Reforma na formação e coletivo explicam esta Suíça
Quando Portugal foi derrotado em Basileia a 6 de agosto do ano passado (0-2), os elementos técnicos e jogadores da seleção nacional estavam longe de imaginar que, mesmo vencendo os oito jogos que faltavam até novo duelo com os helvéticos (amanhã, às 19.45, na Luz), ainda estariam atrás deles na fase de qualificação para o Mundial 2018 - Portugal precisa de vencer para estar na competição da Rússia. O selecionado de Vladimir Petkovic, 54 anos, é um dos dois que soma por vitórias todos os encontros disputados no apuramento para o Mundial 2018 - o outro é a Alemanha, que ontem deu por terminada a caminhada até à Rússia (com dez em dez) -, e já não é derrotado há dois anos. Desde o desaire em Wembley diante de Inglaterra (0-2), a 8 de setembro de 2015, ainda durante a qualificação para o Euro 2016, somou 12 triunfos e três empates. Um trajeto que tem reflexos no ranking da FIFA, no qual os suíços aparecem num invejável quarto lugar.
Se é verdade que nunca tinha dado um sinal de afirmação tão significativo no futebol sénior, a Suíça tem tido um (re)aparecimento em fases finais a fazer lembrar... Portugal. Depois de ter dado um ar da sua graça ao aparecer no Mundial 1994 e no Euro 1996, desde 2004 só falhou o Campeonato da Europa de 2012. "Houve uma grande mudança no futebol suíço há mais de uma década, com a reformulação do modelo de formação. Estes resultados recentes e o aparecimento de jogadores suíços nas principais ligas deve-se a esse trabalho. Alguns jogadores [Rodríguez, Granit Xhaka e Seferovic] foram campeões mundiais de sub-17 em 2009 e outros [Sommer, Fabian Frei, Shaqiri, Mehmedi e Gavranovic] foram finalistas do Europeu de sub-21 de 2011. São várias boas gerações juntas que dão um excelente plantel, recheado de opções", explicou ao DN o antigo internacional jovem português João Paiva, formado no Sporting, mas há nove anos na Suíça, onde terminou a carreira de futebolista no verão, passando a ser coordenador do futebol juvenil e treinador da equipa júnior do FC Dietikon, do cantão de Zurique.
"Em todos os escalões, há um modelo de liga fechada, de elite, sempre com as mesmas 12 ou 14 equipas, e todas as equipas mais pequenas alimentam a formação da equipa de elite da sua região. É um modelo que reencaminha logo os talentos para as melhores equipas. Depois investiu-se muito dinheiro nas seleções jovens e em metodologia de treino e houve uma mudança na mentalidade", acrescentou o ex--futebolista de 34 anos.
"Playoff já não serve para eles"
"A Suíça já não se vê como uma seleção pequena. Está sempre nos primeiros 15 do ranking mundial e agora até está nos top 5. Ir ao playoff já não serve para eles, que acreditam que podem bater Portugal e passar à fase final", garantiu João Paiva, que passou por Sporting B, Marítimo B, Sp. Espinho, pelos cipriotas Apollon Limassol e AEK Larnaca e pelos suíços Luzern, Grasshoppers, FC Wohlen, Winterthur e United Zürich.
O ex-avançado, campeão europeu sub-16 em 2000 e vencedor do Torneio de Toulon em 2003 - ao lado de nomes como Raul Meireles, Hugo Viana, Quaresma, Hugo Almeida, Cristiano Ronaldo e Danny -, lembra que "no Euro 2016, a Suíça teve um excelente desempenho e que só foi eliminada nas grandes penalidades [frente à Polónia, nos oitavos]", uma prova de que se está a falar de uma "seleção muito forte".
Uma seleção muito forte cuja principal qualidade reside no "coletivo". "Há nomes sonantes como Shaqiri ou Seferovic, mas o próprio Seferovic é um lutador e um batalhador, não tem a criatividade de um Cristiano Ronaldo, João Mário ou Bernardo Silva. Não há alguém que se destaque tanto em termos individuais. O Petkovic tem uma grande capacidade de gerir o grupo, é muito inteligente e consegue que os jogadores façam tudo em prol da equipa", analisou o antigo internacional sub-20 português, que ainda assim falou pormenorizadamente sobre aquelas que são, talvez, as três principais figuras dos helvéticos: Sommer, Shaqiri e Seferovic. "O Sommer foi o segundo melhor guardião do Euro 2016, é um grande guarda-redes, que faz a diferença e está entre os melhores do mundo. O Shaqiri é muito agressivo a atacar e a defender, e mudou nos últimos anos, passando a jogar em espaços mais interiores. E o Seferovic é muito lutador e vai tentar romper as linhas da defesa portuguesa com o suporte de Shaqiri e os outros médios", considerou.
Por outro lado, o centro da defesa foi destacado por João Paiva como o ponto mais débil dos lideres do grupo. "São fortes no jogo aéreo, mas não estão ao mesmo nível do resto da equipa. Não são muito velozes e têm uma leitura de jogo abaixo da dos outros jogadores", aconselhou o agora treinador.