Regresso das noites de festa ao Palácio de Queluz

A partir de hoje e até domingo, mais de 1500 atividades por todo o país assinalam as Jornadas Europeias do Património. O DN antecipa a visita noturna de amanhã a Queluz.
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Serão apenas 2800 pessoas que amanhã à noite, entre as 20.00 e a meia-noite, poderão participar na visita noturna ao Palácio Nacional de Queluz, uma iniciativa da Parques de Sintra - Monte da Lua, no âmbito das Jornadas Europeias do Património que esgotou as inscrições no mesmo dia em que foi anunciada. Antecipámos a noite de festa e, guiados por Joana, fomos à descoberta da residência de Verão que D. Pedro, que viria a ser o terceiro, fez construir a seu gosto.

Uma visita que começa pelos jardins, com paragem em frente à fachada de cerimónia, de novo pintada de azul como era originalmente, onde Joana apela à imaginação dos visitantes para o que seria a vivência da família real naquele espaço. "Pensem neste espaço iluminado com muitas velas, candeeiros, balões chineses, com tendas de panos esvoaçantes, gaiolas douradas que guardam tucanos ou araras, um jardim onde se ouve o rugido de um leão ou o som do carrossel a girar lá ao fundo". Está dado o mote para o ambiente festivo da residência de verão da família real, onde havia sempre mesas cheias de comida - onde o frango assado sobre uma cama de pão de ló, regado com uma calda de mel e canela era a iguaria mais requisitada. Festas que terminavam com fogo preso em forma de corações e estrelas e fogo de artifício que era avistado a quilómetros.

Toda uma vivência do palácio que a guia continua a colorir assim que se entra na Sala dos Embaixadores, também ela palco de grandes festas nas noites de verão que a família real, pintada no teto, parece seguir com atenção. Enquanto desfia pormenores da vida de quantos ali passaram verões - desde D. Pedro III a D. Manuel II -, Joana vai também acrescentando alguns episódios da História nacional. Como o facto de ter sido ali no Palácio que D. José informou D. Pedro que teria de casar com a sua sobrinha, a futura rainha D. Maria I, para garantir a independência do país que um outro casamento da princesa herdeira poderia colocar em risco. Ou episódios mais prosaicos como o relatado na Sala da Música, um espaço com uma arquitetura pensada precisamente para esse propósito, com paredes curvas e teto oval: D. Miguel ali terá entrado em certa ocasião, cantando uma área de D. Quixote, montado a cavalo e vestindo-se ao jeito da personagem de Cervantes. Mas também foi neste mesmo espaço que Farinelli (1705-1782), um dos mais populares e bem pagos cantores de ópera da Europa na sua época, cantou pela primeira vez em público.

A visita serve ainda para viajar no tempo e descobrir alguns usos e costumes do século XVIII ou XIX através de alguns dos objetos expostos. Por exemplo, no quarto da princesa Maria Francisca Benedita, Joana explica a razão de as camas serem tão pequenas: "Não dormiam deitados mas sim recostados, com muitas almofadas à volta. Estar deitado era a posição do morto e tinham medo dessa posição". Na agora Sala de Jantar, com a mesa posta a preceito, uma outra revelação: "na Europa, as salas de jantar só aparecem no século XIX. Daí a expressão pôr e tirar a mesa. Porque a mesa era, de facto, posta e tirada, num qualquer espaço das casas, para cada uma das refeições".

As histórias do palácio e da sua época sucedem-se ao ritmo das salas visitadas onde à noite os enormes candeeiros acesos iluminam todo o esplendor do espaço. Para quem não se encontra entre o grupo dos 2800 sortudos que amanhã poderão participar nesta visita, resta a consulta do programa das Jornadas Europeias do Património (patrimoniocultural.gov.pt) para descobrir outras experiências únicas acessíveis só nestes três dias.

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