Talvez a pessoa que tenha previsto com maior acerto a solidariedade possível do mundo que ficou marcado pela língua portuguesa, tenha sido Agostinho da Silva. Além da participação que lhe ficou a dever a definição e a organização da Universidade de Brasília, onde foi professor venerado, e ainda longe da descolonização que extinguiu o império eEuromundista da frente atlântica europeia, pretendeu convencer o governo português da época a organizar uma rede de centros culturais, nos lugares onde a história não poderia omitir a presença do passado domínio português. Apontava de exemplo o projeto do centro cultural para o qual conseguira a cedência de um terreno, na Brasília do sonho de Juscelino Kubitschek, onde se esperava que Portugal construísse as instalações, e para o qual já conseguira organizar uma biblioteca de excelente qualidade. A sua diligência não conseguiu adesão portuguesa, e até em Brasília se perdeu o terreno, e a biblioteca perdeu a unidade, repartida pela da hoje excelente universidade. O sentido de unidade sustentada pela proposta cadeia de centros culturais, de Agostinho da Silva, teve réplica diferenciada na posterior CPLP e no Instituto Internacional da Língua Portuguesa. A dinamização de ambas as instituições ficou muito a dever à intervenção dinamizadora do Brasil, sendo a língua portuguesa uma das que constam do site da ONU..Todavia a geografia, e a evolução do globalismo de roteiro mal sabido, aconselha a meditar na intervenção que essas duas instituições poderão ter de reformular para que os seus objetivos sejam salvaguardados. A razão é sobretudo a das interdependências específicas a que cada um dos Estados envolvidos tem de responder, tendo em conta a dispersão geográfica que define "circunstância" diferente para cada um. Por exemplo, a segurança do Atlântico Sul implicará apenas com a possível intervenção do triângulo Brasil, Angola, Portugal, assim como a circunstância de Moçambique que não pôde ignorar a Comunidade Britânica, tal como Portugal, com uma ligação indispensável à União Europeia, não dispensará a aliança com o Reino Unido embora este esteja em processo de saída da União..O laço sólido das instituições inspiradas pelo passado da intervenção portuguesa volta a fazer relembrar Agostinho da Silva. E porque não faltam apoios doutrinais nesse sentido, talvez a salvaguarda, e o fortalecimento, dessa realidade pudesse encontrar apoio na definição de uma articulada cooperação entre as instituições universitárias e as academias de todos os Estados envolvidos, e das respetivas academias que vão sendo organizadas, com projetos articulados na investigação e no ensino, exigidos também pela difícil prospetiva do futuro que já está entre nós com dificuldades de o apreender e enfrentar. Esta questão foi abordada na Academia das Ciências de Lisboa, em reunião luso-brasileira, no dia 16 de outubro de 2018. Com esperança de que tenha melhor acolhimento e futuro do que a frustrada diligência de Agostinho da Silva. O número crescente de estudantes oriundos dos Estados de língua portuguesa que procuram as nossas universidades e politécnicos, é muito animador no sentido de que um futuro participado vai amenizando a memória de erros ou omissões do passado, em favor da sentida urgência de compreender, e apoiar, o futuro que já desperta. Solidariedades que não ignoram as complexidades da anarquia da governança do globalismo, nem as que cada um deles enfrenta para definir e construir o seu próprio modelo de governo independente, não ignorando o passado a benefício de inventário, dando prioridade ao entendimento de que a solidariedade renovada tem apoio nos valores que sobrevivem e que a língua transporta..Na história da União Europeia, destaca-se a conclusão de Jean Monnet, ao escrever as memórias no sentido de que, se na sua intervenção originária tivesse a experiência recolhida da evolução do projeto comunitário, teria recomendado começar pela cultura e não pelo mercado. No caso da CPLP, e do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, é a defesa da cultura que se tornou património comum, que fez recordar Agostinho da Silva, e que resistirá, se a vontade original prevalecer, ao desafio das exigências de cooperação económica e financeira que hierarquizam as capacidades dos intervenientes na globalização. Como também não pode ignorar-se que as evoluções da política interna de cada membro da CPLP e do Instituto Internacional da Língua Portuguesa implicam inevitáveis contrariedades, de que já temos experiência, mas enfrentando, com segura diplomacia, a defesa do laço cultural comum que aconselha fidelidade à margem das contingências.
