REPORTAGEM: Xiamen, uma China à beira-mar onde se janta tarde e se dorme a sesta

Xiamen, XX mai (Lusa) - Situada na costa sudeste chinesa, a cidade de Xiamen oferece um cenário distinto da China industrializada e densamente povoada das grandes metrópoles, com coqueiros, areais ou restaurantes onde se serve marisco até de madrugada.
Publicado a
Atualizado a

"Adoro viver aqui", afirma Aziz Mattews, estudante sul-africano da Universidade de Xiamen. "Sinto-me como na minha terra-natal, a Cidade do Cabo: vive-se junto à praia e de forma descontraída", descreve.

Com mais de três milhões de habitantes, Xiamen divide-se entre uma ilha e parte do continente da China, ligados por cinco pontes e dois túneis submarinos.

Na ilha, ficam algumas das poucas zonas balneares do país asiático: meia-dúzia de areais, de areia fina e amarela, com coqueiros plantados ao longo da orla.

Aqui, os turistas chineses, ainda inibidos no contacto com a areia, optam por se aproximar cautelosamente do mar para tirarem fotografias, enquanto se mantêm vestidos da cabeça aos pés.

"E se um estrangeiro vier para a praia de calções ou biquíni, eles ficam boquiabertos", comenta um brasileiro radicado em Xiamen.

Xiamen, em português, significa a "porta da mansão", ilustrando a sua condição histórica de cidade portuária.

Em 1842, a assinatura do tratado de Nanjing, considerado uma humilhação para a China e que pôs fim à primeira Guerra do Ópio, forçou a abertura de Xiamen ao comércio britânico.

Os primeiros europeus a desembarcar aqui foram, contudo, os portugueses, em 1544.

A arquitetura colonial da cidade, num estilo predominante vitoriano, está concentrada na ilhota de Gulang, nomeadamente os antigos consulados norte-americano, francês e britânico, ou os escritórios da Asiatic Petroleum Company, petrolífera com sede em Londres que operou na Ásia no início do século XX.

Uma igreja, erguida no centro de Gulang, foi entretanto convertida num lar de idosos.

Nos últimos anos, a ilhota com cerca de dois quilómetros quadrados foi invadida pelo comércio, com centenas de lojas a venderem comes e bebes e todo o tipo de bugigangas.

Milhares de turistas enchem diariamente as ruas de Gulang, abafando o chilrar dos pássaros e tornando difícil a circulação pedestre - a única possível, visto que veículos motorizados estão proibidos de circular na ilhota.

Edifícios centenários, que outrora serviram de residência a representantes das antigas potências imperialistas, e hoje convertidos em casas de chá, oferecem um refúgio à algazarra das ruas.

Aproveitando o cenário idílico de Xiamen, o Governo chinês organizou aqui o último fórum dos BRICS - bloco de grandes economias emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

A cidade foi "totalmente remodelada" para o evento e mesmo "as calçadas que estavam em boas condições foram reconstruídas", lembra um morador.

Foi também em Xiamen que o atual Presidente chinês, Xi Jinping, assumiu o seu primeiro cargo político relevante, em meados dos anos 1980, quando substituiu o então vice-presidente da câmara local, An Li.

"Em junho de 1985, na minha primeira ida a Xiamen, demorei oito horas a chegar lá de carro, a partir de Fuzhou [a capital da província de Fujian], devido à atrasada rede de transportes", lembrou Xi, numa entrevista à televisão estatal chinesa, em 2000.

Hoje, Fuzhou e Xiamen estão ligados por um comboio de alta velocidade, que percorre os mais de duzentos quilómetros entre as duas cidades em menos de uma hora. Uma linha de metro permite ir de uma ponta à outra de Xiamen em trinta minutos.

No entanto, aqui, não parece haver pressa para nada.

Ao contrário das principais cidades da China, nomeadamente Pequim, onde depois das 21 horas é difícil encontrar restaurantes abertos, em Xiamen continuam a existir opções já depois da meia-noite.

Afinal, no dia seguinte, há sempre tempo para recuperar o sono perdido: "Depois do almoço, costumamos dormir uma sesta", conta Chen Delie, funcionário de uma exportadora local de aço.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt