Redução de emissões pressiona custo das casas

Fitch alerta que o compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2050 exige elevados investimentos ao setor.
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A redução das emissões de carbono no setor da construção e imobiliário vai elevar os custos da habitação nos próximos 30 anos. As empresas irão ficar cada vez mais pressionadas conforme se vai aproximando o ano de 2050, a meta definida pela Comissão Europeia para os Estados-membros atingirem a neutralidade carbónica, concluiu um estudo da agência de rating Fitch.

É que a diminuição da pegada ambiental desta atividade, que responde por cerca de 30% das emissões globais de carbono e por 40% do consumo de energia, está a obrigar as empresas a encontrar novos métodos construtivos, materiais mais amigos do ambiente e uma maior eficiência energética. Mais de 10% das emissões são provenientes do fabrico de materiais até agora essenciais ao setor, como o aço e o cimento, que tenderão a ser substituídos por produtos neutros em carbono. E tudo tem o seu preço.

Para a Fitch, que pela primeira vez se debruçou sobre o impacto das diretivas para a neutralidade carbónica no setor da construção e imobiliário, esta transição vai refletir-se num agravamento do volume de investimentos necessário ao desenvolvimento dos projetos. "As empresas que operam na área residencial estão sob pressão mais direta dos reguladores para absorver os custos adicionais da transição", alerta no documento.

A agência aponta que as políticas governamentais de acesso a habitação a preços acessíveis e de incremento de oferta nos mercados para dar resposta à elevada procura criam uma maior pressão para os promotores incorporarem esses custos. A somar, lembra que os governos estão empenhados em que a transição seja feita de uma forma justa para os cidadãos. Neste contexto, as construtoras irão enfrentar "custos significativos" com os aumentos dos orçamentos na construção e reabilitação de edifícios habitacionais para responder à exigência de redução das emissões, sublinha o documento que analisa a vulnerabilidade aos riscos relacionados com o clima no setor.

O controlo da subida das temperaturas já está a exigir aos promotores a incorporação de materiais e equipamentos para uma maior eficiência energética dos edifícios, como melhores isolamentos, luminárias e eletrodomésticos de baixo consumo, sistemas de aquecimento e de refrigeração mais amigos do ambiente, pontos de carregamento de veículos elétricos, entre outros requisitos. A Fitch lembra ainda que a fase de projeto e construção pode sofrer mudanças significativas com a introdução de exigências para a salvaguarda dos empreendimentos a fenómenos climatéricos extremos.

No caso da União Europeia, os programas de eficiência energética apontam para "um nível muito elevado de custos e longos prazos para o retorno dos investimentos", adianta o estudo. Mas, ainda assim, o relatório apresenta uma tónica de otimismo, considerando que o segmento habitacional será resiliente, tendo em conta que a procura por casas a nível global deverá permanecer sólida.

Já o segmento comercial (escritórios, retalho, logística e industrial) está menos exposto aos riscos das exigências da construção sustentável. Segundo a Fitch, isso deve-se principalmente ao facto de serem os arrendatários desses espaços a assumir os compromissos para a neutralidade carbónica, ou seja, a responsabilizarem-se pelos investimentos necessários. E, destaca a agência, esses inquilinos valorizam mais as certificações de construção sustentável e eficiência energética, do que os clientes residenciais. Nas suas contas, é mesmo de esperar que o cidadão não esteja disposto a pagar um prémio por uma habitação amiga do ambiente, mas que exija um desconto para comprar uma casa com poucos critérios ecológicos.

jornalista do Dinheiro Vivo

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