Reino Unido prepara-se para as eleições do brexit
Numa altura em que os trabalhistas recuperam nas sondagens, todas as atenções estão centradas no que é que cada formação promete a respeito da saída do Reino Unido da UE, ou seja, o brexit.
Conservadores: Quem quiser contratar estrangeiros paga mais
Precisamente um mês depois de anunciar a decisão de avançar para eleições antecipadas, Theresa May mostrou ao país o seu programa eleitoral. Entre as grandes prioridades dos conservadores está naturalmente o brexit. Mas neste aspeto nada de novo foi revelado, mantendo-se a aposta num hard brexit. Os conservadores defendem a saída do mercado único e da união aduaneira, o fim da liberdade de circulação e da jurisdição do Tribunal Europeu de Justiça em território britânico. O programa repete ainda aquilo que May tem dito nos últimos meses: é preferível que não haja nenhum acordo com Bruxelas do que um entendimento que não seja vantajoso para o Reino Unido. A primeira-ministra reiterou também que o seu objetivo nestas eleições é alcançar uma "liderança forte e estável" que lhe permita obter o "melhor acordo possível" com a União Europeia.
Mas o tema da emigração é também um dos mais caros para os conservadores. Theresa May quer reduzir o número de imigrantes que todos os anos entram no Reino Unido, das atuais centenas de milhares para dezenas de milhares. O programa é omisso no que diz respeito aos imigrantes da União Europeia, já que o tema será ainda sujeito a negociações com Bruxelas, mas quanto aos imigrantes de fora da Europa as regras são claras. Atualmente, as empresas que contratam trabalhadores não europeus têm que pagar mil libras por ano, um valor que passará para o dobro caso os conservadores vençam as eleições. Mas o programa de May tem também sido alvo de duras críticas dos outros partidos, não só por não apresentar os custos das suas propostas mas também pelas medidas duras para com os mais idosos e com as crianças. Theresa May quer os pensionistas mais abastados a receber menos apoios e substituir os almoços gratuitos nas escolas - para crianças necessitadas até aos 11 anos - por pequenos-almoços. O partido abandona ainda o compromisso assumido na anterior legislatura de não aumentar o IVA, o IRS e a Segurança Social.
Trabalhistas: Manter os benefícios do mercado único
Jeremy Corbyn e Theresa May são tudo menos possíveis aliados, mas certo é que há alguns pontos em comum entre ambos. O líder trabalhista e a conservadora defendem que o resultado do referendo é para respeitar, que o Reino Unido vai mesmo sair da União Europeia e que não haverá um novo referendo à permanência na União Europeia.
Mas Corbyn é frontalmente contra o método de May. Um governo liderado pelos trabalhistas visará sempre obter um bom acordo com Bruxelas, eliminando assim a possibilidade de não haver um entendimento. Mas as diferenças entre ambos os líderes também se estendem ao método. Corbyn promete romper com a estratégia delineada pelos conservadores e tudo fazer para que o Reino Unido mantenha os benefícios do acesso ao mercado único e à união aduaneira, já que só assim será possível manter e criar empregos no país. Não obstante, o programa trabalhista rejeita - tal como o conservador - a liberdade de circulação assim que o Reino Unido sair da União Europeia.
Mas os trabalhistas também têm propostas polémicas e que lhes têm até rendido duras críticas. Jeremy Corbyn quer que o seu governo invista 50 mil milhões de libras nos serviços públicos, investimento que seria financiado graças a um aumento de impostos sobre as empresas e os rendimentos mais elevados.
Os trabalhistas propõem também um vasto programa de renacionalização de empresas de vários setores: desde os correios, a empresas de comboios, passando por empresas de energia e de água. O partido de Corbyn defende ainda o fim das propinas no ensino superior. Para alguns analistas, as propostas do Partido Trabalhista poderão aumentar a carga fiscal sobre os contribuintes britânicos até um nível que não era visto desde os anos 1970.
Liberais-democratas: Referendar o acordo final Londres-Bruxelas
Os LibDem surgem nesta campanha como um dos partidos mais europeístas do espectro político britânico, a par dos nacionalistas escoceses do Partido Nacionalista Escocês (SNP).
O partido de Tim Farron defende, desde logo, a realização de um novo referendo acerca do acordo final que vier a ser estabelecido entre Londres e Bruxelas. Ele quer que sejam os eleitores a ter a palavra final e não os políticos ou os deputados do Parlamento. Para Farron, o referendo de junho do ano passado apenas decidiu que o Reino Unido sairia da União Europeia, mas nunca ninguém disse como é que tal se processaria. Segundo o líder dos LibDem, neste momento, "nem a própria Theresa May sabe."
Por isso, Tim Farron diz que, se o seu partido vencer as eleições de 8 de junho, caberá ao povo britânico dizer se concorda ou não com o acordado com a UE e se, caso não concorde, prefere afinal permanecer "na Europa."
Além disso, ao contrário do que defendem os dois principais partidos britânicos, os liberais-democratas defendem a liberdade de circulação, dizendo que qualquer acordo final deverá assegurar o direito "de trabalhar, viajar, estudar em toda a União Europeia." O partido de Farron defende também o imediato reconhecimento dos direitos dos cidadãos europeus que vivem no Reino Unido, à semelhança aliás, do que propõem também os trabalhistas.
Quanto a políticas sociais, os LibDem prometem investir quase dez mil milhões de libras no chamado Estado social, e na concessão de apoios aos mais desfavorecidos da sociedade. Curiosamente, um valor que é quase o dobro do prometido pelos trabalhistas, para os quais esta questão é tradicionalmente uma das suas grandes prioridades.
Os liberais-democratas querem ainda proibir a venda de carros e carrinhas com motores a gasóleo até 2025 e propõem também o fim das detenções policiais por posse de drogas ilegais para consumo próprio.
Em Londres