BCE anuncia subida da taxa de juro principal para 2%. É regresso a 2009
A taxa de juro principal do Banco Central Europeu (BCE), a das operações normais de refinanciamento usadas pelos bancos comerciais da zona euro, aumentou, como esperado, 0,75 pontos percentuais, para 2%, anunciou esta quinta-feira a instituição.
É um regresso aos níveis que vigoravam em janeiro de 2009, estava a Europa a recuperar da grande crise financeira de 2007/2008 e a caminho da grande crise das dívidas públicas.
A instituição sediada em Frankfurt anunciou que "o Conselho do BCE decidiu hoje [quinta-feira 27 de outubro] aumentar as três taxas de juro diretoras do BCE em 75 pontos base [0,75 pontos percentuais]".
"A taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito serão aumentadas para, respetivamente, 2%, 2,25% e 1,5%, com efeitos a partir de 2 de novembro de 2022", explica.
No entanto, o BCE sinaliza que as taxas ainda devem subir mais. Primeiro, porque considera que ainda não eliminou na totalidade a política acomodatícia (taxas baixas face ao nível de inflação).
Depois, porque considera que a inflação está "demasiado elevada". De facto, em setembro a inflação da zona euro atingiu um máximo de quase 10% (variação anual em setembro), o que é cinco vezes mais do que os 2% de inflação que o BCE persegue e tem como meta no seu programa político.
Em comunicado, o banco central dos 19 países do euro refere que "com este terceiro grande aumento consecutivo das taxas diretoras, o conselho do BCE avançou consideravelmente com a eliminação da acomodação da política monetária".
De facto, as taxas de juro estiveram em mínimos (0%) entre março de 2016 e julho de 2022, durante mais de seis anos, portanto. Desde julho o aperto foi de 2 pontos percentuais.
Nos Estados Unidos, a Reserva Federa está a ir ainda mais rápido. A taxa principal está atualmente num intervalo de 3% a 3,25%.
Além disso, o BCE diz que "espera continuar a aumentar as taxas de juro - para assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de 2% a médio prazo".
"O conselho do BCE baseará a trajetória futura das taxas de juro diretoras na evolução das perspetivas de inflação e económicas, seguindo a sua abordagem reunião a reunião.
"A inflação permanece demasiado elevada e continuará a ser superior ao objetivo do BCE durante um período prolongado", avisa ainda a instituição presidida por Christine Lagarde.
"Em setembro, a inflação na área do euro atingiu 9,9%. Nos últimos meses, a escalada dos preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares, os estrangulamentos da oferta e a recuperação pós‑pandemia da procura resultaram numa generalização das pressões sobre os preços e num aumento da inflação."
Com estas subidas vigorosas de taxas de juro, que esteve em 0% até meados deste ano, o BCE pretende travar a procura (consumo, investimento, exportações) de modo a que a inflação não se "enraíze" na zona euro, para que não persista durante muito tempo.
No entender do BCE, esse enraizamento da inflação alta seria ainda mais destrutivo do que uma recessão.
Assim, o banco central decidiu "reduzir o apoio à procura e prevenir o risco de uma persistente deslocação em sentido ascendente das expectativas de inflação".
As enormes quantidades de dívida pública e outros ativos -- como obrigações de grandes empresas, compradas ao abrigo dos programas de compras (APP e PEPP, o programa ativado por causa da pandemia) -- vão continuar a ser "reinvestidos", ou seja, o BCE não os vai despejar já nos mercados.
Em todo o caso, pode haver novidades sobre plano futuros nesse sentido na próxima reunião de dezembro, disse Lagarde na conferência de imprensa em Frankfurt.
Portanto, "o Conselho do BCE pretende continuar a reinvestir, na totalidade, os pagamentos de capital dos títulos que vão vencendo adquiridos no âmbito do programa de compra de ativos (asset purchase programme - APP) durante um período prolongado após a data em que começou a aumentar as taxas de juro diretoras do BCE".
Mas este reinvestimento só vai acontecer "enquanto for necessário para manter condições de liquidez amplas e uma orientação de política monetária apropriada".
Quanto ao programa de compra de ativos no âmbito da emergência pandémica (pandemic emergency purchase programme - PEPP), o BCE "tenciona reinvestir os pagamentos de capital dos títulos vincendos adquiridos no contexto do programa até, pelo menos, ao final de 2024. Portanto, aqui já há uma meta final. São mais dois anos de oxigénio, apenas.
"De qualquer forma, a futura descontinuação gradual da carteira do PEPP será gerida de modo a evitar interferências com a orientação de política monetária apropriada", garantiu Lagarde.
"O Conselho do BCE continuará a aplicar flexibilidade no reinvestimento dos reembolsos previstos no âmbito da carteira do PEPP, a fim de contrariar os riscos para o mecanismo de transmissão da política monetária relacionados com a pandemia."
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