Reclusos convidados para 'Aceitar o Nada'

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Algumas dezenas de reclusos do estabelecimento prisional de Santa Cruz do Bispo gozaram ontem uma tarde diferente. O teatro foi a "outra forma de estar" que a autarquia matosinhense escolheu para um convite que pretendeu ser "um alento" para tempos futuros, nas palavras do presidente da câmara, Guilherme Pinto.

Aceitar o Nada, da autoria de Rui Damas e com encenação de Luísa Pinto, peça com música à mistura, fala de mulheres que se destacaram no seu tempo, mas cujas vidas forma marcadas pelo tormento. Sarah Bernhardt, Frida Kahlo, Florbela Espanca, Isadora Duncan, Edith Piaf e Marlene Dietrich foram encarnadas pela apresentadora Sónia Araújo e as actrizes Micaela Cardoso e Fatucha Overacting, tendo como única presença masculina o actor João Cabral.

Por muito diferentes, "todas as mulheres são iguais em direitos", ouve-se a dada altura do espectáculo. Sílvia Duarte tem 30 anos, é reclusa há quatro anos por tráfico de droga e tem outros cinco ainda por cumprir, gostou da peça "porque retrata bem a mulher". Para estas mulheres e homens foi uma tarde invulgar. "Muitas vezes sentimos que estamos à parte do mundo, esquecidos, e esta é uma forma de esquecer um bocadinho o nosso dia-a-dia, que é complicado", acrescentou Sílvia.

Desculpas aos homens presentes, porque a peça é sobre "elas", o que não deixou de estabelecer pontes entre as mulheres da plateia e as encarnadas no palco, embora oriundas de mundos tão diferentes. "Estas mulheres lutaram, tentaram algo e é o que nós também fazemos neste momento: dar a volta por cima. Elas às vezes também erraram, como nós errámos.

"Espero que, rapidamente, vocês possam vir todos os dias aos espectáculos", desejou o autarca Guilherme Pinto, no final daquela que foi a primeira saída do género para os reclusos de Santa Cruz do Bispo.

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