Recondicionados chegam a cada vez mais gamas de produtos
A economia circular, um sistema de produção e de consumo que promove o uso sustentável dos recursos, chegou para ficar e capta cada vez mais adeptos. O lixo eletrónico ultrapassou os 53 milhões de toneladas em 2021 e é o tipo de lixo que mais cresce no mundo, segundo um recente estudo do Programa Ambiental da ONU, sendo que apenas 15% a 20% é reciclado. Entre os que são reaproveitados, o mercado dos recondicionados - usados que passam pelos fabricantes, são avaliados e são trocadas peças de desgaste, com garantia de seminovo - conquista terreno, sobretudo em equipamentos como smartphones, computadores portáteis e tablets.
Segundo dados recentemente divulgados pela IDC, em 2022 foram comercializados mais de 282 milhões de smartphones usados e recondicionados, mercado este que atingirá em 2026 os 415 milhões, num valor total de 93,6 mil milhões de euros. Este representa um crescimento de cerca de 10% ao ano.
Mas desengane-se se pensa que apenas este tipo de equipamentos pode ter uma segunda vida. Os automóveis, grandes equipamentos que em fim de ciclo são entregues para abate e dos quais muito pouco é reaproveitado e reinserido na produção, criando também um problema ambiental, são produtos que estão agora a entrar neste segmento da economia circular. Para isso, a Renault foi pioneira, ao abrir a primeira fábrica de recondicionamento automóvel, a Renault Re-factory, em Flins, no Norte de França. Anunciou, entretanto, a abertura de uma nova unidade em Sevilha e, segundo Hugo Barbosa, diretor de Comunicação da marca em Portugal, está a ser estudada a instalação de mais unidades nos países onde a Renault tem produção. Quanto à instalação de uma Re-factory também em Portugal, na unidade em Cacia, tudo está em aberto.
Segundo este responsável, a criação de uma linha mais eficiente de recondicionamento automóvel - a fábrica de Sevilha estima vir a recondicionar cerca de 10 mil unidades ao ano, entre elétricos e motores a combustão - vai permitir que os veículos regressem ao mercado em apenas nove dias, contra os habituais 35 dias, em média, no circuito fora da fábrica. Ou seja, um automóvel em leasing que é devolvido à marca, num processo normal seria entregue num concessionário, iria para outro local e seriam feitas reparações num circuito externo habitual. Com a Re-factory, detentora de uma equipa multidisciplinar, resolvem-se rapidamente todas as peritagens, passando depois pelas estações necessárias ao recondicionamento.
"Como o processo é todo ele mais eficiente e económico, permite uma poupança no preço final do automóvel quando é recolocado no mercado. O processo é de tal forma eficiente que o automóvel entra numa câmara de 360 graus, um estúdio de fotografia, e automaticamente as fotografias são tiradas e colocadas online para disponibilizar imediatamente o veículo na rede de venda", explica Hugo Barbosa. Esta ação da Renault insere-se numa estratégia global para alcançar a neutralidade carbónica, que deverá acontecer em 2040, e ter ainda maior participação no ciclo de vida do automóvel. "A indústria automóvel tem-se reinventado e esta é uma forma de reduzir o consumismo. Isto também vai permitir ter mais rapidamente de volta ao mercado automóveis eficientes e mais seguros e assim ajudar a renovar o parque, que em Portugal tem uma média de 14 anos", refere o diretor da marca.
Também a Seat anunciou a sua intenção de fazer o mesmo tipo de fábrica para os seus automóveis, mas, contactada, a empresa não quis prestar declarações sobre o assunto.
A Delta é uma das marcas que, assente numa estratégia de sustentabilidade de todo o grupo Nabeiro, vai começar a disponibilizar máquinas de café recondicionadas já a partir do segundo trimestre deste ano. Segundo Mónica Oliveira, diretora de Marketing e Comunicação da marca, "o recondicionamento é feito internamente, pela assistência técnica do grupo Nabeiro e por equipas especializadas, para dar uma nova vida a estes equipamentos". A mesma responsável afirma que o grupo Nabeiro, liderado por Rui Miguel Nabeiro, está comprometido com práticas empresariais ambientalmente sustentáveis, investindo no desenvolvimento de novas tecnologias e trabalhando continuamente para reduzir o impacto ambiental das suas operações e ofertas. "Pretendemos continuar com um papel ativo na construção de valor para a sociedade, contribuindo para a adoção de comportamentos mais responsáveis, acrescentando simultaneamente valor aos vários momentos de consumo e de partilha proporcionados pelo café", explica, acrescentando que esperam que com esta iniciativa consigam contribuir para estimular hábitos de consumo mais sustentáveis. As máquinas serão disponibilizadas para compra online.