Reino Unido escondeu a Bruxelas dados de 75 mil condenações de estrangeiros

Os dados de milhares de penas aplicadas a criminosos estrangeiros não foram comunicados às autoridades dos países de onde são os condenados. Londres ocultou a falha à União Europeia pelo receio de manchar a reputação do Reino Unido perante Bruxelas.
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As autoridades britânicas não partilharam os dados de 75 mil condenações aos países da União Europeia (UE) de onde são os criminosos. Um escândalo que o Reino Unido escondeu com receio de manchar a reputação perante Bruxelas, revela esta terça-feira o The Guardian.

Durante cinco anos não foi detetado um erro informático da polícia britânica, período durante o qual um em cada três alertas sobre criminosos - que podiam incluir assassinos e violadores - não foi enviado para os estados da União Europeia, escreve o jornal.

Conclui-se que os países da UE de onde são os condenados não foram informados dos crimes cometidos, das sentenças que foram decretadas pelos tribunais do Reino Unido aos seus cidadãos ou dos riscos que eles representavam para a sociedade.

Uma falha de informação que possibilitou que criminosos considerados perigosos, condenados no Reino Unido, pudessem viajar até aos seus países de origem sem que as autoridades nacionais fossem notificadas da sua presença.

De acordo com o The Guardian, quando o Ministério do Interior britânico detetou o erro resolveu escondê-lo de Bruxelas pelo impacto que teria e pelo receio de manchar a relação entre Londres e a UE.

O jornal teve acesso à ata da reunião da unidade da polícia britânica sobre registos criminais - a ACRO Criminal Record Office, responsável pela partilha internacional de informação policial -, realizada em maio passado na qual era referido que existia "um nervosismo do Ministério do Interior ao enviar as notificações desde 2012 devido ao impacto na reputação que isto poderia ter".

Numa reunião realizada no mês seguinte havia ainda "a incerteza" sobre se os registos criminais recebidos do Ministério do Interior iriam ser partilhados com os estados da UE, uma vez que "havia um risco reputacional para o Reino Unido".

Um porta-voz do Ministério do Interior afirmou ao jornal que o problema está a ser resolvido com a polícia "o mais rapidamente possível".

Este escândalo é revelado quando se aproxima a data para a saída do Reino Unido da UE - a 31 de janeiro - e as negociações que vão acontecer após o Brexit sobre a futura relação entre Londres e Bruxelas, nas quais vão ser discutidas os termos de cooperação ao nível da segurança e judicial.

Com a saída da União Europeia e após o fim do período de transição - em dezembro de 2020 -, o Reino Unido deixará de ser membro da Europol e a polícia e os serviços de segurança britânicos deixarão de ter acesso às bases de dados da UE.

Nas negociações pós-brexit, Londres pretende manter a troca de informações com a polícia britânica, bem como a cooperação policial e judicial com os estados-membros da UE. A revelação deste escândalo coloca, no entanto, em causa este objetivo do Reino Unido. É esse o entendimento da eurodeputada holandesa Sophia in't Veld, ouvida pelo The Guardian.

"Esta falha de não alertar as autoridades sobre criminosos e o encobrimento posterior lançam sérias dúvidas sobre o Reino Unido como um parceiro confiável", afirmou. "O objetivo da troca de informações é aumentar a segurança. Se um lado falha, os ganhos de segurança são zero e a cooperação não faz sentido. O governo do Reino Unido deve considerar com muito cuidado como pretende restaurar a confiança, tendo em vista que as negociações devem ser concluídas até o outono deste ano", sublinhou a eurodeputada.

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