Cravinho diz rebelião da Wagner evidencia "fragmentação do poder" na Rússia

O ministro João Gomes Cravinho admite que potencial reforço do "papel profundamente nocivo" da Wagner em África "é preocupante".
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O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, afirmou esta quarta-feira que, apesar da "falta de clareza" sobre os acontecimentos, já é possível afirmar que "não há coesão" na Rússia, depois da rebelião do grupo paramilitar Wagner.

"É evidente que não há coesão, é evidente que é uma situação de alguma fragmentação do poder. É o mínimo que se pode dizer, mas não sabemos exatamente em que termos", salientou o ministro, considerando que o episódio não deve ser vir como elemento de distração e que a União Europeia deve manter-se focada no essencial.

"O fundamental é continuar a apoiar a Ucrânia", defendeu, admitindo que, por agora, "não há uma visão perfeitamente clara daquilo que se passou na Rússia".

"Talvez demore algum tempo, mas isso não nos deve distrair do essencial. E o essencial é continuar o forte apoio militar, o forte apoio político à Ucrânia para que seja no final deste processo a Ucrânia a determinar quais são os termos da paz e não o agressor", defendeu.

Enquanto aguarda por "mais clareza" sobre os acontecimentos do fim de semana, o ministro admite a preocupação perante o potencial reforço das operações militares do grupo Wagner em África.

"É preocupante sempre que qualquer sítio onde a Wagner esteja é fonte de preocupação e se reforçar a sua presença em África, isso é algo que deve ter também uma resposta da parte da União Europeia em termos de maior apoio a esses países para que não tenham de depender da Wagner", sublinhou, lembrando que "a Wagner desempenha um papel profundamente nocivo em vários países, a República Centro Africana, Mali, Burkina Faso, entre outros".

Na manhã desta quarta-feira, Cravinho tinha criticado a atuação de Vladimir Putin, que acusou de "semear ventos", como são exemplos a guerra na Ucrânia ou a criação do próprio grupo paramilitar privado Wagner. E, "quem semeia ventos, colhe tempestades".

"O presidente Putin tem estado a semear ventos, fê-lo ao promover um exército privado, mercenário, que se revelou capaz de desafiar as próprias forças armadas russas. Fê-lo também ao invadir de forma ilegal a Ucrânia", afirmou João Gomes Cravinho.

Também à entrada para a reunião, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, considerou que os acontecimentos do fim de semana são prova de fragilidade do sistema político.

"O monstro está a agir contra o seu criador, o sistema político está a mostrar fragilidades e o poder militar está a ceder. Esta é uma consequência relevante da guerra na Ucrânia. E a conclusão mais importante é que a guerra lançada por Putin e o monstro que Putin criou com o grupo Wagner, o monstro está a mordê-lo agora", afirmou, sugerindo preocupação com o facto de a Rússia ser uma potência com arsenal atómico.

"Toda a gente está a par do que está a acontecer na Rússia. É importante compreender que isto está a afetar o poder militar russo e o seu sistema político. E certamente não é bom ver que uma potência nuclear como a Rússia possa entrar numa fase de instabilidade política", afirmou Borrell, considerando também que a rebelião na Rússia coloca a guerra na Ucrânia, numa fase crucial.

"É mais importante do que nunca continuar a apoiar a Ucrânia, porque o que aconteceu durante este fim de semana mostra que o vento contra a Ucrânia está a quebrar o poder russo e a afetar o seu sistema político", sublinhou o chefe da diplomacia europeia.

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