Refugiados dos cibercafés: os novos sem-abrigo do Japão

O fenómeno começou a aparecer no final dos anos 90 do século passado, alimentado pela pobreza criada pelo aumento do trabalho precário e na sociedade japonesa.
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Fumiya tem 26 anos e trabalha como segurança. Quando sai do emprego vai para um cibercafé: é lá que tem jantado, dormido e tomado banho nos últimos dez meses. No fundo, é lá que vive. É um dos trabalhadores sem dinheiro para uma casa que se refugiam nos cibercafés japoneses, e um dos protagonistas do documentário Net Cafe Refugees, sobre os novos sem-abrigo do Japão.

O fenómeno dos "refugiados dos cibercafés" começou a aparecer no final dos anos 90 do século passado, alimentado pela pobreza criada pelo aumento do trabalho precário na sociedade japonesa. Em 2007 o governo estimava que cerca de mais de 60 mil pessoas passassem a noite em cibercafés. Destas, 5400 eram sem-abrigo, desempregados ou com trabalhos precários como Fumiya.

Os cibercafés também são usados para passar a noite por pessoas que trabalham na cidade e moram longe, quando perdem o último comboio, mas rapidamente começaram a ser uma solução para quem não consegue pagar uma renda. Os estabelecimentos estão abertos 24 horas por dia e até já começaram a servir comida e incluir casas de banho com chuveiros.

Fumiya paga 1,920 yen (15 euros) por dia para ficar no cibercafé, cerca de 714 euros por mês, o que sai mais barato do que uma renda, porque não tem de pagar mais despesas. Apesar de ganhar mais de 2700 euros, o jovem não consegue juntar dinheiro para ter um apartamento devido ao elevado valor do depósito que teria de avançar e às taxas das imobiliárias.

Segundo dados oficiais, em 2011 35,4% dos trabalhadores japoneses (17,3 milhões) tinham situações precárias - muitos ganhavam abaixo do limiar da pobreza. Além disso, os trabalhadores precários não têm perspetivas de evolução na carreira, o que faz com que a sua situação piore à medida que envelhecem.

O documentário de dez minutos foi realizado por Shiho Fukada, um fotojornalista japonês que já trabalhou em quase todos os continentes. Em 2010 Fukada ganhou um prémio para explorar o tema dos trabalhadores temporários, um projeto que acabou por levar a este e a outros dois documentários sobre os desafios do mundo do trabalho no Japão, patrocinados pelo Pulitzer Center on Crisis Reporting.

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