Refugiados, poder a nu e Fidel são temas premiados no World Press Cartoon
É uma imagem que não deixa ninguém indiferente: dentro de um aquário, como o Sea Life ou o Oceanário, famílias observam e filmam o naufrágio de um barco apinhado de refugiados como se fosse um tubarão a perseguir um cardume. E a prova de que mexe com as pessoas é que o trabalho do iraniano Alireza Pakdel foi distinguido com o primeiro prémio de cartoon editorial e com o grande prémio do World Press Cartoon, em cerimónia realizada ontem à noite no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha.
"É um tema que nos tem apoquentado ao longo dos últimos anos e que continua a apoquentar", comenta o diretor do salão, o cartoonista António. "É feito de uma forma excelente: está ali o voyeurismo ocidental, um certo laxismo ideológico... as pessoas estão num aquário a assistir a um espetáculo, mas infelizmente é um espetáculo onde morrem constantemente outras pessoas. É um bom símbolo da contradição entre o drama dos refugiados com os naufrágios que estão a acontecer agora", completa. Em segundo classificado na categoria ficou o grego Kountoris e em terceiro o francês Cost.
O cartoon foi também distinguido com o grande prémio, que resulta de uma votação entre os três primeiros prémios de cada categoria. "Este cartoon foi o que o júri decidiu eleger por unanimidade", informa o também jurado, a par do uruguaio Hermenegildo Sábat, do mexicano Angel Boligán, do sérvio radicado na Alemanha Zoran Petrovic e do escocês Ross Thomson.
Outros júris foram sensíveis ao traço de Alireza Pakdel: venceu o 43.º Salão Internacional de Humor de Piracicaba (considerado o maior do mundo), em São Paulo; e o prémio da cidade de Çankaya do 36.º Concurso Internacional de Cartoon Nasreddin Hodja (Turquia) - o primeiro prémio foi para Boligán, membro do júri do World Press Cartoon.
"A emergência de refugiados é uma questão global e todos os artistas deveriam dar atenção a esse problema", disse Pakdel ao site Opera Mundi após ter sido distinguido em Piracicaba. Na mesma entrevista conta que queria ser cartoonista desde criança para ajudar a mudar o mundo com a arte e o humor.
Na categoria de desenho de humor, a escolha recaiu no sérvio Toso Borkovic. Um homem que se dedica ao humor gráfico desde a década de 80 e que assina Toshow. "É um desenho que rompe com uma série de coisas, é o despir do poder. Há um edifício pomposo e uma cerimónia de representação do poder e ao mesmo tempo um incidente doméstico que, de alguma maneira, despe o poder de toda a mise en scène. É o contraste entre a vida interior do poder e a sua pose exterior", diz António Antunes. Completam o pódio Swen (Suíça) e Bonil (Equador).
Por fim, a caricatura escolhida foi a de Fidel Castro, pelo traço de Fernandes. "Além do caricaturado ter sido uma das personagens do ano, devido à sua morte, estamos perante um desenho com uma técnica fantástica e uma expressão magnífica. Apesar da técnica convencional, é de uma grande mestria". O trabalho do brasileiro Luiz Carlos Fernandes, que publica diariamente no jornal Diário do Grande ABC, ficou à frente do compatriota Baptistão e do italiano Gio.
O World Press Cartoon regressou após um ano de interregno e em novo poiso, nas Caldas da Rainha. À 12.ª edição concorreram mais de 500 imagens, entre caricaturas, cartoons e desenhos de humor, tendo sido selecionados 267, oriundos de 168 jornais e revistas de 51 países. "Há alguns premiados repetentes, mas o Alireza Pakdel e o Fernandes são estreias no World Press Cartoon. É tiro e queda, é competir e ganhar", afirma o colaborador do Expresso sobre o iraniano e o brasileiro.
A cerimónia do anúncio e da entrega de prémios do World Press Cartoon decorreu ontem à noite a meio de um espetáculo protagonizado pelo humor do belga Elliot e da portuguesa Maria Rueff. A Begin Big Band assegurou os momentos musicais.