Recursos humanos na saúde são um enorme problema
Maria de Belém Roseira foi Ministra da Saúde há mais de vinte anos, numa época em que o Serviço Nacional de Saúde já se debatia com problemas estruturais que se mantêm até ao dia de hoje. Ainda assim, na última década, a ex-governante reconhece que foram introduzidas algumas mudanças muito importantes, tais como o apoio da digitalização, das novas tecnologias, e novas formas de organização de cuidados, "apesar dos travões ao desenvolvimento e à reorganização e transformação da prestação de cuidados, que requerem sempre estabilidade e capacidade de auscultação e realização", aponta.
Contudo, há um "velho" problema que se mantém e que, na opinião de Maria de Belém, é, neste momento, o problema mais complexo para o Ministério da Saúde. A questão dos recursos humanos que, acredita, "exige um trabalho em variadíssimas vertentes". Por um lado, os recursos humanos na saúde demoram muito tempo a formar e, por outro, o setor público não é suficientemente atrativo para reter os melhores talentos, que escolhem trabalhar no privado ou, até, noutros países que garantem melhores condições de trabalho e de remuneração. "Ficamos com um défice muito grande de profissionais, nomeadamente, em especialidades como a medicina geral e familiar, mas também outras especialidades do âmbito hospitalar, e com desequilíbrios que é urgente reparar", refere a ex-ministra. A solução passa por, na sua opinião, desenvolver uma política específica para os recursos humanos completamente diferente daquela que é a gestão tradicional da administração pública. "Sempre fui muito sensível a isso, e optei sempre por fazer experiências inovadoras nestes domínios, quer nos cuidados de saúde primários, quer a nível da gestão hospitalar", recorda.
Exemplo disso são os projetos alfa, que deram origem às unidades de saúde familiar e aos centros de responsabilidade integrados. "Mas depois ninguém agarrou naquilo para disseminar e continuar", aponta, reforçando que é indispensável garantir essas abordagens pois a questão dos recursos humanos é central, também para que possam atuar mais ao nível de prevenção. "Vimos a falta que nos fez, com a pandemia, uma rede de saúde pública forte e estruturada no terreno, e essas áreas são muito trabalhadas pela saúde pública".
Reduzir a carga de doença, através da prevenção, exige também, na perspetiva de Maria de Belém Roseira, uma articulação de cuidados que coloque as pessoas no centro. "O que deve acontecer sempre, pois é esse o objetivo do Serviço Nacional de Saúde e de um sistema de saúde, em que as pessoas sejam o alfa e o ómega do seu desenvolvimento", conclui.