Reino Unido. Outra mulher no poder 26 anos depois de Thatcher
O Reino Unido vai voltar a ser liderado por uma mulher, 26 anos depois de Margaret Thatcher deixar o número 10 de Downing Street. Mas se a futura primeira-ministra se vai chamar Theresa May ou Andrea Leadsom só se saberá a 9 de setembro, depois de os cerca de 150 mil militantes dos Tories escolherem quem vai suceder a David Cameron na liderança do partido e, consequentemente, do governo. May ou Leadsom terão pela frente a tarefa de liderar as negociações do brexit.
"Precisamos de uma liderança forte e com provas dadas para negociar o melhor acordo para o Reino Unido sair da União Europeia, para unir o nosso partido e o nosso país, e fazer do Reino Unido um país que funciona não só para uns poucos privilegiados, mas para cada um de nós", disse May, que teve o voto de 199 dos 350 deputados conservadores, cuja tarefa era reduzir a duas as cinco candidaturas iniciais. Agora a escolha final cabe aos militantes dos Tories (que estão há no mínimo três meses no partido), que votarão por correio.
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"Estou feliz por ter ganho tanto apoio entre os meus colegas. Este voto mostra que os Tories podem juntar-se e unir-se e sob a minha liderança é o que farão", afirmou May. Deputada desde 1997 e ministra do Interior nos últimos seis anos, May conta com essa experiência para conseguir derrotar a secretária de Estado da Energia, Andrea Leadsom, que só entrou para o Parlamento em 2010 e ganhou destaque na campanha a favor do brexit. Leadsom conseguiu 84 votos. Ambas derrotaram o ministro da Justiça Michael Gove, que não foi além dos 46 votos - menos dois do que na votação de terça-feira. Nesse dia, Liam Fox, ex-ministro da Defesa, foi o primeiro candidato a perder e Stephen Crabb, ministro do Trabalho e das Pensões, decidiu renunciar por falta de apoio.
Ontem, como na terça, Cameron absteve-se de votar. O primeiro-ministro anunciou a demissão um dia após perder o referendo (o brexit teve 51,9%), dando início à corrida à liderança dos conservadores. Gove foi um candidato de última hora do brexit, depois de renunciar a apoiar o ex-mayor de Londres e aliado Boris Johnson. Os deputados dos Tories não perdoaram essa "traição".
Ao contrário de Leadsom que fez campanha pelo brexit, May apoiou (de forma discreta) a continuação do Reino Unido na União Europeia. Contudo, ao lançar-se na corrida à liderança partidária, garantiu que "brexit significa brexit" e que, se fosse eleita, iria cumprir o decidido pelos eleitores a 23 de junho. Os apoiantes de Leadsom defendem que tem que liderar as negociações é alguém que tenha defendido desde o início o brexit, com a secretária de Estado a dizer que a sua prioridade será garantir a continuação do Reino Unido no mercado único europeu - algo que Bruxelas já disse ser impossível sem liberdade de movimentos.
May é a favorita
As sondagens dizem que May é a favorita (54% contra 20%, segundo a YouGov), mas um inquérito feito no site ConservativeHome (destinado aos apoiantes dos Tories) mostra que as duas estão em empate técnico. O diretor do site, Paul Goodman, apoiou contudo a candidatura de May e, nos últimos dias, o percurso de Leadsom tem sido analisado à lupa pela imprensa. Em causa o seu trabalho de 25 anos na City, com antigos colegas a dizerem que não teve posições tão seniores como alegou. Ontem, Leadsom disse à BBC que as questões sobre a sua carreira eram "ridículas" e que todo o seu currículo era "verdadeiro".
Noutra entrevista, à ITV, a secretária de Estado indicou que não gostou da legislação sobre o casamento homossexual (preferia falar em uniões civis) e que irá tentar acabar com a proibição da caça à raposa (uma lei polémica em 2004). Em declarações à SkyNews, Leadsom afirmou que se for primeira-ministra e houver um problema diplomático com a Rússia dirá ao presidente Vladimir Putin "para respeitar o direito internacional". Em relação à economia, disse ser a candidata "da prosperidade e não da austeridade".
Há uma semana, numa entrevista ao The Telegraph, Leadsom comparou-se a Thatcher, dizendo que pretendia imitar as capacidades de liderança da Dama de Ferro, que aliava dureza com "calor pessoal". Thatcher dirigiu os Tories entre 1975 e 1990 e o país a partir de 1979.
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