Reino Unido trocou prisioneiro por contrato petrolífero

O jornal inglês Sunday Times noticiou hoje que o governo britânico apoiou a inclusão do bombista de Lockerbie num acordo de transferência de prisioneiros com a Líbia em troca de um contrato petrolífero com aquele país.
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O Sunday Times cita correspondência trocada entre o então secretário de Justiça britânico, Jack Straw, e o seu homólogo escocês Kenny MacAskil.

Abdelbaset al-Megrahi foi condenado em 2001 a prisão perpétua, com uma pena mínima de 27 anos, pela explosão de um avião da Pan Am a 21 de Dezembro de 1988, quando o aparelho sobrevoava a cidade escocesa de Lockerbie, um atentado que provocou a morte de 270 pessoas.

O líbio, de 57 anos, que cumpria pena na Escócia, foi libertado há uma semana e recebido em triunfo na Líbia, o que suscitou reacções indignadas da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos.

Megrahi sofre de um cancro terminal na próstata e, segundo o governo regional escocês, foi libertado por razões humanitárias.

Numa primeira carta, datada de 26 de Julho de 2007, Jack Straw mostrou-se favorável a que o líbio ficasse de fora do acordo em discussão sobre a transferência de prisioneiros entre o Reino Unido e a Líbia.

Numa segunda carta, datada de 19 de Dezembro de 2007, Straw informou MacAskill de que a sua posição tinha mudado.

"Negociações mais amplas com os líbios atingiram um estado crítico e, face a esmagadores interesses para o Reino Unido, concordei que esta instância [o acordo de transferência de prisioneiros] deve manter o modelo padrão e não mencionar ninguém individualmente", refere a carta citada pelo Sunday Times.

O jornal sugere que a mudança de posição de Jack Straw está ligada ao acordo de exploração petrolífera e de gás entre a companhia britânica BP e a Líbia e acrescenta que o contrato petrolífero foi ratificado seis semanas depois.

Segundo o Sunday Times, Tripoli terá feito pressão sobre Londres para que Megrahi fosse incluído no acordo em troca da assinatura com a BP.

Em reacção a estas alegações, a BP negou que quaisquer considerações políticas tivessem contribuído para a conclusão do acordo.

"A empresa não é parte em acordos governamentais. Não temos papel nas discussões, nem estivemos envolvidos nas discussões de maneira ou forma alguma", disse o porta-voz da BP, David Nicholas.

Por seu lado, Jack Straw explicou que as negociações do acordo de transferência de prisioneiros decorreram no quadro das tentativas internacionais de "normalização das relações com a Líbia".

O primeiro-ministro escocês Alex Salmond disse à BBC que esta administração se opôs ao acordo de transferência de prisioneiros com a Líbia e que o facto de o acordo ser negociado ao mesmo tempo que os contratos comerciais não passa de uma "coincidência".

O Governo britânico insistiu que não teve qualquer papel na decisão de enviar al-Megrahi para a Líbia.

A Escócia tem uma ampla autonomia em assuntos internos, embora Londres continue responsável pelos negócios estrangeiros e pela Defesa.

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