Regime de Pinochet usava Julio Iglésias para torturar

Temas de autores como Julio Iglésias, Dalida ou George Harrison foram usados em sessões de tortura durante a ditadura de Augusto Pinochet no Chile, entre 1973 e 1990, de acordo com um estudo divulgado hoje, dia em que se assinala o 40.º aniversário do golpe que afastou do poder o presidente socialista Salvador Allende.
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Além de Julio Iglésias, Dalida e George Harrison, eram usados quaisquer temas em voga na época, como a banda sonora do filme 'Laranja Mecânica' - a particularidade é que eram passados com o volume no máximo, com a finalidade de quebrar psicologicamente os presos nas prisões do regime militar de Augusto Pinochet.

A revelação é feita por Katia Chornik no dia em que passam 40 anos sobre a data do golpe de 11 de setembro de 1973, com o ataque ao palácio presidencial de La Moneda, em que perdeu a vida o socialista Salvador Allende. De origem chilena, Katia Chornik recolheu dezenas de depoimentos de antigos presos no período da ditadura para o seu livro sobre "a banda sonora da tortura", intitulado 'Sounds of Memory: Music and Political Captivity in Pinochet's Chile', hoje apresentado.

Segundo testemunhos dos presos, os temas eram tocados vezes sem conta e no volume máximo. Uma das histórias recolhidas pela investigadora chilena, atualmente na Universidade de Manchester, revela que os guardas costumavam assobiar uma canção de Dalida, então na moda, 'Gigi l'Amoroso', enquanto levavam alguns presos para interrogatórios e que estes decorriam ao som do mesmo tema.

Mas a música não era só instrumento de tortura. Outros depoimentos referem que, em certas circunstâncias, os presos conseguiam ter consigo pequenos rádios a pilhas, onde ouviam, por exemplo, 'Without You', de Harry Nilsson, a 'Morning Has Broken', de Cat Stevens, a 'Alone Again (Naturally)', de Gilbert O'Sullivan.

Além disso, num campo de presos, o de Los Alamos, chegou a ser autorizada a criação de um coro. Segundo Chornik, isso sucedeu pouco antes de uma visita de uma delegação da comissão de direitos humanos da Organização dos Estados Americanos e o objetivo seria o de procurar dar uma "boa imagem" do campo.

Em certas circunstâncias, refere ainda a investigadora, as autoridades penitenciárias da ditadura autorizavam os presos a ter instrumentos consigo.

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