Rentrée 2023
Estamos na fase do ano em que a vida se reinicia. Podemos mesmo dizer que estamos na verdadeira mudança de ano. Chegamos de férias, o ano letivo vai começar, os políticos agitam-se em festas de rentrée que, em alguns casos, se repetem mais que uma vez e onde se agitam a tentar marcar a agenda e captar as atenções noticiosas.
Nas escolas o ano começa como acabou, com as greves que os professores entendem justificar-se e que continuarão a prejudicar os jovens que deles dependem, mesmo que existam estudos a dizer o contrário. Nem sempre a estatística ou a ciência usam as ferramentas certas para medir o que deve ser medido.
No Ensino Superior, como acontece anualmente, foram muitos os que, tendo sido colocados na primeira fase, não se matricularam. Provavelmente irão tentar escolhas mais próximas do desejado na segunda fase ou optaram já pelo ensino privado ou, em alguns casos, optaram por não continuar a estudar. Talvez valha a pena estudar as causas e acabar com algumas ofertas "exóticas" que ninguém escolhe, apenas porque não se sabe para que servem do ponto de vista profissional.
Na Saúde anuncia-se a maior mudança das últimas décadas, com a generalização das Unidades Locais de Saúde. A curiosidade reside em saber qual é o aumento de eficiência esperado nos custos, nas listas de espera, na facilitação da vida dos doentes. Vale a pena não perdermos de vista que o setor público deixou de ser atrativo financeiramente e, na Saúde, isso nota-se muito, pelo que, sem recursos humanos, não há reforma que se faça.
Na política, à falta de ideias e soluções para o imediato que ajudem o País a manter a rota das contas certas, mas melhorando individualmente a vida dos portugueses, começa-se a colocar o horizonte nas eleições europeias de 2024 e até nas presidenciais, que ainda vêm longe. Ao cidadão comum importa, claro, que o País não agrave a sua dívida e se mantenha tão forte quanto possível, mas é necessário que lhe caiba alguma dessa melhoria, seja por redução dos impostos, seja pela obrigatória melhoria dos salários e do poder de compra. Mais do que as encenações a que assistimos diariamente, precisamos de segurar os jovens que formamos anualmente, tornando as remunerações (e o poder de compra) mais atrativas na comparação com o centro e norte da Europa.
Nesta semana só a teatralização à volta dos putativos candidatos presidenciais diminuiu o espaço noticioso do desastroso beijo de Rubiales. Sobre presidenciais parece demasiado cedo para início de campanha, por muito hábeis que possam ser os candidatos na gestão do timing. É que qualquer coisa colocada na montra por muito tempo perde visibilidade por cansaço. Bem sei que o atual Presidente contrariou essa teoria.
Até o futebol aproveitou o pós-verão para mudar... agora sabemos quando começa, mas nunca sabemos quando acaba.
Talvez valha a pena no futebol, como na política, mudar só o que está mal, porque quando mudamos o que está bem, aumentamos quase sempre o que está mal.
Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra