Relação com narcotraficante volta para ensombrar Feijóo

Caso tem mais de 30 anos, mas o primeiro-ministro acusa o adversário de mentir. Líder da oposição esteve ausente do último debate, no qual Yolanda Díaz ganhou pontos.
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O último debate antes das legislativas antecipadas de domingo em Espanha foi um confronto de dois (Pedro Sánchez e Yolanda Díaz) contra um (Santiago Abascal), em que a líder do Sumar acabou por se destacar na defesa da política do governo - talvez por ser uma voz mais fresca do que a do primeiro-ministro socialista - e nos ataques à extrema-direita do Vox. Ausente por opção do estúdio da RTVE na quarta-feira à noite, o líder do Partido Popular (PP), Alberto Núñez Feijóo, foi ontem acusado pelo secretário-geral socialista de mentir sobre a sua relação com um traficante de droga galego.

"É inquietante que um dirigente político tenha tido relações tão estreitas com um narcotraficante e essa inquietude é partilhada por milhões de espanhóis", disse Sánchez numa entrevista à LaSexta, considerando que Feijóo tem uma "dívida com a verdade" e para com os espanhóis. "As desculpas de que não havia Google ou Internet caem pelo seu próprio peso", acrescentou, fazendo referência às justificações do próprio líder do PP.

Também em entrevista à LaSexta, na quarta-feira, o líder do PP insistiu que não sabia que Marcial Dorado era um contrabandista e narcotraficante: "Naquele momento não havia acusação contra ele. Agora é mais fácil saber coisas porque há Internet e Google." Feijóo disse ainda que era "cansativo" ter que voltar a responder sobre o tema, que é usado há anos contra ele pelo PSOE - e pela própria Yolanda Díaz, também ela galega, que concorreu pela Esquerda Unida contra Feijóo nas eleições regionais de 2009 e 2012.

A fotografia em que Feijóo surge a apanhar banhos de sol no iate de Dorado foi tirada em 1995, quando o atual líder do PP era membro do governo regional da Galiza. A imagem veio primeiro a público em março de 2013, quando foi publicada pelo El País, já Feijóo era presidente do governo galego e o narcotraficante estava na prisão. Dorado foi detido em 2003 por tráfico de droga, acabando condenado a dois anos e cinco meses de prisão em 2005 por subornar guardas civis. Em 2009, foi condenado a outros 10 anos por tráfico. E em 2015 a mais seis anos por lavagem de dinheiro. Ainda cumpre pena em regime de semiliberdade.

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Inicialmente Feijóo disse que só conhecia Dorado de forma casual, mas os jornalistas acabaram por descobrir que na década de 1990 os dois fizeram várias viagens juntos, incluindo a Portugal e a Andorra - por onde passam várias redes de lavagem de dinheiro. A polémica não travou Feijóo, que no total ganhou quatro maiorias absolutas no governo galego, mas sempre foi uma mancha no seu currículo (poderá até ter sido a razão para não se ter lançado à liderança do partido logo em 2018), voltando agora para ensombrar o final da campanha. Isto numa altura em que é o grande favorito à vitória.

Foi a líder do Sumar que, num comício no domingo, voltou a trazer a relação entre Feijóo e Dorado para a ribalta. Yolanda Díaz disse que o líder do PP teve uma "amizade íntima com um dos maiores traficantes de droga do mundo", desafiando-o para estar presente no debate de quarta-feira à noite para responder às perguntas sobre este tema. Desde o início que Feijóo tinha recusado estar presente no debate a quatro, tendo ontem dito que foi um debate para escolher o líder da oposição.

Nos estúdios da RTVE, Sánchez e Yolanda Díaz fizeram a defesa das políticas do governo, mostrando cumplicidade face a Abascal, que a todo o momento procuraram comparar com o PP. O líder do Vox, por seu lado, fez poucas menções ao PP, nunca confirmando se irá ou não exigir entrar no governo caso a direita consiga a maioria - as sondagens dividem-se sobre esta possibilidade. E acusou a esquerda de se preocupar "com o fim do mundo", quando os espanhóis se preocupam "em chegar ao fim do mês". A esquerda saiu vencedora do debate, com Yolanda Díaz a ganhar mais pontos do que Sánchez.

No rescaldo deste embate a três, a líder do Sumar defendeu tornar obrigatório que os candidatos participem nos debates eleitorais na televisão pública. O de quarta-feira foi seguido, em média, por 4,1 milhões de espetadores. Foi o menos visto de sempre em Espanha.

Por seu lado, Feijóo disse ontem que, se for eleito, irá mudar a lei para proibir eleições em julho e agosto, os meses tradicionais de férias. Nestas eleições, mais de 2,6 milhões de eleitores pediram o voto por correspondência, um desafio para os correios espanhóis. A Junta Eleitoral Central autorizou ontem a empresa estatal a prolongar até às 14h00 de hoje o prazo para que os espanhóis possam depositar os seus votos - o prazo inicial terminava ontem à noite.

susana.f.salvador@dn.pt

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