Não é absurdo afirmar que há muito que não nos sentíamos tão desafiados como nos últimos tempos. Eu, pelo menos, tenho essa sensação. Acredito que a aprovação do Orçamento Suplementar e a elaboração do Plano de Estabilização Económica e Social marcam o começo da recuperação efetiva deste enorme desafio. A pandemia trouxe uma avalanche a que tivemos de reagir de forma preparada e imediata e em modo urgente. Esse processo (ainda em curso) trouxe um stress inevitável às instituições, ao sistema e sobretudo às organizações da primeira linha de resposta à covid-19..Este stress não teve uma expressão meramente institucional. A urgência associada à pandemia predispôs-nos, por necessidade, a desvalorizar questões do foro afetivo, anímico e até psíquico. Estas questões adensaram-se agora quer a nível individual, quer a nível familiar, quer a nível social. Nota-se até naquilo a que nos habituámos a chamar "pequenas coisas". Desde logo a obrigatoriedade de redefinir a nossa conceção de afeto e de proximidade. A recomendação de não nos cumprimentarmos com o célebre "beijinho" português, o passou-bem e o abraço não trará grande trauma. Sobretudo para quem não acolha o toque como expressão de afeto ou cortesia. Mas o afastamento dos familiares, a separação de filhos e pais e de avós e netos ou o isolamento dos idosos, pode trazê-lo. Ou até a solidão daqueles que simplesmente não têm tanta gente assim..Os novos problemas que a crise sanitária trouxe evidenciaram os velhos. As exigências profiláticas e o confinamento perturbaram não só a nossa economia e o nosso estado de espírito, implicaram também uma perturbação na capacidade de resposta do sistema a situações problemáticas como a exclusão, a depressão, a violência doméstica, o desemprego, o crime, a pobreza, o abandono escolar, os comportamentos aditivos e as dependências como forma de alheamento pelo prazer e pela satisfação do impulso. O contexto epidémico e pandémico que vivemos exponencia também as fragilidades sistémicas da nossa resposta social..O lado positivo é que podemos transformar este facto numa oportunidade para identificar essas mesmas fragilidades e aprender. É certo que ainda não dispomos de dados que permitam delinear "curvas", "planaltos" ou até "fases" ou "picos" nesta matéria. Mas há pelo menos um dado irrefutável - corremos o risco de um surto e de uma "tempestade perfeita" em termos sociais. Com a recusa da austeridade, aprendemos que qualquer plano de estabilização, para ser verdadeiramente estruturante, tem de ter matriz social. Estamos agora na reestruturação, a fase em que mantemos aquilo de bom que aprendemos com o mal. A solidariedade é a palavra de ordem..Deputada do PS
Não é absurdo afirmar que há muito que não nos sentíamos tão desafiados como nos últimos tempos. Eu, pelo menos, tenho essa sensação. Acredito que a aprovação do Orçamento Suplementar e a elaboração do Plano de Estabilização Económica e Social marcam o começo da recuperação efetiva deste enorme desafio. A pandemia trouxe uma avalanche a que tivemos de reagir de forma preparada e imediata e em modo urgente. Esse processo (ainda em curso) trouxe um stress inevitável às instituições, ao sistema e sobretudo às organizações da primeira linha de resposta à covid-19..Este stress não teve uma expressão meramente institucional. A urgência associada à pandemia predispôs-nos, por necessidade, a desvalorizar questões do foro afetivo, anímico e até psíquico. Estas questões adensaram-se agora quer a nível individual, quer a nível familiar, quer a nível social. Nota-se até naquilo a que nos habituámos a chamar "pequenas coisas". Desde logo a obrigatoriedade de redefinir a nossa conceção de afeto e de proximidade. A recomendação de não nos cumprimentarmos com o célebre "beijinho" português, o passou-bem e o abraço não trará grande trauma. Sobretudo para quem não acolha o toque como expressão de afeto ou cortesia. Mas o afastamento dos familiares, a separação de filhos e pais e de avós e netos ou o isolamento dos idosos, pode trazê-lo. Ou até a solidão daqueles que simplesmente não têm tanta gente assim..Os novos problemas que a crise sanitária trouxe evidenciaram os velhos. As exigências profiláticas e o confinamento perturbaram não só a nossa economia e o nosso estado de espírito, implicaram também uma perturbação na capacidade de resposta do sistema a situações problemáticas como a exclusão, a depressão, a violência doméstica, o desemprego, o crime, a pobreza, o abandono escolar, os comportamentos aditivos e as dependências como forma de alheamento pelo prazer e pela satisfação do impulso. O contexto epidémico e pandémico que vivemos exponencia também as fragilidades sistémicas da nossa resposta social..O lado positivo é que podemos transformar este facto numa oportunidade para identificar essas mesmas fragilidades e aprender. É certo que ainda não dispomos de dados que permitam delinear "curvas", "planaltos" ou até "fases" ou "picos" nesta matéria. Mas há pelo menos um dado irrefutável - corremos o risco de um surto e de uma "tempestade perfeita" em termos sociais. Com a recusa da austeridade, aprendemos que qualquer plano de estabilização, para ser verdadeiramente estruturante, tem de ter matriz social. Estamos agora na reestruturação, a fase em que mantemos aquilo de bom que aprendemos com o mal. A solidariedade é a palavra de ordem..Deputada do PS