"Regresso ao Circuito Mundial de sevens é a principal prioridade desportiva"

É já no dia 4 que terão lugar as eleições para a Federação Portuguesa de Rugby que põem frente-a-frente Carlos Amado da Silva e Lourenço Fernandes Thomaz. O DN colocou aos candidatos um conjunto de perguntas que pretendem esclarecer os projetos e rumos que desejam para o râguebi português nos próximos quatro anos.
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Depois de cumprir um mandato de cinco anos como presidente da FPR entre 2005 e 2010 que se seguiu a um período de cerca de 30 anos como presidente de Agronomia, nos quais elevou o clube da Tapada da Ajuda ao topo do râguebi nacional, Carlos Amado da Silva, 71 anos, volta a ser candidato a presidir aos destinos da FPR no quadriénio 2019/23, com o lema "Unir o râguebi rumo o futuro".

Que conjunto de medidas pensa implementar de imediato para tentar resolver a muito difícil situação financeira da FPR?

Tal como em 2010, tenciono recorrer a um empréstimo numa instituição financeira que, em princípio, deverá patrocinar as seleções nacionais. Iremos igualmente deslocalizar os serviços da FPR para o Jamor e efetuar o aluguer do imóvel da sede cuja renda ajudará a suportar o serviço da dívida do empréstimo a contrair.
Será ainda obrigatório fazer a redução da despesa adequando-a às disponibilidades e à real atividade da federação, captar novas receitas, nomeadamente com patrocínios de empresas nacionais e estrangeiras que acreditem na viabilidade do nosso programa e na credibilidade dos seus responsáveis. E por fim lançar novos projetos no âmbito da responsabilidade social, de modo a atrair mais financiamentos.

Que modelo competitivo defende para as competições internas, nomeadamente no que respeita à Divisão de Honra? Como será possível reduzir o habitual período de férias entre épocas para a maioria dos jogadores que, no râguebi português, chega a atingir os cinco meses?

A definição do modelo competitivo, tendo em conta os prazos regulamentares a respeitar, será, certa e obrigatoriamente, a primeira decisão da nova direção. O modelo que defendemos há muito passa por aumentar o número de clubes na Divisão de Honra para 12, mantendo os oito atuais aos quais se juntarão os quatro melhores classificados da Primeira Divisão. Ao contrário do que poderá parecer, há uma preocupação em aumentar a competitividade do campeonato o que passará, portanto, por uma primeira Fase de Apuramento seguida de uma Fase Final reunindo os Clubes mais fortes. A Fase de Apuramento contará com dois grupos de seis ou três grupos de quatro, que conduzirão a uma Fase Final com três grupos de quatro ou dois grupos de seis, respetivamente. É uma decisão extremamente importante que deverá merecer o apoio de uma grande maioria dos Clubes, sendo certo que o modelo definido permanecerá durante todo o mandato. Pensamos ainda recriar uma competição inter-regional desde os escalões jovens, com quarto seleções - Norte, Centro, Lisboa e Sul - com três jornadas, a disputar quando a seleção nacional jogar no exterior, em três cidades diferentes, desejavelmente, também em três diferentes regiões. Vamos criar também um Circuito Nacional de sevens com cinco etapas. Em termos de internacionais iremos tentar realizar um Torneio Ibérico e garantir a presença de uma equipa designada "Os Lusitanos" numa competição europeia de clubes. Estas medidas serão implementadas logo que as condições desportivas e financeiras o permitam.

Como será possível aumentar o apoio das Associações Regionais aos clubes? Vê utilidade na reativação das seleções regionais?

A resposta está implícita na anterior. Todavia, o desenvolvimento do râguebi nacional passará obrigatoriamente pela capacidade que tivermos de aumentar o número de clubes e de jogadores, fora da capital. Neste quadro, os apoios deverão contemplar projetos e/ou programas concretos apresentados pelas Associações/Comité Regionais ou clubes. É uma das prioridades da minha lista, virada claramente para a "democratização" e descentralização do râguebi, dando resposta aos anseios sempre manifestados por muitos, defendidos por todos, mas que não tem tido correspondência prática. Terá que ter agora! Teremos um grupo para apoiar a consolidação e desenvolvimento dos clubes de forma integrada, incluindo os aspetos organizativos, técnicos, comunicacionais e a sua interligação com a comunidade, autarquias e escolas. Um apoio efetivo, no terreno e no dia a dia, um plano de formação para todos os agentes, entrando em áreas inovadoras como a formação de dirigentes e voluntários, com os correspondentes documentos de apoio. Em resumo, queremos um forte aumento de praticantes, num quadro de diversidade geográfica e social de mão dada com clubes e Associações/Comité Regionais.

Partilha da opinião de que os "sevens" são o melhor meio de tornar o râguebi português mais conhecido internacionalmente? O que há a fazer para o regresso da nossa seleção às World Series? Haverá interesse em ter jogadores em exclusividade nos "sevens" via contratualização?

