Receitas da Web Summit vão ser quatro vezes superiores ao investimento
Lisboa vai ser a casa da Web Summit por mais dez anos. Depois de uma disputa com outras cidades europeias, como Madrid, a capital portuguesa conseguiu assegurar a realização do evento de empreendedorismo e tecnologia até 2028. Para isso, vão ser investidos anualmente 11 milhões de euros a partir de 2019 até ao final do contrato - num total de 110 milhões de euros -, saídos dos cofres da autarquia, bem como do IAPMEI, do Turismo de Portugal e do AICEP. Este valor supera os 1,3 milhões de euros pagos pelo país para as edições de 2016-2017-2018.
O primeiro-ministro, António Costa, tinha já admitido que no ano passado o país tinha arrecadado cerca de 30 milhões de euros em receita fiscal direta com o evento. Mas Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia, em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo, admite que este valor pode crescer daqui para a frente, acompanhando a expansão da própria cimeira. "Estimamos que nos próximos anos, com o crescimento do evento para mais de 100 mil pessoas - que é essa a projeção que a própria Web Summit faz -, vamos ter uma receita fiscal acima dos 45 milhões", admite.
O dinheiro que entra para os cofres públicos não é a única razão pela qual "é importante apoiar este evento". Caldeira Cabral sustenta que a Web Summit "tem tido um impacto fantástico em Portugal", estando a "ajudar à transformação do país". Este evento tem um "impacto na imagem do país e no estímulo ao empreendedorismo. Mas também tem ajudado a trazer investimentos para Portugal. Além disso, estes grandes eventos geram uma receita imediata".
A concorrência para ficar com o evento a partir de 2019 era feroz. Em Espanha, por exemplo, as autoridades estariam disponíveis para dar um apoio financeiro robusto para assegurar a transferência da conferência. "O nosso envelope financeiro não era tão generoso como o de outros países. Mas este evento não vem só atrás do envelope financeiro." Caldeira Cabral defende que Portugal tinha "uma vantagem muito grande", que passa pelo bom relacionamento mantido ao longo dos últimos anos com a organização. "Temos cumprido e temos ido muito além do cumprimento daquilo a que nos comprometemos", exemplifica.
Mas as contrapartidas não ficaram por aqui. Para que a Web Summit fique em Portugal, houve também um compromisso no sentido de permitir que o evento tenha mais espaço. Por isso, o presidente da autarquia lisboeta, Fernando Medina, assumiu que a FIL vai expandir para o dobro a sua área de exposição. "Num primeiro momento vamos crescer com soluções provisórias e, depois, com soluções definitivas, procurando incorporar aqui respostas que fazem falta à cidade de Lisboa, que é um novo equipamento que nos permita receber grandes congressos." O autarca não avançou com valores para investimento, mas acrescentou que uma das opções em cima da mesa para já passa pela "ligação dos núcleos que estão separados dentro da FIL". "Precisamos de ir além disso, pensando na Praça Sony, no espaço que está entre a atual entrada da FIL e a Altice Arena."
O ministro da Economia não se quis pronunciar muito sobre esta questão, dizendo apenas que o projeto está ainda em discussão. "Neste momento, a única coisa que sabemos é que vai ser preciso expandir, mas era algo que, mesmo sem a Web Summit, eventualmente deveria ser considerado."
O acordo assinado entre o governo português, a autarquia e Paddy Cosgrave, o CEO da Web Summit, tem ainda uma cláusula que prevê o pagamento de uma indemnização a Portugal de 340 milhões de euros por ano - num total de 3,4 mil milhões em dez anos -, caso a organização decida deslocalizar a cimeira. "A cláusula de rescisão tem que ver com o valor que aporta ao país. Foi o cálculo que foi feito pela própria Web Summit do valor que traz à economia portuguesa. É uma cláusula que garante que estão cá e se alguma outra cidade quiser vir buscá-los pelo menos durante este período de dez anos terá de pagar um montante muito elevado."