Rebeldia do Invisível. 69 espaços icónicos da Lisboa e Almada vão ter porta aberta

11.ª edição Open House Lisboa chega com a Rebeldia do Invisível e dá acesso a espaços públicos e privados, entre 14 e 15 de maio, que na maior parte das vezes não podem ser visitados. Todas as visitas são gratuitas.
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Com o marco dos 10 anos, o Open House Lisboa regressa em 2022, mas este ano mais cedo do que o habitual. Nos dias 14 e 15 de maio o evento apresenta 69 espaços em Lisboa e Almada, dos quais 40 são estreias. Seja por visita guiada ou de forma livre, todas as opções são gratuitas e permitem conhecer por dentro alguns dos espaços mais icónicos da cidade habitualmente fechados ao público.

A 11.ª edição, intitulada de Rebeldia Invisível (o projeto é uma parceria da Trienal de Lisboa com a EGEAC e conta com o apoio das autarquias da capital e da cidade da margem sul do Tejo), tem a curadoria dos arquitetos Sofia Couto e Sérgio Antunes, que quiseram demonstrar a dualidade entre a intervenção feita no interior e exterior dos edifícios.

"A ideia é explorar um pouco a relação que existe entre os exteriores de Lisboa, que são os exteriores contínuos e não damos por eles, e os interiores que são sítios onde os arquitetos dão asas à imaginação e são muitas vezes mais rebeldes. É por isso que a edição se chama Rebeldia do Interior, porque os edifícios não se vêem a partir de fora", afirmou Sérgio Antunes ao DN, durante a visita de imprensa.

Entre os 69 espaços existentes é possível encontrar edifícios de diversas tipologias, escalas e origens. Desde lugares que realçam as diferenças entre o exterior e o interior, intercalando o moderno e o clássico; outros edifícios que têm um balanço das duas vertentes como o Hotel Verride; algumas casas privadas e edifícios de famílias abastadas que mantêm no interior alguns objetos da sua origem.

"São dois dias para 69 espaços. Noutros anos sentimos por parte do público algumas críticas, mas no sentido de que o programa é tão bom que dois dias não chegam para ver tudo", disse a coordenadora do Open House Lisboa, Carolina Vicente.

Nas cidades existem padrões arquitetónicos que tem um traço distintivo e que as tornam locais automaticamente reconhecíveis, sem sequer precisarmos de as visitar. Contudo, para os dois curadores (que trabalham em dupla no ateliê Aurora Arquitectos), em Lisboa esses padrões vão mudando cada vez que alguém executa um projeto novo.

"Interessava-nos olhar e ir à procura dessa Lisboa por detrás destas fachadas. Uma coisa que verificámos é que há uma tentativa de preservação dos bairros. Isto faz-se através da manutenção de fachadas mas os seus interiores já não correspondem a essas fachadas, é interessante ver isso", disse Sérgio Antunes. É precisamente isso que os visitantes terão oportunidade: olhar para o que fica para lá da fachada, inacessível ao olhar de quem passa na rua.
As visitas são gratuitas e são possíveis em três formatos diferentes: livres (o visitante escolhe os lugares), acompanhadas por especialistas ou por um voluntário. Os curadores, no entanto, aconselham que a escolha dos lugares a visitar seja diversificada. "Ou seja, não fazer só apartamentos, não fazer só edifícios públicos. Portanto diversificar para tentar transmitir esta ideia diversidade", referiu Sérgio Antunes. A lista de locais que se podem visitar está disponível em trienaldelisboa.com.

O atual edifício do Tribunal Constitucional já foi um local de residência para a família Ratton. Agora nas salas daquele palácio são tomadas decisões para a vida dos cidadãos e para literacia jurídica. Este é um dos locais que vai ser possível visitar durante o fim de semana do Open House Lisboa. "Abrir as portas do tribunal é, no fundo, dar a conhecer às pessoas o trabalho que se faz e como é que se faz. Como é que os seus juízes se decidem. Como é que são tomadas as decisões e o tipo de formalidades que tem. E mostrar o próprio espaço, para as pessoas o sentirem um bocadinho como seu", explicou Bárbara Churro, chefe do Gabinete do Presidente do Tribunal Constitucional. Nas paredes encontram-se expostos retratos a óleo e fotografias de grupo das gerações de presidentes e juízes juntamente com um quadro da família Ratton. Está disponível para visita a sala do plenário, a biblioteca e o jardim.

Uma casa de quatro pisos, pensada para três crianças e situada num bairro de habitação pouco conhecido, na Rua das Adelas, no Príncipe Real, também faz parte deste Open House. Trata-se de um edifício contemporâneo que contrasta com as casas vizinhas. Os azulejos tradicionais são colocados a 45 graus ao longo da fachada. No interior, o chão, teto e paredes são brancos, apelando à modernidade. O local ainda está em remodelação mas é possível visitar todos os pisos e até o terraço. "Usamos o azulejo também como uma tradição portuguesa não fugindo disso e reinventamos esse modo de fazer os edifícios. O nosso ateliê tem uma componente importante em azulejaria e tem muita intervenção no espaço público. Convergir estes dois mundos é para nós muito importante", explicou a arquiteta Catarina Almada Negreiros, responsável pela remodelação da casa.

Num terceiro local mostrado na visita de imprensa, na Rua de Santa Catarina, funciona desde 2009 um hotel de luxo, o Verride, que já foi também o palácio do Conde de Verride e propriedade da Caixa Geral de Depósitos. O banco fez bastantes obras, introduzindo estruturas de betão. De momento, decorre um projeto para recuperação do palácio. Por exemplo, conseguiu-se recuperar as escadas curvas feitas pelo conde.


Nesta 11.ª edição, há ainda um passeio sonoro que está disponível no SoundCloud ou no Spotify do Open House. Este vai do Cais do Sodré até ao Rossio e leva-nos a viajar por Lisboa através do som. Estão também disponíveis visitas júnior e visitas pensadas para pessoas cegas ou com baixa visão, bem como um percurso com linguagem gestual.

mariana.goncalves@dn.pt

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