Relatos Incompletos dos Anos 60 (III)
É nos sixties que acontece a grande libertação da Mulher na sequência da introdução no mercado das primeiras pílulas anticoncecionais. Fez toda a diferença. Marcou, historicamente, o antes e depois. Desde então, a sexualidade das mulheres mudou para sempre. O lançamento da pílula contracetiva oral é, justamente, considerado um marco que indicou uma imensa mudança da Condição da Mulher, até mesmo no sentido "revolucionário". Passou a ser possível planear o nascimento de filhos desejados, ao mesmo tempo que permitiu assumir a sexualidade feminina por inteiro. Curiosamente, a descoberta da PÍLULA deve-se ao cientista Gregory Pincus (1903-1967) que, na altura, conduziu as pesquisas que foram financiadas pela milionária norte-americana Katharine Dexter McCormick (1875-1967). Além de bióloga, Katharine distinguiu-se como lutadora pelos direitos das mulheres. Para lá de sufragista foi reconhecida como benemérita, depois de ter herdado parte da fortuna da família McCormick, a seguir à morte do seu marido. A pílula, começou a ser comercializada nos Estados Unidos da América em 1960, mas só três anos depois entra no mercado português com a designação de Anovlar. Foi socialmente aceite, tendo representado um imenso sucesso, apesar da oposição da Igreja Católica.
Foi, também, em 1963, que Salazar mandou encerrar as casas de prostituição e acabar com a atividade de prostitutas em público. Medida que, naturalmente, não iria terminar com a existência da profissão...
A década dos 60 é, igualmente, assinalada pela moda das saias de 30 cm. Foi uma grande novidade! Ficaram célebres essas minissaias, idealizadas pela estilista inglesa Mary Quant. Na época, a top-model, Lesley Lawson, mais conhecida como Twiggy, assumiu grande destaque no marketing das minissaias, que mereceu grande cobertura pelos órgãos de comunicação social de todo o mundo. O êxito foi tal que, em 1966, a rainha Isabel II decidiu atribuir a condecoração da Ordem do Império Britânico à estilista Mary Quant que, rapidamente, passou do anonimato à principal designer de moda dos sixties.
No domínio da política internacional, este período é dominado pela longa Guerra do Vietname (1955-1975) entre os Exércitos de Ho Chi Minh e as tropas norte-americanas às ordens dos sucessivos presidentes: John Kennedy, Lyndon Johnson, Richard Nixon e Gerald Ford. Foram 20 anos de constantes crueldades, transmitidas pelas televisões de todos os países. Um horror. No final, a derrota dos Estados Unidos da América, simbolizada, a 30 de abril de 1975, pelos helicópteros lançados ao mar pela borda do porta-aviões, à saída de Saigão, possibilitou, logo no ano seguinte, a reunificação do Vietname, antes dividido em norte e sul.
Por outro lado, a Guerra Fria, em resultado da separação do mundo em dois blocos, tem o seu auge em outubro de 1962, durante a Crise das Caraíbas dos mísseis nucleares soviéticos a caminho de Havana. O acordo de última hora, conseguido in extremis entre a União Soviética de Nikita Khrushchev, a América de John Kennedy e Cuba de Fidel Castro e Che Guevara, evitou um conflito de proporções impensáveis.
Moral da história:
Como terá sido a vida de uma família portuguesa antes da pílula, em 1963?
Ex-diretor-geral da Saúde
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