(Re)pensar a sustentabilidade do construído   

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Talvez porque vivemos permanentemente rodeados de obras que poderiam ser de arquitectura - ainda que a maior parte pouco ou nada tenha a ver com a qualidade que lhe deveria ser inerente - o facto é que, geralmente, pouca ou quase nenhuma atenção lhes prestamos.

No entanto temos cada vez mais evidências da importância que o ambiente construído tem para a nossa qualidade de vida, ou seja para aquilo que somos enquanto seres humanos.

Vale por isso a pena recordar dois factos bem recentes.

O primeiro foi a realização nos passados dias 2, 3 e 4 de mais um Congresso dos Arquitectos Portugueses, o 16.º.

Uma reunião que desta vez se realizou em Ponta Delgada, nos Açores, assim se destacando um processo de descentralização e regionalização que só há 3 anos foi possível completar e que, apesar das muitas resistências e não poucas dificuldades de implementação, começa a mostrar alguns resultados na progressiva aproximação com entidades e público locais, na criação e divulgação de iniciativas diversas e num, sempre lento trabalho de pedagogia que é essencial fazer.

Só assim todos poderão entender a importância e a necessidade de um bom ambiente construído como forma de melhorar a qualidade de vida do nosso dia a dia, na complementaridade do espaço público ao edificado.

O outro facto, ainda mais recente, divulgado dia 7, foi a atribuição do Prémio Pritzker de arquitectura ao arquitecto inglês David Chipperfield.

Este prémio, é anualmente atribuído por um júri internacional de 9 elementos, este ano presidido pelo, já laureado, Alejandro Aravena. Muitas vezes referido como o Nobel da Arquitectura e que já foi duas vezes atribuído aos portugueses Álvaro Siza (em 1992) e Eduardo Souto Moura (em 2011), actualmente por todos reconhecido como o mais prestigiado prémio da classe.

Comum a ambos estes acontecimentos o destaque da absoluta necessidade de valorizar a qualidade do que é feito.

Uma qualidade que está muito para além da espetacularidade de algumas imagens ou das quantificações a que muitas vezes se reduzem as análises, e que tem de ser entendida num enquadramento global pois só a "persistência na sustentabilidade, não só elimina o supérfluo como é o primeiro passo para criar estruturas capazes de perdurar física e culturalmente", como foi destacado pelo júri do Pritzker deste ano.

Uma necessidade que parece por vezes estar a banalizar-se, onde são absolutamente necessários estes fóruns de debate, ou a exemplaridade de alguns trabalhos pois só na sua complementaridade poderemos construir a globalização da nossa sobrevivência comum.

Ex-presidente da Ordem dos Arquitetos

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