Talvez a pessoa que tenha previsto com maior acerto a solidariedade possível do mundo que ficou marcado pela língua portuguesa, tenha sido Agostinho da Silva. Além da participação que lhe ficou a dever a definição e a organização da Universidade de Brasília, onde foi professor venerado, e ainda longe da descolonização que extinguiu o império eEuromundista da frente atlântica europeia, pretendeu convencer o governo português da época a organizar uma rede de centros culturais, nos lugares onde a história não poderia omitir a presença do passado domínio português. Apontava de exemplo o projeto do centro cultural para o qual conseguira a cedência de um terreno, na Brasília do sonho de Juscelino Kubitschek, onde se esperava que Portugal construísse as instalações, e para o qual já conseguira organizar uma biblioteca de excelente qualidade. A sua diligência não conseguiu adesão portuguesa, e até em Brasília se perdeu o terreno, e a biblioteca perdeu a unidade, repartida pela da hoje excelente universidade. O sentido de unidade sustentada pela proposta cadeia de centros culturais, de Agostinho da Silva, teve réplica diferenciada na posterior CPLP e no Instituto Internacional da Língua Portuguesa. A dinamização de ambas as instituições ficou muito a dever à intervenção dinamizadora do Brasil, sendo a língua portuguesa uma das que constam do site da ONU..Todavia a geografia, e a evolução do globalismo de roteiro mal sabido, aconselha a meditar na intervenção que essas duas instituições poderão ter de reformular para que os seus objetivos sejam salvaguardados. A razão é sobretudo a das interdependências específicas a que cada um dos Estados envolvidos tem de responder, tendo em conta a dispersão geográfica que define "circunstância" diferente para cada um. Por exemplo, a segurança do Atlântico Sul implicará apenas com a possível intervenção do triângulo Brasil, Angola, Portugal, assim como a circunstância de Moçambique que não pôde ignorar a Comunidade Britânica, tal como Portugal, com uma ligação indispensável à União Europeia, não dispensará a aliança com o Reino Unido embora este esteja em processo de saída da União..O laço sólido das instituições inspiradas pelo passado da intervenção portuguesa volta a fazer relembrar Agostinho da Silva. E porque não faltam apoios doutrinais nesse sentido, talvez a salvaguarda, e o fortalecimento, dessa realidade pudesse encontrar apoio na definição de uma articulada cooperação entre as instituições universitárias e as academias de todos os Estados envolvidos, e das respetivas academias que vão sendo organizadas, com projetos articulados na investigação e no ensino, exigidos também pela difícil prospetiva do futuro que já está entre nós com dificuldades de o apreender e enfrentar. Esta questão foi abordada na Academia das Ciências de Lisboa, em reunião luso-brasileira, no dia 16 de outubro de 2018. Com esperança de que tenha melhor acolhimento e futuro do que a frustrada diligência de Agostinho da Silva. O número crescente de estudantes oriundos dos Estados de língua portuguesa que procuram as nossas universidades e politécnicos, é muito animador no sentido de que um futuro participado vai amenizando a memória de erros ou omissões do passado, em favor da sentida urgência de compreender, e apoiar, o futuro que já desperta. Solidariedades que não ignoram as complexidades da anarquia da governança do globalismo, nem as que cada um deles enfrenta para definir e construir o seu próprio modelo de governo independente, não ignorando o passado a benefício de inventário, dando prioridade ao entendimento de que a solidariedade renovada tem apoio nos valores que sobrevivem e que a língua transporta..Na história da União Europeia, destaca-se a conclusão de Jean Monnet, ao escrever as memórias no sentido de que, se na sua intervenção originária tivesse a experiência recolhida da evolução do projeto comunitário, teria recomendado começar pela cultura e não pelo mercado. No caso da CPLP, e do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, é a defesa da cultura que se tornou património comum, que fez recordar Agostinho da Silva, e que resistirá, se a vontade original prevalecer, ao desafio das exigências de cooperação económica e financeira que hierarquizam as capacidades dos intervenientes na globalização. Como também não pode ignorar-se que as evoluções da política interna de cada membro da CPLP e do Instituto Internacional da Língua Portuguesa implicam inevitáveis contrariedades, de que já temos experiência, mas enfrentando, com segura diplomacia, a defesa do laço cultural comum que aconselha fidelidade à margem das contingências.