir ao zoológico de Praga, que naturalmente vende bilhetes para vermos animais, mas também vende uma bebida original: Urina de Elefante. Trata-se de um licor de ervas, com funções digestivas, que não tem nenhuma relação com o animal que dá origem ao seu nome, mas que é promovida ali mesmo e servida nas casas familiares como aperitivo. Sem a Duff, mas com Urina de Elefante, o que importa, porém, é que Praga é uma das cidades mais belas e a música soa por todos os lados, impelindo as pessoas a dançarem. Tal como a arquitetura, porque não será por acaso que, no centro de Praga, existe, desde a década de 1990, a Casa Dançante, inspirada em Fred Astaire e Ginger Rogers, projetada numa parceria entre o arquiteto checo Vlado Milunic e o arquiteto canadiano Frank Gehry, numa área ribeirinha vazia, na qual houve um prédio, também icónico, mas que foi destruído durante o bombardeamento de Praga, em 1945. Em danças e contradanças se sente a história da cidade, e eu não me cansei desta maravilhosa Praga!.Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.