Recessão em 2021?

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A queda é histórica. A riqueza produzida em Portugal, em 2020, encolheu 7,6% devido à pandemia, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). É uma contração inédita desde que vivemos em democracia: "A mais intensa da atual série das Contas Nacionais", ou seja, a pior desde 1977. Há duas formas de olhar para este número que se traduz, na realidade, em destruição de negócios e empregos. A conhecida imagem do copo meio cheio ou meio vazio poderá aplicar-se. Por um lado, o trambolhão da economia é histórico e pode ser pior no início de 2021. Por outro, a economia reanimou em final de 2020 e há esperança de recuperação, em especial na segunda metade do presente ano, se os fundos europeus forem eficazmente aplicados e se o país souber resolver problemas estruturais que são bloqueios ao crescimento.

O copo está meio vazio quando a economia cai 7,6%, ou seja, quando desapareceram 15,4 mil milhões de euros em 2020, depois de um crescimento de 2,2%, em 2019. É verdade que a contração do produto interno bruto (PIB) fica abaixo do previsto por FMI (-10%), Comissão Europeia (-9.3%), Ministério das Finanças (8,5%) e Banco de Portugal (-8.1%). Mas uma queda de 7, 8, 9 ou 10% do PIB é sinónimo de destruição de riqueza e de postos de trabalho, e é cerca do dobro da recessão de 2012 (-4%), no período da troika.

O INE explica que a procura interna caiu "devido, sobretudo, à contração do consumo privado" e das exportações, com o turismo à cabeça, numa "diminuição sem precedente". Mercados relevantes para as exportações nacionais travaram a fundo: o PIB caiu 11% em Espanha, 8,3% em França e 5,3% na Alemanha, no ano passado.

Pode ser pior este ano? Infelizmente, sim, devido ao efeito da pandemia e medidas de confinamento, neste primeiro trimestre, no encerramento de empresas (com especial incidência na hotelaria e restauração), quebra do consumo e da procura interna, cancelamento de exportações, aumento de falências e insolvências e do crédito malparado, o que provocará pressão sobre as contas do Estado e da banca, apesar da almofada das moratórias. O limite atual para o pagamento é setembro, e aí teremos uma "bomba-relógio". Por isso, os apelos para alargar os prazos.

O copo está meio cheio quando o PIB cresce 0,4% no quarto trimestre, em cadeia. Isto deve-se a alguma melhoria da procura interna e das exportações. A queda foi de 0,7% na média da zona euro e os EUA cresceram 1% (em cadeia), sinais de esperança que não devem ser ignorados pelos agentes económicos. É verdade que apoios do Estado, crédito e moratórias têm ajudado empresas e famílias a aguentar à tona de água, mas não se sabe por quanto tempo. Há sinais ténues de esperança e temos de sobreviver a este inverno, mas o governo terá de resolver problemas estruturais de competitividade do país para que o dinheiro de Bruxelas (a chamada bazuca) não tenha o mesmo destino que tiveram algumas vacinas. E é imperioso travar a derrapagem do défice e da dívida pública. Este é tempo de rigor e de seriedade.

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