REPORTAGEM: Militantes organizam caravana para defender Lula Livre e a esquerda no Brasil

São Paulo, Brasil, 07 abri (Lusa) - Dezenas de apoiantes de Luiz Inácio Lula da Silva preparavam-se hoje de madrugada para iniciar uma viagem desde a cidade brasileira de São Paulo até Curitiba, onde o ex-presidente brasileira completa hoje um ano de prisão.
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Nem a noite chuvosa tirava o ânimo dos integrantes do grupo concentrado na sede do Sindicato dos Bancários, no centro de São Paulo.

A ação foi organizada pelo Diálogo Ação Petista (DAP), que faz parte do Partido dos Trabalhadores (PT), que além de atos em favor da libertação do ex-presidente tenta reassumir o papel de principal partido do país após ter perdido as últimas eleições para o político de extrema-direita e atual Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

Pouco antes do horário marcado para a partida, às 22:00 de sábado (02:00 de domingo em Lisboa), homens e mulheres de diferentes idades vestiam camisolas vermelhas e estampadas com o rosto de Lula da Silva e mostravam-se ansiosos por embarcar num autocarro e percorrer 425 quilómetros numa jornada estimada em quase sete horas.

Carlitos Pires, contabilista, 61 anos, disse à Lusa que viajava pela segunda vez até Curitiba para participar de protestos em favor do ex-chefe de Estado brasileiro e fez questão de acrescentar que a campanha 'Lula Livre' tem objetivos mais amplos do que lutar pela libertação de Lula da Silva.

"Acredito que nossa luta poderá ajudar a libertar o Lula. (...) Hoje, porém, a questão do 'Lula Livre' está também ligada à defesa dos direitos da classe trabalhadora, a luta pela democracia e a nossa posição contrária as mudanças no sistema do pagamento de pensões por reforma [projeto que está em debate no Congresso do Brasil] " afirmou.

"A campanha 'Lula Livre' está centrada no pedido de liberdade do ex-presidente, mas vai além, segue em conjunto com todas as nossas lutas", acrescentou.

Carlitos contou que se tornou militante político em 1978 quando participou das greves organizadas pelo sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, que lançaram Lula da Silva no cenário político brasileiro.

O ativista considera que a prisão do ex-presidente faz parte de um projeto complexo promovido pela burguesia e por agentes do capitalismo cujo intuito é desorganizar a classe trabalhadora. Mas acredita que o objetivo não foi alcançado.

"Apesar de tudo o que aconteceu, do golpe que tirou a Dilma do Poder, da prisão do Lula [da Silva], as organizações da classe trabalhadora estão de pé e isto é muito importante", afirmou.

Lara Lucas, professora, 50 anos, também aguardava para embarcar no autocarro da campanha 'Lula Livre' quando comentou que era sua primeira viagem com os apoiantes do antigo chefe de Estado brasileiro.

"É a primeira vez que participo de uma caravana [para Curitiba]. Tenho a necessidade de estar com outras pessoas que acreditam, independentemente dos resultados, que temos que lutar pelo que é correto. Espero [nesta viagem] nutrir-me de fé e coragem porque estamos vivendo dias ruins", disse.

A professora comentou que os brasileiros têm enfrentado ameaças diversas e a prisão de Lula da Silva - considerado o ícone máximo da ascensão dos trabalhadores e da esquerda no Brasil - seria parte de um processo de sucessivas violações de direitos coletivos e individuais.

"É o momento de os trabalhadores se unirem em legitima defesa (...). A prisão do Lula [da Silva] está intimamente ligada a um projeto de sociedade de violação de diretos, onde a Justiça não é para todos, onde a riqueza não é para todos, onde a educação não é para todos", criticou.

Lara Lucas também acredita que há um projeto mais amplo no movimento 'Lula Livre': "O princípio que está por trás do 'Lula Livre' supera qualquer figura individual, é algo maior".

Membro da militância do PT na cidade de São Paulo e responsável pela organização desta viagem para Curitiba, Bárbara Corvalis, 57 anos, explicou que o protesto em Curitiba pretende denunciar a prisão do ex-presidente como um atentado à democracia.

"A nossa expectativa com esta mobilização é deixar claro que o Lula [da Silva] foi preso injustamente. Não há nenhuma prova de que ele cometeu crimes. Ele foi preso para [o Presidente Jair] Bolsonaro ganhar a eleição e aprovar as mudanças no sistema de pagamento de pensões", salientou.

"Há um ano que Lula [da Silva] está preso e vamos até Curitiba mostrar que ele foi preso injustamente e que não existe democracia num país que mantém um preso político", completou.

Questionada pela Lusa, Bárbara argumentou que embora considere Lula da Silva inocente, ela não acredita que ele seja libertado por ordem da Justiça sem que ocorra uma mobilização social.

"Não acho que a Justiça vá libertar o Lula [da Silva]. Ela está nas mãos do [Sérgio] Moro - ministro da Justiça que antes de assumir cargo no Governo trabalhou como juiz e condenou Lula da Silva a mais de nove anos de prisão - e do Bolsonaro. O nosso Supremo Tribunal Federal é podre (...) Quem vai tirar o Lula [da Silva] da cadeia são os trabalhadores, os homens, as mulheres e os estudantes nas ruas. Não serão os órgãos de Justiça", concluiu.

Os protestos organizados neste domingo pelo PT foram chamados de "Ocupa Curitiba - um ano da prisão sem provas de Lula".

As atividades começam no início da manhã, quando autocarros vindos de diferentes partes do país deverão reunir-se no terminal rodoviário de Curitiba.

De lá os manifestantes farão uma caminhada até a Superintendência da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida, onde Lula da Silva está preso.

Ao longo do dia acontecerão discursos políticos, apresentações musicais e um ato inter-religioso em favor da libertação do ex-presidente.

Há previsão de atos em defesa de Lula da Silva em 19 cidades brasileiras, nos Estados Unidos, países da América Latina e Europa, incluindo Portugal.

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