Renault Clio: história interminável
Nunca o lançamento de um novo Clio será um pormenor na vida da Renault. 16 milhões de unidades vendidas em todo o mundo não o permitem. Mas, ao contrário do que possa sugerir a expressão frontal do modelo, que fomos conhecer a Bruxelas, na Bélgica, e que chegará a Portugal em outubro (já é possível encomendar), esta não é a sua sexta geração, mas, antes, um profundo restyling da quinta. Muito mudou no Clio para que tudo possa continuar igual.
Numa história interminável como a do Renault Clio, lançado, pela primeira vez, em 1990, cumpridas já cinco gerações e 33 anos de existência - a idade de Cristo, se quisermos- a marca francesa terá sempre muita fé.
Não faltam motivos para alimentá-la. O novo Clio exibe já a nova linguagem estilística da Renault. E fica-lhe bem, conferindo ao conjunto um visual muito mais moderno, nomeadamente na grelha dianteira, conjugada com uns grupos óticos mais fluidos e com uma assinatura luminosa que cria o efeito de metades de losango. O logótipo surge com acabamento cromado. Mas uma das grandes novidades, nesta matéria, é a versão de equipamento desportivo Esprit Alpine, que se distingue pelo defletor em cinza a "pairar" sob a dita grelha frontal.
Na traseira, o para-choques também foi revisto, com saídas aerodinâmicas que a ampliam visualmente. O rebordo inferior é em preto mate nos dois primeiros níveis de equipamento, preto brilhante na versão Techno e cinzento "Xiste" mate na versão Esprit Alpine.
O modelo está, agora, disponível em sete cores: branco "Glaciar", preto "Estrela", cinzento "Schiste", azul "Iron", vermelho "Flamme", cor-de-laranja "Valência" e cinzento "Rafale", um novo revestimento de tripla camada com um efeito visual interessante: parece sólido à distância e pérola de perto.
De referir que, apesar de todas as alterações de que foi alvo, as dimensões do novo Clio permanecem quase inalteradas face ao antecessor: 4.053 mm de comprimento, 1.988 mm de largura e 1.439 mm de altura.
A Renault continua atenta ao imperativo da sustentabilidade - e da tecnologia, já agora. Prova disso, é o habitáculo, que recorre a materiais e revestimentos baseados em tecidos com cerca de 60% de origem biológica (fibras Tencel), uma solução que faz parte da estratégia de descarbonização da marca.
Mais: não conta com couro no seu interior. Em vez disso, as superfícies são cobertas com TEP, um tecido revestido a granulado feito de fibras de origem biológica e poliéster.
Uma vantagem, dado que é necessária menos água e energia para tingir TEP, do que para tingir fibras da forma convencional. O novo Clio apresenta, também, novos bancos, mais envolventes e com camada de espuma mais espessa. O padrão - cores dos assentos e das costas, os pespontos e a decoração - é diferente em cada nível de equipamento. O Esprit Alpine vem com bancos específicos.
Na zona central do tablier, sobressai o monitor tátil sem rebordos do sistema multimédia Easy Link, com ecrãs de 7'' a 10'' mediante o nível de equipamento, admitindo ligações sem fios para Android Auto e Apple CarPlay.
São muitos os motores escolhidos para animar o novo Clio. Nem uma variante Diesel fica de fora. Para que nada falte aos fãs mais tradicionais do popular modelo e frotas. Nada mais nada menos do que o bloco 1.5 Blue dCi de 100 cv.
Já o motor turbo TCe 100 GPL de três cilindros, também está disponível no novo Clio. Este sistema de duplo combustível melhora o comportamento dinâmico e reduz consumos e emissões de CO2 (menos 8% de CO2 do que um motor comparável só a gasolina), sem penalizar o desempenho: o binário máximo, 170 Nm, entregue às 2.000 rpm. Com os dois tanques cheios, o Renault Clio GPL tem uma autonomia total superior a 1.000 km.
Outra versão ainda na gama é a TCe 90, com bloco a gasolina de três cilindros e 90 cv de potência, 160 Nm de binário e caixa manual de seis velocidades.
Mas o protagonista é o E-Tech Full Hybrid de 145 cv, capaz de assegurar baixos consumos, emissões reduzidas e desempenho muito convincente para o segmento em questão. Esta versão conta com mais de 150 patentes e muita tecnologia derivada da Fórmula 1, especialmente na recuperação e na regeneração de energia.
A arquitetura combina dois motores elétricos (um motor de 36 kW e um motor de arranque/gerador de alta tensão de 18 kW) com um motor de combustão 1.6 de quatro cilindros com 94 cv de potência, associada a uma eficaz caixa multimodal e uma bateria de 1.2 kWh.
O modelo é alimentado pelo motor elétrico quando arranca e pode utilizar o mesmo até 80% do tempo em cidade - reduzindo os consumos em até 40% quando comparado com um motor a gasolina tradicional. Devido à eficácia do conjunto propulsor, as emissões de CO2 são reduzidas, começando nos 95 g/km.
Na apresentação internacional, fizemos os primeiros quilómetros ao volante desta versão. Uma experiência algo limitada pelos troços escolhidos, já que variavam entre curvas constantes e radares escondidos. Ainda assim, a velocidades não muito elevadas, foi possível verificar a suavidade do seu comportamento em estrada, com uma suspensão irrepreensível e nunca comprometendo nas recuperações.
Segundo a marca, o arranque dos 0 aos 100 km/h faz-se em 9,3 segundos e a velocidade máxima situa-se nos 174 km/h. Consumos? 4,2 l/100 km. Um registo oficial pouco inferior, diga-se, ao verificado ao fim de cerca de 200 km de condução nos arredores de Bruxelas.