Sem dúvida! Lembro que foi com a minha anterior direção que Portugal se qualificou para o Circuito Mundial e aí se manteve até que, infelizmente, logo no ano seguinte, se viu despromovido. O regresso ao Circuito Mundial é a principal prioridade desportiva da minha lista. Infelizmente temos que recuar cinco anos e retomar a política seguida e, inadvertidamente, interrompida pela direção anterior. Vai ser muito difícil mas com o excelente conjunto de jogadores disponíveis particularmente vocacionados para esta variante, com um planeamento e uma preparação adequada, será possível o regresso ao Circuito Mundial, o que não sendo uma obsessão é, seguramente, uma prioridade que passará por uma boa classificação no Circuito Europeu, primeiro passo para a integração no" Percurso Olímpico" e posterior acesso ao grupo restrito de países que podem disputar o único lugar disponível num torneio que, anualmente, se realiza em Hong Kong. Neste quadro, é evidente que terá que haver um grupo de jogadores semiprofissionais na linha, de resto, do que estava a ser feito pela minha anterior direção.

Que planos tem para, à semelhança da maioria dos nossos principais adversários, poder atrair e sustentar a presença de jogadores elegíveis para representar Portugal, aumentando a competitividade e capacidades das nossas seleções?

Esse é um tema que me é particularmente caro. Também nesta matéria, depois da forma como foram tratados os nossos jogadores internacionais que jogam em clubes estrangeiros, particularmente em França, é preciso recuperar a confiança e a credibilidade, levianamente, perdidas. Há responsáveis por este estado de coisas e, certamente, não serão esses que terão as melhores condições para reverter esta situação. Tenho mantido sempre relações privilegiadas com alguns destes jogadores que estarão disponíveis e interessados em regressar, desde que confiem nos dirigentes e num projeto de imediato, curto e médio prazo, que deverá envolver pessoas e empresas, em Portugal e em França. Estou em condições de dizer que esta é uma das minhas primeiras tarefas e que já temos as pessoas certas para liderarem este processo.

Qual o seu projeto para a necessária melhoria da arbitragem? Como encara o recrutamento de árbitros (à semelhança da Bélgica, obrigando cada clube a dar um árbitro por equipa que participe num determinado escalão)? E advoga o intercâmbio com outras federações?

A melhoria da arbitragem é uma questão nacional, que não será resolúvel imediatamente mas que pede a qualquer direção responsável que crie as condições necessárias à verdadeira revolução a que é preciso proceder-se. Todavia, ninguém melhor do que os próprios árbitros poderão ajudar a encontrar os caminhos certos que possam conduzir ao sucesso. Foi com este princípio que, enquanto candidato, dirigi um convite a três das pessoas mais credenciadas na arbitragem nacional e que me ajudaram a perceber a situação e a encontrar soluções que penso serem, no momento, as mais adequadas. É importante a independência do Conselho de Arbitragem que deverá ter um orçamento próprio, cujas receitas hão de provir do valor da inscrição dos clubes e das equipas e que será integralmente avocado a esse fim. O financiamento não é, infelizmente, o único problema da arbitragem. Nem é sequer o principal. O recrutamento e, sobretudo, a fidelização e motivação dos jovens árbitros é, seguramente, o maior problema. Imposições regulamentares podem ajudar mas não resolvem, por si, a questão. Esta é transversal e obriga a uma conjugação criteriosa de ações e esforços que urge implementar. O intercâmbio com outras Federações é sempre importante em qualquer área, mas não será essa a solução para os nossos problemas. Podemos - e devemos - trocar experiências e aprender com os mais evoluídos, mas esse é um processo normal que não altera muito o quotidiano.

Quanto à disciplina, que medidas pretende incrementar para tornar mais eficaz o efetivo pagamento de multas?

Essa é uma medida que, no meu entender, não oferece qualquer dificuldade. Há que cumprir as decisões dos órgãos competentes que, todavia e no meu entender, face a inapropriada regulamentação vigente, muito dificulta a sua ação e os obriga a um cuidado redobrado nas suas decisões. É absolutamente urgente rever todo o quadro regulamentar.

Como vê a posição da FPR no seu relacionamento com a Rugby Europe e a World Rugby? Vamos lutar para ter de novo representantes nesses dois organismos?

Essa é outra das questões mais intrigantes e para a qual não encontro qualquer explicação! O prestígio conseguido ao longo de décadas foi deitado à rua sem que se perceba o objetivo. Lamentável. É preciso recuperar imediatamente algum do protagonismo que já tivemos mas que, como se sabe, para isso terão que contribuir os nosso resultados desportivos, que com a exceção, muito honrosa, das Seleções mais jovens, estão muito longe dos razoáveis, de nada valendo acenarmos com a atual posição do ranking da World Rugby, que pouco significa pois, por si, não nos conduzirá à segunda divisão europeia ou ao Circuito Mundial de sevens, que tanto nos credibilizou no passado recente...

Prevê mudanças na estrutura técnica da FPR? O Cargo de Diretor Técnico Nacional vai ser preenchido? Os selecionadores de quinze e "sevens" são para manter?

Essa questão será resolvida na altura própria, estando naturalmente condicionada aos resultados desportivos conseguidos e aos objetivos a prosseguir.

Qual é a sua posição quanto à necessidade da criação do cargo de CEO para a FPR?

No quadro atual não vejo qualquer necessidade ou justificação para a criação desse lugar, pelo menos por três ordens de razões: a) Qualquer instituição pública ou privada, com um orçamento de receitas da ordem do milhão de euros não necessitaria de um CEO para, na prática, se limitar a proceder a pagamentos salariais que consomem cerca de oitenta por cento das receitas; b) A presença permanente de um presidente executivo dispensa naturalmente a coexistência de um CEO; c) As dificuldades financeiras atuais também não aconselhariam a contratação de um quadro tão qualificado.

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