Reflexos de Bellini fazem tremer adversários

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O guardião só há quatro anos é que voltou a jogar futebol 11

O nome dá ar de italiano, no entanto Marco Bellini é mesmo português de gema, nascido há 28 anos na laboriosa cidade de S. João da Madeira.

A alcunha foi-lhe dada por amigos do pai que "tem jeito" para falar a lingua tricolor. O filho, como tantos outros miúdos, cresceu aos pontapés na bola. Desde sempre, com maior apetência para defender a baliza.

Ainda chegou a treinar nos escalões jovens da Sanjoanense, sem, contudo, alguma vez ser chamado a jogos oficiais. "Aquilo era só para os chamados meninos bonitos", recorda. Verdadeiramente craque, já nessa altura, era Ricardo Sousa, o criativo médio ex-FC Porto que anda agora a jogar pela Alemanha, ao lado de quem alinhou na comunhão solene.

Bellini não fez vida da bola. Participou de quando em vez em torneios de futsal e só há quatro anos voltou a entrar num campo de futebol de 11 desafiado por dois amigos jogadores do modesto Palmaz, actual "lanterna vermelha" na zona norte da III Divisão Distrital da Associação de Futebol de Aveiro.

A equipa do concelho de Oliveira de Azeméis estava a precisar de um guarda-redes. Após dois treinos, inscreveram-no como federado. Desde então, só falhou três jogos.

Esta época, Bellini tem sido a figura do Palmaz ao revelar um talento especial para defender grandes penalidades. Já leva oito na contabilidade pessoal. Cinco dos quais logo no primeiro jogo oficial, para a Taça de Aveiro, frente ao Rocas do Vouga. Um penalti durante os 90 minutos e os restantes no desempate por grandes penalidades valeram a passagem à eliminatória seguinte. "Nunca mais vou esquecer esse dia", diz orgulhoso do feito.

O Palmaz, a mais amadora das equipas dos distritais de Aveiro, onde não há prémios de jogo e são os atletas que levam o equipamento para lavar em casa, soma apenas quatro pontos no campeonato. Apesar dos 18 golos sofridos, Bellini garantiu a única vitória, na segunda jornada, no terreno do Santiais, por 0-1, ao defender um penálti.

Na partida seguinte, frente aos Amigos do Visconde, não houve golos também muito por culpa do guarda-redes do Palmaz que defendeu a sua sétima grande penalidade.

Repetiria a graça mais uma vez, no outro domingo, em Alvarenga, mas sem impedir a derrota (2-0). Nesse jogo, o árbitro marcou ainda um segundo penálti, mas a bola caprichosamente bateu no poste e entrou. "Tive azar", conta Bellini a rir.

Segredo, aparentemente, não há para esta apetência natural para defender castigos máximos. "É intuição, instinto. Olho sempre para a bola e para o adversário. E acontece defender. São os reflexos", explica este encarregado de armazém que "sonha dar um saltinho" para outra equipa onde possa ter melhores condições "para ser colocado à prova". Os olheiros, consta, já o seguem, mas até hoje nenhuma proposta concreta surgiu. A fama chegou aos adversários e alguns "tremem" na hora de marcar a grande penalidade.

Os defesas do Palmaz já numa outra ocasião fazem penálti a contar que o guarda-redes "evite o pior". Adeptos de equipas adversárias desafiam-no para marcarem penáltis no aquecimento. Nos treinos, um companheiro foi obrigado a dar oito voltas ao campo por ter falhado quatro vezes. A meta é defender 10 grandes penalidades esta época, sendo que a equipa luta por chegar ao fim sem ser última classificada.

Casado e à espera de um filho em Maio, Bellini lamenta ter chegado tarde ao futebol, mas espera jogar mais dez anos. Benfiquista, tem no belga Michel Preud'homme o seu maior ídolo. Diz que "é parecido" com Ricardo porque também "é melhor entre os postes".

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